Experimentar é chave para a revolução verde em São Paulo
São Paulo - As cidades estão no cerne dos grandes problemas urbanos. E quem melhor que elas, palcos da vida cotidiana, para resolvê-los? No processo de desenvolvimento, a sustentabilidade é um pilar importante. Mas concretizá-lo exige um grande pacto social e, principalmnte, liberdade para experimentar. Falando assim, parece simples. Mas quanto mais complexa for uma […]
Vanessa Barbosa
Publicado em 5 de novembro de 2014 às 11h52.
São Paulo - As cidades estão no cerne dos grandes problemas urbanos. E quem melhor que elas, palcos da vida cotidiana, para resolvê-los? No processo de desenvolvimento, a sustentabilidade é um pilar importante.
Mas concretizá-lo exige um grande pacto social e, principalmnte, liberdade para experimentar. Falando assim, parece simples. Mas quanto mais complexa for uma sociedade, maior será o desafio. São Paulo é exemplo.
"Não podemos olhar a cidade por fragmentos, mas como um grande ecossistema urbano, que demanda visão holística. Para crescer de forma sustentável, precisamos enfrentar politicas que deem conta da totalidade e diversidade dos territórios, agentes privados, públicos e população", afirmou Fernando de Mello Franco, secretário de desenvolvimento urbano de SP, durante o EXAME Fórum Sustentabilidade , que acontece nesta quarta-feira, em São Paulo.
Segundo Mello Franco, o novo Plano Diretor vai ao encontro dessa visão. "Ele direciona o crescimento da cidade não mais pelo paradigma rodoviarista, mas pelo desenvolvimento do transporte publico. É uma política de contenção, que privilegia uma cidade mais compacta, cuja estrutura de projetos de expansão é articulada entre vários setores, não apenas pela lógica imobiliária".
Apesar de enxergar pontos positivos nas novas regras que orientam como construir e utilizar o espaço urbano, Marcos Lisboa, economista e vice-presidente do Insper, critica a "lei muito detalhada", que engessa a possibilidade de inovação.
"Tem muita regra, muita complexidade. Isso é da nossa tradição legislativa, ela é autoritária, deixa as cidades experimentarem muito pouco", pontuou. Ele citou como exemplo de sucesso de reinvenção a experiência de Nova York nos últimos 20 anos.
"Nova York passou por uma revitalização incrível porque experimentou seus espaços. Deu certo, mantém, deu errado, esquece", disse, destacando que a cidade é um organismo vivo, que se transforma com o tempo. Nesse sentido, a regulação excessiva acabaria por prejudicar e não ajudar.
O potencial de reinvenção da capital paulista é monstruoso. De acordo com Philip Yang, fundador do Instituto Urbem, entre as cidades globais, SP é a que tem os maiores estoques de áreas locais subutilizadas.
Para ele, o novo Plano Diretor oferece uma visão ampliada e mais integrada do tecido urbano. Mas há obstáculos para implementá-lo.
"É preciso baixar o nível de desconfiança entre os grandes atores, academia, setor privado, Ongs e população. A simplificação passa por um modelo de governança que não temos aqui", acrescentou.
Essa união, segundo o especialista, é fundamental para termos uma cidade mais sustentável, "com menos muros, mais calçadas largas e ativas, praças e áreas de convivência múltipla". É este, segundo ele, o caminho para forjar cidades melhores e "livres do apartheid social que gera ressentimentos".
Nova York é um exemplo de adaptação e resiliência. Depois de ser atingida pelo furacão Sandy em 2013, a cidade apresentou este ano um plano para aumentar sua resistência contra eventos climáticos severos. São iniciativas que vão proteger ainda mais o litoral, bem como fortalecer os edifícios da cidade e todos os sistemas vitais que sustentam seu funcionamento, como as redes de energia e de telecomunicações, sistemas de transporte, saúde, água e suprimentos alimentares. A capacidade de criar um plano tão abrangente - e, em seguida, botá-lo em prática – faz de Nova York um exemplo para outras grandes metrópoles.
Apesar de ter uma população urbana crescente e espaço físico limitado, Singapura é uma das cidades menos congestionadas do mundo. Não por acaso, o sistema de transporte inteligente de Cingapura é o vencedor da categoria de infraestrutura. Para atender a essas demandas, a cidade tem maximizado a capacidade de sua rede rodoviária, usando ferramentas políticas e tecnológicas. A cidade é extremamente bem servida de transporte coletivo, que controla a oferta de ônibus e metrô conforme a demanda. Outros elementos incluem um sistema de monitoramento que alerta os motoristas para os acidentes de trânsito em estradas principais, e um sistema de GPS, instalado em táxis da cidade, que monitora e informa sobre as condições de tráfego. Todas as informações são geradas a partir do Centro de Operações da cidade, que consolida os dados e fornece informações de trânsito em tempo real para o público.
O vencedor na categoria qualidade do ar é uma cidade que tem enfrentado este desafio por décadas. Em 1992, a Organização das Nações Unidas considerou a Cidade do México a mais poluída do planeta. Graças a uma série de planos abrangentes – parte da iniciativa Proar - ao longo das duas últimas décadas, a cidade tem registrado reduções no nível de poluição e fumaça. Como parte do seu programa, a cidade investe no sistema BRT, metrô e no programa de compartilhamento de bicicletas Ecobici. Não há nenhuma solução rápida quando se trata de qualidade do ar, mas a Cidade do México mostrou que os anos de determinação e uma abordagem abrangente podem fazer uma enorme diferença.
Em 2025, Copenhague pretende tornar-se a primeira capital carbono neutra do mundo. Para atingir essa meta ousada, a Câmara Municipal da cidade aprovou um vasto conjunto de iniciativas que devem levar à redução do nível atual de emissões, de cerca de 2,5 milhões de toneladas, para menos de 1,2 milhões de toneladas em menos de duas décadas. O plano tem quatro frentes de trabalho: consumo de energia, produção de energia, mobilidade e administração da cidade. Considerada um paraíso mundial para os ciclistas, o que Copenhague ensina é que a chave para o sucesso é uma estreita cooperação entre governo, empresas, instituições de conhecimento e cidadãos.