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Estudo citado por Bolsonaro não poderia ser atribuído ao TCU, diz auditor

Presidente apresentou a apoiadores documento dizendo que metade das mortes registradas em decorrência da covid-19, na verdade, teriam acontecido por outros motivos

Auditor do Tribunal de Contas da União (TCU), Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques (Pedro França/Agência Senado)

Auditor do Tribunal de Contas da União (TCU), Alexandre Figueiredo Costa Silva Marques (Pedro França/Agência Senado)

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Alessandra Azevedo

Publicado em 17 de agosto de 2021 às 11h47.

Em depoimento à CPI da Covid, o auditor do Tribunal de Contas da União (TCU) Alexandre Marques afirmou que houve alterações no "estudo paralelo" que indicava número de mortes por covid-19 abaixo do registrado pelas autoridades. Segundo ele, a versão apresentada pelo presidente Jair Bolsonaro a apoiadores, em 7 de junho, não poderia ser atribuída ao TCU. 

O documento feito por Marques era preliminar e não trazia a inscrição do tribunal. "Não era um relatório, era simplesmente um arquivo em Word sem nenhuma oficialidade", afirmou. Perguntado se o arquivo havia sido falsificado, o auditor disse que "circulou nas redes sociais, no WhatsApp, uma versão em PDF desse arquivo com a inscrição do TCU no cabeçalho". 

"Não vi o texto que o presidente apresentou. Eu recebi via WhatsApp um arquivo em PDF que viralizou que havia destaques grifados em amarelo e a inscrição do Tribunal de Contas da União na parte superior", afirmou. O original era apenas "um compilado de algumas informações públicas para provocar um debate junto à equipe de auditoria", disse.

Para Marques, foi "indevido" atribuir ao TCU "um arquivo de duas páginas, não conclusivo e que não era um documento oficial do tribunal". O uso do documento para afirmar que o TCU chegou à conclusão de que metade das mortes por covid aconteceram por outro motivo foi "irresponsável", afirmou. "Vincular o nome do TCU a um arrazoado de duas páginas não conclusivo eu achei irresponsável."

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Marques disse ter enviado o documento ao pai, Ricardo Silva Marques, que contou ter mandado o mesmo arquivo ao presidente Jair Bolsonaro, com quem estudou na Academia Militar das Agulhas Negras e mantém contato. O auditor garantiu que as alterações foram feitas após o envio a Bolsonaro, mas não soube dizer por quem.

"Isso eu realmente não tenho como responder. A partir do momento que o arquivo cai na mão de outras pessoas… Hoje em dia tudo que cai na internet viraliza, tudo é compartilhado rapidamente, então eu não tenho como presumir a autoria de ninguém dessa alteração", afirmou Marques.

O auditor também negou que o documento tenha sido inserido no sistema protocolar do TCU. Ele disse só ter compartilhado o arquivo em uma sala de discussões virtual, na plataforma do Microsoft Teams. Apenas uma colega teria feito comentários em particular com o auditor sobre o assunto.

Após a conversa, Marques disse ter concluído que "seria impossível haver um conluio para deliberadamente supernotificar os casos de óbitos de covid-19", tese que Bolsonaro levou a apoiadores. "Apresentei algumas considerações sobre se o próprio formulário de declaração de óbito poderia gerar inconsistências de lançamentos e, consequentemente, de notificações. No entanto, consideramos a dialética encerrada."

"A minha indignação foi pelo fato de ter sido atribuído ao Tribunal de Contas da União a responsabilidade por um documento que não era um documento oficial, que não era uma instrução processual, que não era nada do Tribunal de Contas da União", reforçou o auditor.

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