Brasil

Famílias disputam alimentos em áreas isoladas na serra

Helicópteros do Exército precisam lançar mantimentos e remédios em locais sem condições de pouso. Ainda há vilarejos sem qualquer comunicação

Exército terá de restabelecer os acessos às localidades da região serrana do Rio de Janeiro (Valter Campanato/AGÊNCIA BRASIL)

Exército terá de restabelecer os acessos às localidades da região serrana do Rio de Janeiro (Valter Campanato/AGÊNCIA BRASIL)

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Da Redação

Publicado em 19 de janeiro de 2011 às 22h07.

Nas áreas da região serrana ainda sem acesso por terra, os sobreviventes travam uma batalha quando os helicópteros das forças de segurança aterrissam. Isolados e sem alimentos, os moradores correm para pegar os mantimentos doados. Em alguns casos, o terreno não permite que a aeronave pouse e, então, a comida e os remédios são jogados a cerca de 10 metros do solo.

Nesse momento, o instinto de cada um é pela sobrevivência, e o que se vê é disputa e confusão na hora de distribuir o que vai garantir a sobrevivência das famílias por alguns dias.

Na manhã desta quarta-feira, um dos seis helicópteros da base aérea improvisada do Exército, no Comary, em Teresópolis, saiu com duas missões. Uma delas era resgatar policiais militares que estavam em Santa Rita – um dos bairros mais afetados pela chuva – e assegurar que todas as pessoas recebessem os mantimentos de forma igualitária.

O helicóptero pousou na localidade para buscar o grupo de PMs por volta de meio-dia. A reportagem do site de VEJA acompanhou, de outra aeronave do Exército, o trabalho arriscado dos militares. Os policiais, no entanto, já haviam sido resgatados por outro grupo.

O voo partiu às 11h30 da base com o primeiro objetivo de levar suprimentos à cidade de Sumidouro. Do alto, os cinco minutos iniciais são de paisagens intactas, compostas por montanhas cobertas de árvores e o verde exuberante da Mata Atlântica. Momentos depois, os deslizamentos lembram que a região serrana não é mais a mesma. A aeronave pairou, às 11h45, sem condições de aterrissar no local, pois o vale não oferece condições seguras para a permanência no solo. A solução foi lançar um guincho elétrico. Pelo equipamento, desceu um militar socorrista, identificado pelo capacete laranja, para aferir a pressão dos moradores do local, que está isolado desde o dia 12.

Na região rural que já teve ar bucólico – agora transformada em um lugar inóspito – apareceram não mais que 10 moradores para receber os mantimentos. De longe, observa-se que há muitas casas distantes uma das outras, algumas sem comunicação entre elas. Esse é, no momento, um dos problemas das operações aéreas. Para distribuir serviços, mantimentos e remédios, são necessários dezenas de voos em algumas horas, pousando de vilarejo em vilarejo.

Além da ajuda humanitária, os militares precisam mapear as áreas, identificar as necessidades mais urgentes e, em alguns casos, trazer ir até elas, ver o que estão precisando e depois voltar aos lugares com o que é necessário. Foi o caso dessa pequena cidade de Sumidouro. O mesmo helicóptero que havia sobrevoado a vila, pousou na base aérea às 9h30, abasteceu, esperou chegar as doações, encheu de donativos e levou de volta duas horas depois.

Dentro do helicóptero, no caminho de volta ao Comary, não dava para perceber o que era estrada e o que era rio. Tudo agora é uma grande massa barrenta, que acabou com o verde e trouxe o vermelho à serra. Casas luxuosas sucumbiram da mesma forma que os casebres. O helicóptero pousou às12h30, com pressa para fazer novo voo.

Áreas ainda isoladas

O comandante do primeiro batalhão de aviação do Exército, tenente-coronel Silva Junior, que chefia o apoio aéreo na região serrana, reafirma o que é visto com facilidade de cima. “Ainda há locais isolados. Ontem, identificamos uma grande área em Sumidouro com 200 famílias que não tinham recebido nada.” Diante da gravidade, ele afirma: “É um trabalho que ainda não tem perspectiva de terminar”.

Na base aérea trabalham 35 militares, das 7h às 20h – horário limite para as condições de voo. Dos seis helicópteros que ajudam a garantir a chegada de suprimentos aos moradores de áreas sem acesso por terra, dois eram utilizados até pouco tempo no Complexo do Alemão. Eram os que estavam mais próximos da região serrana, que precisava das aeronaves com urgência. Uma aeronave ainda fica de plantão no conjunto de favelas.

Para permitir o transporte de maiores quantidades de alimentos, a blindagem dos helicópteros foi retirada – assim ganha-se uma capacidade de carga de cerca de 300 quilos, peso do material que protege de disparos. Dos pilotos que estavam no Alemão, cinco também foram deslocados para Teresópolis, restando ainda 10 na favela. “Se houver qualquer problema na favela, estamos no Alemão em 20 minutos”, alerta Silva Junior.
 

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