"Exílio e ameaças": imprensa estrangeira repercute decisão de Jean Wyllys
O jornal francês Libération destacou que "ameaçado de morte, o único deputado brasileiro abertamente gay deixa a política e se exila"
Clara Cerioni
Publicado em 25 de janeiro de 2019 às 11h26.
São Paulo — A decisão repentina de Jean Wyllys de deixar o Brasil e não assumir seu terceiro mandato como deputado federal pelo PSOL, devido às ameças que vem recebendo, foi descrita pela imprensa internacional como uma situação de violência e de exílio.
Primeiro parlamentar a defender abertamente a bandeira dos LGBT, anunciou nesta quinta-feira (24) que se "dedicará à vida acadêmica".
O jornal francêsLibération escreve em sua manchete: "Ameaçado de morte, o único deputado brasileiro abertamente gay deixa a política e se exila".
A publicação descreve que Wyllys era oposição do presidente Jair Bolsonaro e relembra que ele vivia sob escolta desde o assassinato de Marielle Franco.
"Oponente do presidente Jair Bolsonaro, em quem cuspiu no dia da destituição de Dilma Rousseff, em 2016, após ouvir dele declarações homofóbicas, Wyllys vivia sob escolta policial depois do assassinato, em março, de sua colega no PSOL Marielle Franco, ela também ativista negra e bissexual", escreve.
O New York Times destaca a frase de Wyllys de que ele "precisa se manter vivo" e afirma que seguidores do presidente Bolsonaro reagiram com "comentários homofóbicos" ao anúncio .
No texto, o jornal americano escreve: "Logo após a publicação da entrevista de Wyllys, Bolsonaro, que esteve em Davos, na Suíça, para o Fórum Econômico Mundial, twittou 'Great day!' E um emoticon de polegar para cima".
A emissora francesa LCI lembra que depois da vitória de Bolsonaro, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos pediu que o Brasil tomasse as medidas necessárias para proteger os direitos, a vida e a integridade de Wyllys e sua família.
O El País da Espanha também cita a recomendação da Comissão Interamericana de Direitos Humanos. "As ameaças que Wyllys sofreu nos últimos tempos levaram a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) a solicitar ao governo brasileiro medidas para proteger sua vida e investigar as ameaças", diz o texto.
O jornal britânico DailyMail relembra que o "novo presidente e ex-capitão do Exército tem menosprezado gays e mulheres".
A publicação recupera um documentário da BBC de 2013, "Out There", quando Bolsonaro disse que "nenhum pai se orgulha de ter um filho gay" e que "nós brasileiros não gostamos de homossexuais".
"Ele é um opositor vocal do casamento entre pessoas do mesmo sexo, bem como outras políticas socialmente liberais, incluindo o aborto e o secularismo, e tem menosprezado as mulheres e as minorias", diz o DailyMail.