França e Doria: a disputa em SP está acirrada com resultados bastante próximos (Globo/Marcos Rosa/Divulgação)
Estadão Conteúdo
Publicado em 26 de outubro de 2018 às 10h31.
Última atualização em 26 de outubro de 2018 às 10h33.
São Paulo — O debate da TV Globo entre os candidatos ao governo de São Paulo, João Doria (PSDB) e Marcio França (PSB), desta quinta-feira (25), foi marcado por discussão de propostas e ataques críticos de ambas as partes.
No primeiro bloco do programa, os candidatos fizeram uma discussão mais focada em propostas. Já a partir da segunda parte, o clima começou a esquentar.
O tucano fez diversas associações do pessebista com partidos de esquerda, enquanto o atual governador intensificou seus ataques de que o ex-prefeito faltou com a palavra ao deixar sua gestão e, disse que suas propostas não passam de "marketing".
Na primeira parte, França, que está com pouca diferença do tucano nas pesquisas, tentou trazer temas polêmicos, como a alta rejeição de Doria entre eleitores da capital e também o escândalo da Farinata, também conhecida como "ração humana", que Doria propôs servir como merenda nas escolas municipais.
O tucano, no entanto, preferiu não entrar na discussão e focou em divulgar propostas. Quando o assunto foi segurança pública, tanto Doria quanto França prometeram uma remuneração maior para as forças policiais do Estado e incremento dos equipamentos dos policiais militares e civis.
O atual governador disse que seu compromisso com a corporação está representado por sua vice, a Coronel Eliane Nikoluk, e prometeu colocar câmeras em todas as cidades de São Paulo.
Já o ex-prefeito disse que quer criar novos batalhões e bases comunitárias pelo Estado e prometeu acabar com as "saidinhas" dos presos dos presídios.
Sobre saúde, Doria prometeu levar dois programas da prefeitura para todo o Estado: "Corujão da Saúde", que utiliza a rede privada para realizar exames durante a madrugada, para todo o Estado, e o "Dia D", que leva exames oftalmológicos e odontológicos para crianças de escolas estaduais.
Já França prometeu expandir os programas Leve Leite e Bom Prato e levar mais recursos às Santas Casas. "Para elas saírem dos bancos, que drenam seus recursos", disse.
Além de evitar polêmicas, Doria citou ainda duas vezes Geraldo Alckmin, seu padrinho político e ex-governador do Estado, e não citou nenhuma vez Jair Bolsonaro (PSL), candidato que apoiou no âmbito nacional e do qual tem tentado surfar a popularidade.
Doria e França travaram uma disputa pelo legado das gestões tucanas em São Paulo no segundo bloco do debate da TV Globo.
Ao ouvir o atual governador dizer que vai fazer inaugurações como a da estação de metrô Morumbi, Doria insinuou que o pessebista estaria se apropriando das realizações dos governos Geraldo Alckmin (PSDB) e José Serra (PSDB).
Pegando a deixa de Doria, França deu uma alfinetada no adversário ao lembrar da discussão protagonizada por ele e Alckmin duas semanas atrás, quando o ex-governador chamou seu afilhado de "traidor".
"Eu não tenho problema com Alckmin. Somos de partidos diferentes mas ele me escolheu para ser vice", disse o pessebista.
França disse ainda que Alckmin o escolheu porque sabia "que São Paulo precisava de mudança" e criticou a "briga" entre PT e PSDB, que estaria por trás do atraso em obras há muito prometidas, como a despoluição dos Rios Tietê e Pinheiros.
O governador ainda acusou Doria de querer privatizar a Sabesp. "A população quer é que a Sabesp funcione bem e barato, porque se privatizar a água fica mais cara", criticou.
O tucano não entrou na discussão, mas prometeu "valorizar" a estatal, "como quis o governador Geraldo Alckmin, que lançou seus papeis em Nova York".
Doria prometeu ainda colocar a rede da CPTM no mesmo padrão do metrô, construir uma linha de trem ligando a capital à Baixada Santista e expandir as Etecs e Fatecs.
Na primeira vez em que citou Jair Bolsonaro (PSL) no debate, o ex-prefeito ainda disse que vai pleitear mais recursos junto ao governo federal para a Educação e a Saúde.
