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Em SP, príncipe Harry visita região da Cracolândia

Na manhã desta quinta, príncipe interagiu com dependentes químicos e conheceu as instalações do Programa Braços Abertos da Prefeitura de São Paulo

Harry: príncipe encerrou visita sem conhecer quadra do Largo Sagrado Coração de Jesus (Nacho Doce/Reuters)

Harry: príncipe encerrou visita sem conhecer quadra do Largo Sagrado Coração de Jesus (Nacho Doce/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 26 de junho de 2014 às 16h57.

São Paulo - A realeza britânica esteve na Cracolândia, na região central, chegou atrasada e não conseguiu terminar a visita, mesmo com todo o rigor da programação do Consulado Britânico.

Na manhã desta quinta-feira, 26, o príncipe Harry visitou a região, interagiu com dependentes químicos e conheceu as instalações do Programa Braços Abertos da Prefeitura de São Paulo.

Antes da chegada, equipes de limpeza varreram e lavaram as ruas da região. O príncipe atrasou em pelo menos 45 minutos sua chegada e deixou o prefeito Fernando Haddad (PT) esperando em frente à Estação Júlio Prestes.

Por volta das 8h45, acompanhado por uma escolta de dez carros (entre seguranças e policiais federais), Harry chegou no local.

Enquanto o prefeito aguardava a realeza, um manifestante com um cartaz criticava o programa.

"Não tem que investir em assistência social, não. Os viciados não tem jeito e você fica gastando dinheiro com eles. Tem que construir hospital", gritava o vigilante Célio de Souza, 38 anos, para o prefeito.

"A alternativa da Cracolândia é deixar como estava antes", afirmou.

Harry foi recepcionado por Haddad e a primeira-dama Ana Estela Haddad.

O casal o levou para conhecer um ônibus de monitoramento da Guarda Civil Metropolitana (GCM).

Ao sair do veículo, ele passou ao lado de grupo de usuários de droga e entrou na tenda da Prefeitura na Rua Helvétia.

O secretário municipal de Segurança Urbana, Roberto Porto, e a secretária municipal de Assistência Social e Cidadania, Luciana Temer, também acompanharam a visita do príncipe.

"Pelo contato que tive, que foi limitado, ele gostou do que viu. Ele quis saber a lógica de se ter um local monitorado com as pessoas continuando a venda de crack", afirmou Porto.

Um dos princípios do programa é o de oferecer dignidade aos dependentes químicos com trabalho e hospedagem em hotéis da região sem obrigá-los a deixar de usar a droga.

Ainda de acordo com o secretário, Harry fez "diversas" perguntas para o prefeito e Haddad explicou os detalhes do programa.

Após passar pela tenda, onde interagiu e tirou fotos com dependentes químicos, Harry seguiu para o galpão dos garis contratados pela Prefeitura, na Alameda Barão de Piracicaba.

Do lado de fora, houve um princípio de tumulto devido ao acúmulo de dependentes químicos, moradores da região, curiosos e jornalistas.

Com um cachimbo em cada mão, uma viciada começou a gritar para o príncipe e depois agrediu um fotógrafo e um cinegrafista.

Um jornalista que subiu sobre uma Kombi para tentar fotografar Harry quase foi agredido pelo proprietário do veículo.

"Você amassou o teto, cara. Não estou nem aí se você queria fotografar o príncipe, esse carro eu uso para trabalhar", gritou o dono da Kombi que depois trocou telefones com o fotógrafo.

Enquanto isso, dentro do galpão, Harry tirava fotos com alguns dos 394 inscritos no programa que recebem R$ 15 por dia para fazer serviços de zeladoria urbana na região.

Sem usar drogas há três meses, a gari Ieda Santos da Silva, de 56 anos, foi uma das que conseguiu uma foto com o príncipe.

Com lágrimas nos olhos, ela afirmou que estar com Harry foi um dos dias mais importantes da vida dela.

"Me senti muito especial com a visita e com a foto. Ele fez questão de colocar a mão no meu ombro, sorrir para a câmera e me cumprimentar. Vou lembrar disso para o resto da minha vida", afirmou.

Já a assistente social Michelle Borges, de 26 anos, que há seis meses trabalha no programa, afirmou que a visita pode ser benéfica para outros dependentes químicos.

"Vai incentivar outras pessoas em participarem. Tudo que se faz aqui e quebra a rotina da região contribui." Ela também tirou uma foto com o príncipe. "Com certeza vou postar no Facebook."

Outros moradores da região não estavam muito empolgados com a visita.

"Não adianta nada a realeza vir aqui e deixar a miséria para trás. Para mim não muda nada, vamos continuar esquecidos no canto mais feio da cidade", disse a comerciante Ednalva Borges Furtado, de 37 anos.

"Eu não quero saber de príncipe. Enquanto ele mora em um castelo eu vivo na rua, sem ter para onde ir", disse o ambulante Antônio Bezerra dos Santos, de 46 anos.

Mas os cabelos ruivos de Harry encantaram um grupo de travestis. "Ele é lindo. O cabelo dele é coisa mais incrível que eu já vi. Fiquei apaixonada por ele", afirmou a travesti que se identificou como Natasha, de 23 anos, e é usuária de crack. 

Após a visita ao galpão, o príncipe encerrou a visita sem conhecer a quadra do Largo Sagrado Coração de Jesus.

No local havia três crianças que fazem parte de um grupo de ciganos que mora na Cracolândia.

Após a saída da família real, das autoridades paulistanas e do efetivo maior de policiais e guardas civis, a rotina do bairro voltou ao normal.

Cerca de 30 minutos após o encerramento do evento, os dependentes químicos retomaram as ruas para consumir a droga nas esquinas da Cracolândia.

"Venha quem vier, mas a Cracolândia sempre vai ser nossa", disse um viciado que não quis se identificar e ameaçou atirar uma pedra na reportagem.

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