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Ex-governador diz que senador prometeu ajuda de Blairo e Taques

Cidinho dos Santos teria dito que o governador Pedro Taques, o senador Wellington Fagundes e o ministro Blairo Maggi poderiam barrar a Operação Ararath

Blairo Maggi: Janot apontou o ministro como "líder de organização criminosa" (Victor Moriyama/Bloomberg)
EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 25 de agosto de 2017 às 17h04.

São Paulo - Em delação premiada na Procuradoria-Geral da República, o ex- governador de Mato Grosso Silval Barbosa (PMDB) revelou que recebeu na prisão em 22 de abril a visita do senador Cidinho dos Santos (PR).

Segundo Silval, que gravou a conversa, o senador teria dito que o governador Pedro Taques (PSDB), o senador Wellington Fagundes (PR) e o ministro Blairo Maggi (Agricultura) poderiam agir para barrar a Operação Ararath - investigação sobre corrupção, desvio de verbas públicas e lavagem de dinheiro que levou Silval à prisão.

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As informações sobre a delação de Silval foram divulgadas pelo Jornal Nacional, da TV Globo, nesta quinta-feira, 24. A emissora divulgou vídeos entregues por Silval aos investigadores.

As imagens mostram o pagamento de propinas - em dinheiro vivo - a um grupo de políticos em uma sala do Palácio do Governo de Mato Grosso, na época em que o peemedebista ocupava a chefia do Executivo (2010/2014).

As gravações foram feitas pelo então chefe de gabinete de Silval no governo, Silvio César. Nelas, o prefeito de Cuiabá Emanuel Pinheiro (PMDB) aparece enfiando os maços de notas nos bolsos do paletó.

Uma parte foi ao chão e ele, lépido, agacha-se para juntar as cédulas espalhadas.

O vídeo revela, ainda, o deputado federal Ezequiel Fonseca (PP), contemplado com uma caixa de papelão cheia de dinheiro, o então deputado estadual Hermínio Barreto (PR) enfiando os maços na mala, a atual prefeita de Juara (MT), Luciane Bezerra (PSB) estufando a bolsa, e o ex-deputado estadual Alexandre César (PT), que saiu com a mochila pesada.

Silval Barbosa disse à Procuradoria que o senador Cidinho, na visita ao Centro de Custódia de Cuiabá - onde o ex-governador permaneceu por mais de dois anos - queria convencê-lo a não delatar o esquema de corrupção no Estado.

Cidinho, ainda de acordo com o ex-governador, afirmou que seu grupo político estaria "trabalhando" no Tribunal Regional Federal para esvaziar a Operação Ararath.

O ex-governador contou à Procuradoria-Geral da República que disse ao senador que estava disposto a confessar seus crimes e pagar fiança para sair da prisão.

Segundo o delator, foi nesse momento que Cidinho comentou que o ministro Blairo Maggi, o senador Wellington Fagundes e o "número 1 PTX" - referência ao governador Pedro Taques - o ajudariam e já estariam até agindo no âmbito do Judiciário.

Silval disse que resolveu gravar visitas de antigos aliados depois que a imprensa passou a informar que ele pretendia fazer delação premiada.

Defesas

A GCOM - Secretaria do Gabinete de Comunicação do Governo do Estado de Mato Grosso, afirma, em nota:

"O governador Pedro Taques vem a público reiterar que não tem nenhuma relação com os fatos noticiados pela imprensa acerca da delação do ex-governador Silval Barbosa.

Pedro Taques reafirma que foi e é adversário político do grupo do ex-governador, não fez nem autorizou ninguém a fazer acordo de qualquer natureza com Silval Barbosa, e atribui a citação do seu nome na delação como uma tentativa rasteira e desonesta dos seus inimigos, movida por vingança, de envolvê-lo nesse escândalo monstruoso que envergonha Mato Grosso perante a Nação.

Pedro Taques afirma, ainda, que a atuação dos órgãos de controle do Governo do Estado (como CGE e PGE) - desde 01 de janeiro de 2015, primeiro dia de seu governo - foram fundamentais na elucidação dos crimes cometidos pelos gestores que o antecederam, contribuindo para levar à prisão o ex-governador, sua esposa e um de seus filhos, entre outros."

Em nota, o senador Cidinho dos Santos afirmou: "Sobre notícia veiculada no Jornal da Globo, na noite de ontem, sobre uma visita minha ao ex-governador Silval Barbosa, tenho a esclarecer que:

1- Nunca neguei o fato que foi um ato de solidariedade a um ex-chefe de Estado, uma vez que, havia a informação de que estava em depressão e, embora não tenha trabalhado ou atuado no Governo dele, não justifica ignorá-lo como muitos fizeram.

2- Não sou garoto de recado, não recebi orientação e não fui a mando de ninguém.

3- Lamento que no vídeo divulgado não conste o áudio, pois, seria de conhecimento de todos que nada falei no intuito de prometer qualquer benefício ao acusado.

4- Se há algo do que se envergonhar, fica a cargo do ex-governador, que fez tudo de caso pensado, agiu de ma fé e arquitetou um plano para livrar-se da cadeia. Benefício garantido pela prática da delação premiada.

4- Por fim, sigo com a consciência tranquila e inteiramente à disposição da Justiça para quaisquer esclarecimentos."

Já o prefeito de Cuiabá Emanuel Pinheiro se manifestou por meio das redes sociais.

"Recebo com surpresa e indignação a notícia veiculada a minha imagem, totalmente deturpada pela noticiada delação premiada do ex governador do estado de Mato Grosso".

"Por tratar-se de processo judicial com caráter sigiloso o qual ainda não tive acesso e, por recomendação dos meus advogados, não vou me estender a esta acusação".

"O que tenho a plena ciência é que estamos no começo de uma grande mudança e humanização da capital de nosso Estado".

"Temos vários obstáculos pela frente que com muito trabalho, dedicação e confiança iremos ultrapassar".

"Não me falta coragem para seguir na construção da nossa Cuiabá dos 300 anos e na defesa da minha dignidade pessoal e da minha família".

"Tenho a verdade do meu lado, 28 anos de vida pública transparente como minha principal testemunha para enfrentar esta injustiça".

A reportagem entrou em contato com o ministro Blairo Maggi e o senador Wellington Fagundes, que ainda não se pronunciaram.

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