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Envenenamento e execução: o que a PF revelou sobre o plano para matar Lula, Alckmin e Moraes

A investigação da PF mostra que um arquivo com o detalhamento do plano operacional para execução das autoridades foi impresso no Palácio do Planalto

Lula, Alckmin e Moraes: Militares investigados pela PF planejavam executar as autoridades ( Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)

Lula, Alckmin e Moraes: Militares investigados pela PF planejavam executar as autoridades ( Fabio Rodrigues-Pozzebom/Agência Brasil)

André Martins
André Martins

Repórter de Brasil e Economia

Publicado em 19 de novembro de 2024 às 12h21.

Última atualização em 19 de novembro de 2024 às 14h41.

Envenenamento, sequestro, homicídio, plano impresso no Palácio do Planalto, e estimativas de R$ 100 mil de gastos com os planos de execução.

Essas foram algumas das informações reveladas pela Polícia Federal na investigação sobre um suposto planejamento para o assassinato do então presidente-eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT), do vice-presidente Geraldo Alckmin, e do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, em novembro de 2022.

De acordo com a decisão de Moraes, obtida pela EXAME, uma operação foi deflagrada pela PF nesta terça-feira, 19, para prender quatro militares "kids pretos" e um agente da PF que planejavam "eliminar" Moraes e "extinguir a chapa presidencial vencedora" nas eleições de 2022. O plano, chamado de “Punhal verde-amarelo”, segundo as investigações, previa sequestrar ou executar Lula, Moraes e Alckmin no dia 15 de dezembro de 2022.

"Os elementos trazidos aos autos comprovam a existência de gravíssimos crimes e indícios suficientes da autoria, além de demonstrarem a extrema periculosidade dos agentes, integrantes de uma organização criminosa, com objetivo de executar atos de violência, com monitoramento de alvos e planejamento de sequestro e, possivelmente, homicídios do então presidente do TSE, do presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva e do vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin", disse o ministro do STF na decisão.

Os presos nesta manhã são o general da reserva de brigada Mário Fernandes, o tenente-coronel Hélio Ferreira Lima, o major Rodrigo Bezerra Azevedo e o major Rafael Martins de Oliveira, além do policial federal Wladimir Matos Soares.

Os agentes ainda cumpriram três mandados de busca e apreensão e 15 medidas cautelares que incluem a proibição de manter contato com os demais investigados, além de impedir qualquer um dos alvos das investigações de deixar o país, com exigência de entrega dos passaportes em até 24 horas.

Os fatos investigados configuram, em tese, os crimes de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado e organização criminosa.

Plano para matar Moraes, Lula e Alckmin foi impresso no Palácio do Planalto

Na investigação, a PF descobriu que Mário Fernandes, ex-número dois da Secretaria-Geral da Presidência, imprimiu no Palácio do Planalto o "plano operacional" para assassinar Lula, Alckmin e Moraes.

Segundo a corporação, o plano, chamado de "Punhal verde-amarelo", tinha três folhas e foi impresso no gabinete da Secretaria-Geral. A investigação aponta que o então presidente Jair Bolsonaro também estava no Palácio no dia.

No mesmo período, verificou-se também a presença concomitante, na região do Palácio do Planalto, de Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, e Rafael de Oliveira.

"MÁRIO FERNANDES, então secretário-executivo da Secretaria-Geral da Presidência, estava no Palácio do Planalto e imprimiu o planejamento operacional denominado ‘Punhal verde-amarelo’, que descreve o plano para prender/executar o ministro ALEXANDRE DE MORAES, além dos integrantes da então chapa vencedora das eleições presidenciais, LUIS INÁCIO LULA DA SILVA e GERALDO ALCKMIN", diz a representação da PF.

Reunião na casa de Braga Neto

As diligências da Polícia Federal indicam que os investigados realizaram, no dia 12 de novembro de 2022, uma reunião na casa do ex-ministro e candidato a vice derrotado nas eleições daquele ano, o general Walter Braga Neto.

Os investigadores afirmam que as atividades de monitoramento dos alvos tiveram início logo após o encontro. Rafael Martins de Oliveira questionou Mauro Cid, apenas dois dias depois, sobre "alguma novidade", referindo-se ao assunto tratado na reunião com Braga Neto.

Estimativa de gastos para o plano era de R$ 100 mil

Em troca de mensagens detalhadas pela PF, Mauro Cid questionou Rafael Martins sobre a estimativa de gastos para execução dos planos. O major afirmou que os custos com alimentação, hotel e material totalizariam R$ 100 mil.

"Conforme visto, os elementos de prova descritos já demonstravam que RAFAEL DE OLIVEIRA, desde o dia 11 de novembro de 2022, estava atuando juntamente com outros militares para financiar e direcionar as manifestações golpistas em curso naquele momento", diz a PF.

Além disso, documentos protegidos por senha, intitulados ‘Copa 2022’, foram trocados pelos investigados. Pelo teor dos diálogos, tratavam-se de estimativas para ações clandestinas que ocorreriam durante novembro e dezembro de 2022. Em outro trecho, os suspeitos discutem a necessidade de trazer mais pessoas do Rio de Janeiro para a execução do plano.

