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FGV: Brasileiro quer Estado forte, mas menos impostos

Segundo pesquisador, isso pode indicar uma tendência ao centro nas próximas eleições; entenda

Protesto contra impostos: brasileiro não quer abrir mão de proteção estatal, mas também não quer alta de impostos (Marcos Oliveira/Agência Senado)

Talita Abrantes

Publicado em 10 de outubro de 2017 às 11h20.

Última atualização em 10 de outubro de 2017 às 11h20.

São Paulo – Diante dos efeitos da pior recessão da história do país, o brasileiro admite que a condição de vida piorou nos últimos tempos, mas não está disposto  a apoiar medidas que limitem o poder do Estado em nome de uma solução para a crise econômica tampouco aceita um aumento da carga tributária.

É o que mostra pesquisa da Diretoria de Análise de Políticas Públicas (DAPP) da Fundação Getúlio Vargas (FGV) divulgada nesta segunda-feira (9).

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No total, 40,8% dos entrevistados afirmaram que a crise econômica só seria resolvida com uma maior interferência do Estado na economia. Para 60% deles, a redução da desigualdade de renda é responsabilidade do governo.

Segundo a pesquisa, 58,6% apoiam total ou parcialmente programas como o Bolsa Família e 20,8% discordam que essas políticas de transferência de renda são boas para o país.

Por outro lado, os brasileiros que não querem abrir mão da proteção do Estado também não estão dispostos a colocar a mão no bolso para garantir isso: quase 80% dos entrevistados não concordam com o aumento dos impostos .

De acordo com Amaro Grassi, um dos coordenadores do estudo, essas duas ideias sinalizam que, em 2018, os eleitores podem acabar optando por saídas mais ao centro.

"As pessoas vão buscar uma agenda de convergência, que preveja uma reforma da ação estatal sem abrir mão das conquistas sociais obtidas desde a Constituição", afirma Grassi.

Quando questionados sobre medidas econômicas que devem balizar o debate eleitoral no ano que vem, os entrevistados se mostraram divididos: 35% deles afirmaram ser favoráveis a uma Reforma da Previdência e 27,8% são contrários.

Diante da possibilidade do governo ter controle apenas das áreas de segurança pública, saúde e educação, enquanto as demais ficam sob responsabilidade do setor privado: 41,9% discordam total ou parcialmente e 40,4% concordam total ou parcialmente com a ideia.

Que retomada?

O estudo mostra também que a maior parte dos brasileiros ainda não percebeu, na própria casa, os sinais que apontam para uma retomada da economia. Para a maior parte dos entrevistados, o quadro de desemprego, inflação e juros aumentou nos últimos 12 meses e cerca 64% deles discordam que o pior da crise econômica já passou.

Para 63,9%, a inflação piorou no último ano (a taxa é de 70,7% entre os jovens).  73,6% afirmam que o desemprego aumentou — e, novamente, a percepção é pior entre os jovens, com 78,6%, e entre quem tem nível superior, faixa em que quase 80% dos entrevistados vê uma piora na oferta de emprego nos últimos 12 meses.

Descrédito e renovação

A pesquisa da FGV endossa a percepção de uma profunda desconfiança do eleitorado com relação à classe política. 83% dos entrevistados não confiam no presidente da República enquanto 78% também olham com ressalvas para partidos e políticos em geral.

Cerca de 55% dos entrevistados afirmam que não votariam novamente no mesmo candidato em que votaram nas últimas eleições para presidente. Outros 30% admitem que pretendem votar em algum candidato que não faz parte da política tradicional e 29%, em branco ou nulo.

Além disso, 73% dos participantes do estudo  consideram que os protestos de rua são importantes como meio para pressionar os políticos, mas mais da metade não pretende aderir a tais manifestações.

Embora aparentemente contraditórios, a pesquisa afirma que esses dados apontam para o fortalecimento das redes sociais como espaço de debate público. "As redes sociais têm sido um ambiente importante, no qual o brasileiro não só se informa sobre questões políticas, mas é também a partir delas que a classe política é pressionada a promover mudanças", diz o estudo.

Tanto pessimismo com a atual conjuntura não ofusca, no entanto, o otimismo do brasileiro com o futuro: mais da metade dos entrevistados acredita que, nos próximos cinco anos, a vida vai melhorar no país. Ao mesmo tempo, a maior parte deles aposta que é por meio do voto que a transformação que o Brasil precisa virá.

Isso significa, segundo o estudo, que as eleições de 2018 já se consolidam no imaginário brasileiro como a mais importante desde 2002 já que pode resolver o impasse gerado da "extrema polarização" que aflige o país desde 2014. A pesquisa mostra que a expectativa do eleitorado é por uma renovação. Só o tempo dirá se isso vai se concretizar.

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