Brasil

Entidades tentam barrar 'parceria' do Ministério da Saúde com Mc Donald’s

Cartas foram enviadas ao ministro Alexandre Padilha questionando o título de “Parceiro da Saúde” concedido à rede americana de lanchonetes

Big Mac é citado como exemplo de alimento "densamente calórico e com pouco nutriente" (Wikimedia Commons)

Big Mac é citado como exemplo de alimento "densamente calórico e com pouco nutriente" (Wikimedia Commons)

DR

Da Redação

Publicado em 6 de junho de 2011 às 19h16.

São Paulo – A decisão do Ministério da Saúde de conceder ao Mc Donald’s o título de “Parceiro da Saúde” está gerando polêmica.

A Frente pela Regulação da Publicidade de Alimentos encaminhou carta ao ministro Alexandre Padilha com o objetivo de demonstrar “indignação com a vinculação entre as marcas, programas e imagem do Ministério da Saúde do Brasil com a marca, produtos e campanhas publicitárias da empresa McDonald´s”.

“Não se justifica, em hipótese alguma, o Ministério da Saúde associar sua imagem a de empresas como Mc Donald´s atribuindo-lhes o título de 'Parceiro da Saúde', uma vez que a sua principal atividade é a comercialização de alimentos que, em sua grande maioria, fazem muito mal à saúde”, diz o texto.

A polêmica envolve a tolha de papel das bandejas, que trazem material educativo do Ministério da Saúde ao lado do cardápio dos produtos oferecidos pela lanchonete. O Mc Donald's nega qualquer vinculação publicitária.

As entidades citam dados de pesquisas do IBGE para mostrar que as famílias brasileiras estão trocando alimentos saudáveis, como arroz e feijão, por bebidas e alimentos “ultra processados, densamente calóricos e com baixa concentração de nutrientes”.

No documento, as entidades afirmam que “o crescimento vertiginoso da obesidade no país talvez seja a expressão mais dramática das conseqüências do crescimento do consumo de alimentos ultra processados, dentre os quais estão os hambúrgueres, batata frita, refrigerantes oferecidos e promovidos pela rede McDonald’s.”


Eles argumentam que os produtos vendidos pelo Mc Donald’s não são, em sua grande maioria, indicados para o consumo frequente, principalmente por crianças e adolescentes. “Quando o Ministro da Saúde aparece na grande imprensa ao lado da empresa, promove confusão, deseduca a população.”

A Frente pela Regulação da Publicidade de Alimentos, que é formada por 57 organizações e redes da sociedade civil e instituições de ensino e pesquisa, pede a desvinculação imediata da imagem do Ministério da Saúde de campanhas do Mc Donald’s.

Em outra carta enviada ao Ministério da Saúde, três professores decanos de nutrição também reclamam da parceria entre o órgão e a rede de lanchonetes.

São eles: Carlos Augusto Monteiro, professor titular da Universidade de São Paulo e membro da Academia Brasileira de Ciências; César Gomes Victora, professor emérito da Universidade Federal de Pelotas e membro da Academia Brasileira de Ciências; e Malaquias Batista Filho, professor emérito da Universidade Federal de Pernambuco e membro do Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA).

“É ocioso notar que o objetivo dessa campanha da rede McDonald’s é associar o consumo dos produtos que ela comercializa a comportamentos saudáveis e a induzir o consumidor a pensar que esses produtos deveriam ou poderiam ser consumidos frequentemente (‘alimentos do dia a dia’) e a negar que eles pudessem ser menos saudáveis do que alimentos tradicionais da dieta brasileira. Ainda mais ociosa é a constatação de que a inscrição dos símbolos do Ministério da Saúde no material publicitário da empresa legitima a campanha e aumenta em muito sua eficácia”, diz a carta.

Os especialistas, que também pedem o fim da parceria entre o ministério e a empresa, afirmam que a propaganda na toalha da bandeja é "enganosa". "Por exemplo, a ingestão de um Big Mac (que não é o maior dos sanduíches oferecidos no cardápio) acompanhada de uma porção média de batatas fritas, de um copo médio de refrigerante e de uma porção pequena do sorvete com calda da rede fornece dois terços do total de calorias que um adulto poderia consumir ao longo de todo o dia e praticamente todas as calorias diárias necessárias para uma criança."

Acompanhe tudo sobre:AlimentaçãoComércioDoençasDoenças do coraçãoEmpresasEmpresas americanasFast foodFranquiasMcDonald'sRestaurantesSaúde

Mais de Brasil

Indícios contra militares presos são "fortíssimos", diz Lewandowski

Câmara aprova projeto de lei que altera as regras das emendas parlamentares

PF envia ao STF pedido para anular delação de Mauro Cid por contradições

Barroso diz que golpe de Estado esteve 'mais próximo do que imaginávamos'