"Os interlocutores indicam que estariam arregimentando mais pessoas do Rio de Janeiro para apoiar a execução dos atos. MAURO CID diz: ‘Para trazer um pessoal do Rio’. RAFAEL DE OLIVEIRA responde: ‘Pode ser preciso também’. MAURO CID, de forma mais enfática, afirma: ‘Vai precisar’", revela a investigação.

Envenenamento de Lula e eliminação de Alckmin

Segundo a investigação, os acusados utilizaram o codinome JECA para se referir ao presidente Lula. O plano “Punhal verde-amarelo”, revelado pela PF, indicava que a "neutralização" de Lula abalaria toda a chapa vencedora. Para o assassinato, os suspeitos sugeriram envenenamento ou uso de químicos que causariam um colapso orgânico.

"Para execução do presidente LULA, o documento descreve, considerando sua vulnerabilidade de saúde e ida frequente a hospitais, a possibilidade de utilização de envenenamento ou uso de químicos para causar um colapso orgânico", aponta a investigação.

O vice-presidente Geraldo Alckmin era citado como JOCA. O texto do plano operacional indicava que, na inviabilidade do “01 eleito” (Lula), a “neutralização” do vice-presidente seria necessária para extinguir a chapa vencedora.

"Como, além do presidente, a chapa vencedora é composta, obviamente, pelo vice-presidente, é somente na hipótese de eliminação de GERALDO ALCKMIN que a chapa vencedora estaria extinta", apontaram os investigadores.

Uma terceira pessoa, referida como JUCA, foi mencionada como alvo de neutralização para desarticular os "planos da esquerda mais radical". Contudo, os investigadores não obtiveram elementos suficientes para identificar quem seria essa pessoa.

Plano para prender e executar Moraes foi discutido no grupo "Copa 2022"

Mensagens obtidas pela PF mostram que os militares investigados chegaram a se posicionar em Brasília para tentar prender, sequestrar e executar o ministro Alexandre de Moraes.

"As mensagens trocadas entre os integrantes do grupo 'Copa 2022' demonstram que os investigados estavam em campo, divididos em locais específicos para, possivelmente, executar ações com o objetivo de prender o ministro Alexandre de Moraes", afirma a PF.

Às 20h33 daquele dia, um dos integrantes enviou mensagem relatando que estava no estacionamento de um restaurante no Parque da Cidade, área central de Brasília. Ele escreveu: "Estacionamento da troca da primeira vez", em referência ao local onde seria executada a ação.

"Segundo a autoridade policial, o local inicial, onde a pessoa com o codinome ‘Gana’ estava para cumprir a ação planejada, reforça que os investigados estavam executando um plano para, possivelmente, prender o Ministro ALEXANDRE DE MORAES, no dia 15 de dezembro de 2022", diz Moraes em sua decisão.

Não ficou claro nos documentos divulgados o motivo pelo qual os investigados não executaram o plano. Mensagens revelam que uma das lideranças orientou para que o grupo se desmobilizasse e "voltasse ao local de desembarque".

Investigados usaram aplicativos e codinomes para ocultar planos

De acordo com a PF, seis pessoas participaram do planejamento e, para dificultar o rastreamento das atividades ilícitas, utilizaram o aplicativo Signal, que oferece criptografia avançada, e usaram codinomes associados a países.

A investigação revelou que, no dia 3 de dezembro de 2022, quatro números de telefone habilitados sequencialmente em localidades próximas foram usados para discutir os golpes e assassinatos. Segundo os investigadores:

  • As linhas de telefonia móvel foram habilitadas em nome de terceiros, sem relação com os fatos investigados;
  • Foi criado um grupo denominado ‘Copa 2022’ no aplicativo Signal;
  • Os participantes adotaram codinomes (Alemanha, Áustria, Brasil, Argentina, Japão e Gana).

General detalhou armas e justificou "danos colaterais"

O documento elaborado pelo general Mário Fernandes em 9 de novembro de 2022 detalhava as armas que seriam utilizadas, incluindo munições de alto impacto, como para a metralhadora leve M249, granadas de fragmentação de 40mm e o lança-rojão AT4.

A PF destacou que o documento avaliava riscos e impactos, justificando que "danos colaterais possíveis e aceitáveis" poderiam ocorrer. Isso incluía, além das mortes das autoridades-alvo, a possibilidade de baixas na equipe de segurança e até nos próprios militares envolvidos na operação. O objetivo seria "neutralizar o centro de gravidade", expressão usada para se referir a obstáculos ao golpe de Estado.

Suspeitos queriam criar "Gabinete Institucional de Gestão da Crise"

Entre os documentos encontrados com Mário Fernandes estava a minuta para criar um "Gabinete Institucional de Gestão da Crise". Segundo a PF, o texto previa que o general Augusto Heleno, chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) durante o governo Bolsonaro, lideraria o grupo, com Braga Neto como coordenador-geral. A assessoria estratégica incluiria o próprio Mário Fernandes e o coronel Elcio, enquanto Filipe Martins, ex-assessor de Assuntos Internacionais da Presidência, ficaria responsável pelas relações institucionais.

O gabinete teria como função "estabelecer diretrizes para gerenciamento da crise institucional" após o golpe planejado.

Com essas descobertas, a PF apontou a conexão entre militares e os atos golpistas, além da possível ligação entre os investigados e o Palácio do Planalto durante o governo Jair Bolsonaro.

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