"Vou exigir do governo Jair Bolsonaro recursos destinados à saúde pública em São Paulo", disse.
Aplicando pela primeira vez no debate da TV Globo a mesma tática de programas anteriores, o candidato João Doria (PSDB) voltou a ligar Marcio França e seu partido, o PSB, à esquerda. "O MST te deu apoio. E se olharmos o seu site, vai ver ali propostas socialistas", disse o tucano.
O atual governador, por sua vez, atacou a estratégia do adversário e citou o apoio recebido de políticos de centro-direita, como Paulo Skaf (MDB) e Alberto Goldman (PSDB). "Você acha que se eu apoiasse (o MST) isso eles iriam me apoiar?", questionou o pessebista.
Elevando a temperatura do debate, França acusou ainda Doria de ser "oportunista" e de ter se aproveitado do financiamento estatal quando integrava a iniciativa privada.
"Não sei porque você fala toda essa hora dessa historia partidária. Meu partido te ajudou e foi do seu governo. E você recebeu recursos do PT e do governo de São Paulo. Ô Doria, acha que o produtor rural de São Paulo quer saber se você faz uma revista chamada Caviar?".
O governador disse ainda que, pela primeira vez em muitos anos, a maioria dos secretários do governo estadual é composta por funcionários de carreira.
"O PSDB governa São Paulo há muitos anos. É sempre bom escolher coisa nova, ter a mudança. A mudança em São Paulo já começou e com quem tem palavra."
"O novo de verdade sou eu, que transformar, desburocratizar. Você representa 30 anos de vida pública", retrucou o tucano.
Os candidatos também discutiram suas escolhas para vice. França acusou Doria de ser contraditório ao pregar ser o novo e escolher um político tradicional, o deputado Rodrigo Garcia (DEM), para ser seu vice. "Tenho muito orgulho de meu vice, ótimo secretário de Alckmin", rebateu o tucano.
O quarto e último bloco do debate também foi o de clima mais quente. Enquanto o tucano voltou a associar pesadamente o atual governador a partidos de esquerda, o pessebista disse que o tucano faltou com a palavra ao deixar a Prefeitura e que suas propostas não passam de "marketing".
"Petistas sem-vergonha, que usaram os 13 anos no poder para roubar o Brasil, estão do seu lado. Assuma que é esquerda, França", atacou o ex-prefeito.
Utilizando matérias que saíram recentemente na imprensa, o tucano ainda acusou o adversário de praticar nepotismo e aparelhar o governo.
"Isso é um erro, é partidarizar", comentou após mencionar reportagem da Folha de S. Paulo na qual França teria indicado uma pessoa que nunca deu aulas para presidir a Univesp.
"O João fala, fala, e não fez nada. Tentou vender o Ibirapuera sem autorização, tentou vender o Pacaembu. Você não sabe administrar coisas públicas. Não conseguiu privatizar nada quando foi prefeito", retrucou o pessebista.
"Todos os programas que Doria fala, ele teve oportunidade de fazer e não fez."
Como nos outros blocos, o ex-governador Geraldo Alckmin também foi usado pelo pessebista para colocar Doria como traidor e carreirista.
"Você havia prometido 43 vezes ficar os quatro anos na prefeitura, mas se elegeu e já quis tomar o lugar do Alckmin como candidato do PSDB à Presidência", relembrou. "O Alckmin ficou tão chateado que brigou com você em público."
Em um dos poucos momentos que houve espaço para apresentação de propostas, Doria prometeu expandir o programa "Cheque-moradia" no Estado e França propôs levar moradias para prédios já existentes do centro de São Paulo.
Em sua despedida dos debates, França, o primeiro a falar, disse que o eleitor sabe "quem fala a verdade" e disse ter certeza de que São Paulo quer mudança.
"São 24 anos de PSDB. Dê uma chance para o novo acontecer em São Paulo. Eu não faço oportunismo barato", disse.
Doria, que foi alvo esta semana da divulgação de um vídeo sexual supostamente com sua participação, disse repudiar as agressões e "fake news" contra sua família. Como nos debates anteriores, o tucano voltou a pedir voto para Jair Bolsonaro.