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Especialistas atacam avanço de UPPs em momento de crise

Tiroteios têm sido constantes em comunidades como a Rocinha, o Pavão-Pavãozinho (zona sul) e o São Carlos (região central), entre outras


	Policiais da UPP patrulham via de favela: em pouco mais de um mês, três policiais militares em serviço foram assassinados nos complexos do Alemão e da Penha
 (Ricardo Moraes/Reuters)

Policiais da UPP patrulham via de favela: em pouco mais de um mês, três policiais militares em serviço foram assassinados nos complexos do Alemão e da Penha (Ricardo Moraes/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 12 de março de 2014 às 18h46.

Rio - Especialistas em segurança pública divergem sobre a decisão da Secretaria de Segurança do Rio de avançar com o programa de pacificação de favelas no momento em que várias Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) enfrentam a pior crise desde o início do projeto, em 2008.

Em pouco mais de um mês, três policiais militares em serviço foram assassinados nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio. Tiroteios também têm sido constantes em outras comunidades, como a Rocinha, o Pavão-Pavãozinho (zona sul) e o São Carlos (região central), entre outras.

Na noite de terça-feira, 11, moradores do Alemão realizaram um protesto contra a prisão, no dia anterior, de dois acusados de participação nos ataques à UPP Nova Brasília e à 45ª Delegacia de Polícia (Alemão), em janeiro.

A manifestação terminou em confusão e tiroteio. Duas pessoas foram baleadas. A Estrada do Itararé, que corta as favelas da região, chegou a ser interditada por barricadas. O teleférico do Alemão teve a circulação suspensa por medida de segurança. A polícia precisou utilizar bombas de gás lacrimogêneo para dispersar a multidão.

Até a manhã de quarta-feira, 12, o policiamento havia sido reforçado com homens do Batalhão de Operações Especiais (Bope), tropa de elite da PM, e do Batalhão de Choque. Apesar do recrudescimento de episódios de violência em favelas pacificadas, policiais militares do Bope e do 14º Batalhão (Bangu) entrarão, na madrugada desta quinta-feira, na Vila Kennedy e na vizinha Favela da Metral, em Bangu (zona oeste), para dar início à implantação da 38ª UPP do Estado - a 37ª da capital.

Nos primeiros dias de ocupação permanente, os policiais vão vasculhar a região à procura de traficantes, armas e drogas. Desta vez, a operação não contará com o apoio de blindados da Marinha. A nova UPP deverá ser inaugurada na segunda-feira, e contará com efetivo de 250 policiais.

Para o doutor em Sociologia Ignácio Cano, os recentes ataques a UPPs mostram que é preciso reavaliar e corrigir o projeto. Entretanto, essa mudança de rota não é incompatível com a expansão das unidades para outras favelas.


"Entendo o ponto de vista de quem questiona se este seria o melhor momento de se implantar mais uma UPP. Mas não concordo. Acho que as duas coisas podem e devem ser feitas ao mesmo tempo. Depois de fechar o cinturão de segurança da zona sul, a área mais nobre da cidade, finalmente as UPPs estão chegando em comunidades mais violentas. Quem mora nesses locais não pode mais esperar", disse Cano, que é coordenador do Laboratório de Análise da Violência da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj).

O sociólogo destacou que, mais uma vez, a esperada pacificação do Complexo da Maré (zona norte) ficou para trás.

"De forma geral, os problemas das UPPs não são de efetivo. A única em que talvez seja necessário um reforço é o Alemão. O que falta é melhorar a interlocução da polícia com a comunidade. As UPPs precisam ganhar a legitimidade da população. Mas não vejo uma política clara de reforma nesse sentido".

A pacificação do Complexo da Maré é considerada estratégica porque é rota obrigatória de quem chega ao Rio pelo Aeroporto Internacional Tom Jobim, na Ilha do Governador (zona norte), e precisa se deslocar para o centro ou a zona sul. Por outro lado, na opinião do antropólogo Paulo Storani, o governo deveria primeiro reestruturar o projeto antes de ampliá-lo. "Não se pode estender um modelo que está em crise. Senão você aumenta a crise", avalia Storani, pesquisador da Universidade Cândido Mendes e ex-capitão do Bope.

Para o ex-oficial, o que falta nas comunidades pacificadas é a chegada de projetos sociais do Estado e da Prefeitura. "Ocupação policial é uma coisa. Pacificação é outra. Não basta só a ocupação policial. Ela deve servir de porta para a entrada de outros setores do Estado, como educação, cultura, saúde, lazer. Isso até foi prometido no início das UPPs, mas ficou só no discurso. É notório que o programa tem que ser revisto. É preciso que os jovens dessas favelas não enxerguem o tráfico como uma oportunidade de emprego", afirmou.

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