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Estudo mostra relação dos estrangeiros com São Paulo

Estudo procura entender a relação dos estrangeiros com a cidade para além da imigração e de modo mais plural

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Nas regiões metropolitanas do Rio e de SP existem cidades em que metade da população leva mais de uma hora no trajeto. Muitos carros e falta de planejamento são os motores do problema (Mario Rodrigues/Veja São Paulo)

Nas regiões metropolitanas do Rio e de SP existem cidades em que metade da população leva mais de uma hora no trajeto. Muitos carros e falta de planejamento são os motores do problema (Mario Rodrigues/Veja São Paulo)

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José Tadeu Arantes

Publicado em 29 de outubro de 2012 às, 15h30.

São Paulo - As cidades americanas – tais como se constituíram a partir do período colonial – foram fortemente influenciadas pelas presenças de estrangeiros. É impossível entender sua formação e transformação sem considerar os aportes de adventícios de variadas etnias e culturas que, coletiva ou individualmente, aqui imprimiram sua marca.

Se este é o traço geral, decorrente do próprio processo de colonização – por si mesmo um empreendimento estrangeiro –, ele se torna ainda mais notável em aglomerados urbanos que, por circunstâncias históricas específicas, configuraram desde cedo polos de atração multiétnica e multicultural. Tal é o caso de Nova York, Buenos Aires e São Paulo, para citarmos os exemplos mais característicos.

A análise é do livro São Paulo, os estrangeiros e a construção das cidades, que enfoca vários recortes desse processo de múltiplas dimensões.

Organizada por Ana Lúcia Duarte Lanna, Fernanda Arêas Peixoto, José Tavares Correia de Lira e Maria Ruth Amaral de Sampaio, a obra é uma construção coletiva de 26 autores, tendo como núcleo original as pesquisas do Projeto Temático “São Paulo: os estrangeiros e a construção da cidade”, coordenado por Lanna.

“O livro procura entender a relação dos estrangeiros com a cidade para além da imigração. A figura do estrangeiro que emerge de suas páginas é mais complexa, mais plural”, disse Lanna, professora na Faculdade de Arquitetura da Universidade de São Paulo (USP).

“Os protagonistas podem ser grupos, como os contingentes de imigrantes, mas também indivíduos, como os intelectuais e profissionais, que vieram e ficaram, ou apenas passaram por aqui”, destacou.

O livro lembra que São Paulo experimentou crescimento vertiginoso a partir da década 1870, quando a cidade provinciana remanescente do período colonial foi definitivamente deixada para trás, e uma jovem metrópole, inspirada em padrões europeus, tomou seu lugar, no contexto do enriquecimento acelerado dos fazendeiros do café e da burguesia industrial incipiente.


Quer como contingente coletivo de trabalhadores, quer nas figuras de empreendedores ou profissionais especializados, os estrangeiros foram personagens fundamentais dessa transição.

Desde então, fazendo jus à máxima ufanista de que “São Paulo não pode parar”, a cidade não parou de se redefinir, em uma autofagia insaciável, até perfilar-se, hoje, entre as 10 maiores megalópoles do planeta.

Fruto dessa multiplicidade de olhares, o livro se estrutura a partir de quatro linhas. O primeiro conjunto de textos, Redes e territórios étnicos, trata da constituição de bolsões urbanos específicos decorrentes das presenças estrangeiras.

Os grandes casos estudados são os dos bairros centrais do Bom Retiro, ocupado, sucessiva ou concomitantemente, por portugueses, italianos, judeus, gregos, armênios, sírios, coreanos, bolivianos, peruanos e paraguaios, e do Bixiga, fortemente marcado pela presença de italianos do sul.

O segundo segmento, Construtores da cidade, reúne artigos sobre os vários profissionais e empreendedores estrangeiros (urbanistas, arquitetos, planificadores, loteadores, construtores e artesãos, entre outros) que atuaram, com suas ideias e práticas, na construção das cidades em toda a América Latina.

Descreve também as relações, ora cooperativas ora conflituosas, que com eles estabeleceram os profissionais locais – contrariando o lugar comum de um país “em branco” construído por “influências estrangeiras”.


A terceira linha, Trajetórias e olhares, procura captar como os trânsitos redefinem permanentemente os pontos de vista dos estrangeiros – notadamente os arquitetos europeus ou norte-americanos, embarcados em projetos profissionais, existenciais ou turísticos fora de seus universos iniciais de referência.

O quarto bloco, Intelectuais, artistas e cidade, tem por foco a cidade de São Paulo, por meio de suas instituições científicas, artísticas e culturais (Museu de Arte de São Paulo, por exemplo), de suas revistas e publicações (como Mirante das Artes), ou da maneira como a cidade em seus diferentes aspectos foi pensada por intelectuais (Lina Bo Bardi, Roger Bastide e Lévi-Strauss, entre outros).

Segundo Lanna, o material acumulado pelo Projeto Temático e pelos dois seminários internacionais realizados em decorrência não foi todo utilizado no livro.

Há um segundo volume no prelo que deve ser publicado em 2012. Parte da documentação usada ao longo da realização do Projeto Temático bem como textos e resultados de pesquisas estão disponíveis no site http://estrangeiros.fau.usp.br.

São Paulo, os estrangeiros e a construção das cidades
Autor: Ana Lúcia Duarte Lanna et al
Lançamento: 2011
Preço: R$ 78
Páginas: 690

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