Fachin põe sob sigilo áudios interceptados após delação da JBS
A decisão do ministro do STF vale para dois CDs que "não contêm apenas os diálogos referidos nos relatórios a que foram elas anexadas"
Estadão Conteúdo
Publicado em 24 de maio de 2017 às 18h14.
Brasília - Após a divulgação de áudios de conversas interceptadas que não têm relação com os supostos crimes investigados com base nas delações da JBS, o ministro Edson Fachin , do Supremo Tribunal Federal, decidiu impor sigilo a áudios interceptados pela Polícia Federal em investigação baseada nas delações da JBS.
A decisão vale para dois CDs que "não contêm apenas os diálogos referidos nos relatórios a que foram elas anexadas".
"Determino o desentranhamento, com a juntada em procedimento autônomo que tramitará sob segredo de justiça", decidiu Fachin. A decisão do ministro alcança também eventuais áudios relativos à investigação que estejam no meio destes dois CDs que foram separados dos autos e agora passarão a tramitar em sigilo.
Os áudios captados pela PF foram disponibilizados na íntegra para cópia no prédio do Supremo Tribunal Federal na sexta-feira, 19. Repórteres e advogados fizeram cópias.
Descobriu-se, depois, que não apenas as conversas referentes às investigações foram copiados, como também aquelas que não traziam qualquer fato suspeito. No meio do volume completo, havia conversas de jornalistas.
A publicação, pelo site BuzzFeed, de um diálogo do jornalista Reinaldo Azevedo com Andrea Neves, irmã de Aécio Neves e fonte do jornalista, alarmou a imprensa diante da quebra do sigilo da fonte - que só é autorizada quando há relação direta com a investigação.
Iniciou-se uma discussão sobre de onde teria vindo a quebra do sigilo da fonte. Procurado pela reportagem, o gabinete do ministro Edson Fachin não quis comentar.
Críticas
Decano do Supremo Tribunal Federal (STF), o ministro Celso de Mello defendeu nesta quarta-feira, 24, que o sigilo da fonte é uma garantia constitucional.
"A minha posição é que o sigilo da fonte representa uma garantia de ordem constitucional titularizada por qualquer profissional de imprensa. É um direito básico, de caráter constitucional, absolutamente indevassável", disse.
Na terça, o ministro Gilmar Mendes já havia criticado a divulgação da conversa. "A lei que regulamenta as interceptações telefônicas é clara ao vedar o uso de gravação que não esteja relacionada com o objeto da investigação. É uma irresponsabilidade não se cumprir a legislação em vigor. O episódio envolvendo o jornalista Reinaldo Azevedo enche-nos de vergonha, é um ataque à liberdade de imprensa e ao direito constitucional de sigilo da fonte", afirmou.
O diálogo foi publicado nesta terça-feira pelo site BuzzFeed. Segundo a reportagem, a conversa entre Azevedo e a irmã de Aécio ocorreu no dia 13 de abril, logo após a abertura dos conteúdos da delação da Odebrecht.
Azevedo anunciou ontem sua demissão da revista Veja onde era colunista e afirmou que dar publicidade a "esse tipo de conversa é só uma maneira de intimidar jornalistas".