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Ex-executivo mentiu sobre conta para Lula em Madrid, diz delator

A força-tarefa da Lava Jato pediu ao juiz federal Sérgio Moro que as declarações do ex-vice-presidente da Engevix sejam investigadas

Lula: em julho de 2017, Almada compareceu espontaneamente à Superintendência da PF em Curitiba para colaborar com as investigações (Ueslei Marcelino/Reuters)

Lula: em julho de 2017, Almada compareceu espontaneamente à Superintendência da PF em Curitiba para colaborar com as investigações (Ueslei Marcelino/Reuters)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 9 de janeiro de 2018 às 20h25.

O lobista Milton Pascowitch afirmou, em depoimento à Polícia Federal, que o ex-executivo da Engevix Gerson Almada mentiu ao atribuir uma conta na Espanha supostamente em benefício do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ex-ministro José Dirceu.

O depoimento, prestado dez dias após o levantamento do sigilo das confissões de Almada, foi anexado aos autos de denúncia nesta segunda-feira, 8.

A força-tarefa da Operação Lava Jato pediu ao juiz federal Sérgio Moro que as declarações do ex-vice-presidente da Engevix sejam investigadas.

Em julho de 2017, Almada compareceu espontaneamente à Superintendência da PF em Curitiba para colaborar com as investigações. O depoimento teve o sigilo levantado em dezembro pelo juiz federal Sérgio Moro.

Ele afirmou à Polícia Federal saber de uma suposta conta em Madri, na Espanha, administrada pelo lobista Milton Pascowitch, abastecida por propinas de contratos da Petrobras, supostamente em benefício do ex-presidente Lula (PT) e do ex-ministro José Dirceu (PT). Ele ainda afirmou ter feito contratos dissimulados com o fim de pagar supostas vantagens indevidas a Dirceu - os documentos de corroboração foram entregues aos investigadores.

Em face das revelações de Almada, Pascowitch, que é delator da Lava Jato, prestou depoimento no dia 11 de dezembro. Ele afirmou à PF que "é manifestamente inverídica a afirmação feita por Gerson Almada de que administrava conta em Madrid para pessoas do PT, possivelmente em favor de Luiz Inácio Lula da Silva e de José Dirceu" e que, enquanto colaborador, "forneceu em seu acordo todos os extratos de suas contas fora do Brasil, as quais eram mantidas apenas nos Estados Unidos nos bancos UBS e Credit Suisse".

Gerson Almada confessou ter firmado contratos dissimulados com a empresa de comunicação Entrelinhas com o fim de pagar propinas ao ex-ministro José Dirceu. Ele entregou documentos aos investigadores para corroborar com esta parte do depoimento.

A respeito dos papéis do ex-executivo da Engevix, Pascowitch afirmou que "não se recorda especificamente desse pedido, mas que era comum a solicitação por parte da JD Assessoria [Empresa do ex-ministro] para realização de pagamentos de serviços efetuados por terceiros, em razão da ausência de caixa para fazer frente aos seus contratos".

O embate entre versões do executivo da Engevix, que passou a colaborar, e o delator Pascowitch, se deu nos autos da denúncia do Ministério Público Federal sobre propinas de R$ 2,4 milhões das empreiteiras Engevix e UTC para o ex-ministro José Dirceu (Casa Civil - Governo Lula). O petista teria recebido os valores durante e depois do julgamento do mensalão - ação penal em que o petista foi condenado.

A acusação da força-tarefa da Lava Jato foi ajuizada em 2 de maio e ainda não foi recebida por Moro. Gerson Almada pediu para falar antes de o magistrado decidir se coloca ou não os investigados no banco dos réus. Além do executivo e de Dirceu, são acusados Luiz Eduardo de Oliveira e Silva, irmão do ex-ministro; João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT; e Walmir Pinheiro Santana, ex-executivo da UTC.

Pascowitch voltou a afirmar que "em relação à licitação dos 8 cascos replicantes, foram pagos 0,5% para a Casa e 0,5% ao PT que viabilizaram as negociações e posterior assinatura do contrato".

Segundo o lobista, "foi paga comissão à JAMP pelos trabalhos de assessoria desempenhados, desde a concepção do projeto até a fase de produção dos cascos e que, após aprovação de Gerson Almada, ficou acordado pagamento de R$ 14 milhões para João Vaccari, sendo R$ 10 milhões pagos em dinheiro e R$ 4 milhões por meio de doações oficiais ao partido". JAMP é a consultoria de Pascowitch por meio da qual confessou que fazia pagamentos para agentes da Diretoria de Serviços da Petrobras.

No entanto, Pascowitch voltou a reiterar que "os recursos eram destinados ao PT e em nenhum momento falou-se em pagamento a Lula ou José Dirceu".

Defesas

Em nota, o advogado Roberto Podval, que defende Dirceu, afirmou que "o que se tira dessas delações são mentiras de ambas as partes. Cada qual tentando vender mais do que tem e ainda sair com lucro."

Almada afirmou que, por orientação de seu advogado, não comentará a acusação, pois crê "que a investigação criminal irá aclarar a verdade".

Já o advogado Luiz Flávio Borges D'Urso, que defende o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, divulgou uma nota sobre a acusação de Pascowitch.

"O sr. Vaccari jamais negociou ou recebeu qualquer valor de origem ilícita. Na verdade sendo ele o tesoureiro do Partido dos Trabalhadores, dirigiam-se a ele todos que pretendiam fazer doações ao partido e dele recebiam a orientação para que tais doações fossem na conta bancária do PT, expedindo-se o respectivo recibo e informando-se as autoridades competentes, tudo absolutamente legal. Fora disso nada é verdadeiro", afirmou D'Urso.

A reportagem entrou em contato com a defesa do ex-presidente Lula, mas ainda não obteve retorno.

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