Bebês: testes foram feitos a partir da análise de líquido amniótico de dois bebês de Campina Grande (Guillermo Legaria/AFP)
Da Redação
Publicado em 17 de novembro de 2015 às 06h23.
Brasília - Resultados preliminares de exames feitos em dois fetos com microcefalia trazem fortes indícios de que houve infecção por zika vírus, apurou o Estado.
Os testes foram feitos a partir da análise de líquido amniótico de dois bebês de Campina Grande.
O material foi coletado pela neuropediatra Adriana Melo, que vem acompanhando desde o início do surto casos de paciente com a malformação.
A análise foi feita no Laboratório da Fiocruz, do Rio.
A confirmação do resultado é aguardada para esta terça-feira, quando o Ministério da Saúde deve apresentar números atualizados do surto. Até sexta-feira, haviam sido contabilizados pelo menos 250 casos da doença nos Estados de Pernambuco, Sergipe, Rio Grande do Norte, Paraíba e Piauí
Questionado sobre a análise da Fiocruz, o Ministério da Saúde não confirmou a informação. Afirmou em nota não haver análises finalizadas e que qualquer conclusão neste momento é precipitada.
"Todas as hipóteses serão minuciosamente avaliadas para não se incorrer em erro", informou a pasta. Para alguns especialistas ouvidos pelo Estado, seria necessário a avaliação de um número maior de exames para poder fazer com segurança uma conexão entre a infecção do zika vírus e o aumento de casos de microcefalia.
Dois exames em meio a um grande número de pacientes não seriam suficientes.
O aumento de microcefalia nos Estados do Nordeste começou a ser notado em agosto.
Em Pernambuco, o número de nascimentos contabilizados este ano é 15 vezes maior do que a média anual registrada no período 2010-2014.
Exames preliminares feitos nas gestantes e nos bebês não indicou, até agora, uma forte relação entre a microcefalia e infecções que tradicionalmente provocam esse tipo de malformação, como toxoplasmose, citomegalovírus. Pesquisadores começaram a levantar a hipótese de relação com o zika vírus diante dos relatos das gestantes.
Boa parte delas informou ter apresentado febre baixa, coceiras e vermelhidão (sintomas clássicos de zika) nos primeiros meses de gravidez. Tais manifestações ocorreram justamente no período em que Estados do Nordeste enfrentavam epidemia por zika vírus - um arbovírus, transmitido pela picada do mesmo vetor da dengue, o Aedes aegypti.
Mostras de sangue das gestantes e dos bebês com microcefalia - um malformação até agora rara, que pode levar à deficiência mental, crises de epilepsia, problemas de coordenação, audição e visão - tentam identificar as causas da doença.
Até agora, a maior dificuldade dos pesquisadores era encontrar traços de algum agente infeccioso que poderia ter levado à malformação. Isso porque o contato com vírus teria ocorrido há vários meses.
Os exames realizados buscam identificar fragmentos do DNA do vírus, um exame trabalhoso.