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Exército e Marinha ignoram recomendação do Ibama sobre itens de proteção

Substância é considerada tóxica e tem crescido o número de relatos de náuseas, dor de cabeça, alergias e outras reações após terem contato com o petróleo

Limpeza do óleo: próprio site da Marinha traz dezenas de imagens de atividades de remoção de óleo em que seus oficiais aparecem de bermuda e regata (Marinha do Brasil/Divulgação)

Limpeza do óleo: próprio site da Marinha traz dezenas de imagens de atividades de remoção de óleo em que seus oficiais aparecem de bermuda e regata (Marinha do Brasil/Divulgação)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 28 de outubro de 2019 às 11h45.

Bermuda, galocha, camiseta ou regata, máscara e luva são as vestimentas e equipamentos padrão utilizados por integrantes do Exército e da Marinha na retirada de óleo de praias do Nordeste.

Os itens não seguem a orientação técnica para a remoção manual divulgada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), que prevê o uso de macacão de polietileno e óculos de proteção e, no caso de trabalhos sobre pedras, também de capacete.

A situação se repete entre funcionários e empregados de empresas terceirizadas de prefeituras e, até mesmo, entre os apenados do Estado de Pernambuco que atuaram nas praias. No âmbito municipal a reportagem flagrou trabalhadores manuseando o óleo sem camisa ou diretamente com as mãos.

A substância é considerada tóxica e, nos últimos dias, tem crescido o número de relatos de pessoas que tiveram náuseas, dor de cabeça, alergias e outras reações após terem contato com o petróleo. Os efeitos a médio e longo prazo ainda não estão claros.

O contraste entre os equipamentos utilizados por funcionários do Ibama e dos demais envolvidos era evidente nas praias pernambucanas visitadas pela reportagem na última semana.

Com parte do corpo exposto, os oficiais da Marinha e Exército entravam na água e chegavam a ficar com a pele suja de óleo, enquanto, os membros do Ibama estavam de macacão ou calça e camisa compridas. A situação era ainda mais grave no caso dos voluntários.

A reportagem testemunhou esse tipo de situação em praias como Itapoama, em Cabo de Santo Agostinho, Barra de Jangada, em Jaboatão dos Guararapes, e Janga, em Paulista, todos municípios da região metropolitana do Recife.

Nas demais praias visitadas, a reportagem não encontrou representantes do poder público federal, mas viu, por exemplo, salva-vidas que utilizavam uniforme convencional (bermuda e regata) enquanto tiravam óleo de uma área próxima a corais.

O próprio site da Marinha traz dezenas de imagens de atividades de remoção de óleo em que seus oficiais aparecem de bermuda e regata e sem o uso de proteção ocular e macacão durante ações em Estados como Bahia e na Paraíba. Segundo a instituição, mais de 2,7 mil militares participaram de ações de combate às manchas de petróleo.

A recomendações de tipos de Equipamento de Proteção Individual (EPI) estão no site do Ibama, em uma publicação chamada "Orientações gerais à população sobre o derramamento de óleo".

Na parte sobre "remoção manual", por exemplo, é destacado o uso de "EPI básico", que lista "Tyvek" (tipo de macacão de polietileno), luvas, botas e proteção ocular. Outro arquivo, sobre "recuperação manual em áreas rochosas", também inclui o uso de capacetes.

"Todos os trabalhadores devem usar EPI apropriados enquanto trabalham, incluindo proteção solar", destaca a publicação. As mesmas recomendações foram reproduzidas no site da própria Marinha.

Em nota, a Marinha afirmou que "os militares envolvidos diretamente nas ações de limpeza utilizam o EPI apropriado". A reportagem também entrou em contato com o Exército, que enviou cerca de 400 militares para Pernambuco, mas não recebeu um posicionamento oficial até a publicação desta matéria.

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