Bolsonaro: presidente se exaltou com a declaração do governador de São Paulo e chegou a chamá-lo de "leviano" e "demagogo" (Ueslei Marcelino/Reuters)
Reuters
Publicado em 25 de março de 2020 às 11h13.
Última atualização em 25 de março de 2020 às 12h18.
A reunião virtual entre Jair Bolsonaro e governadores do Sudeste, na manhã desta quarta-feira, 25, foi marcada por cobranças de responsabilidade e bate-boca com o governador de São Paulo, João Doria (PSDB).
O estopim da discussão, que já vinha se intensificando entre os dois nos últimos dias, foi o pronunciamento em cadeia nacional do presidente na noite de ontem. Na ocasião, Bolsonaro questionou a quarentena imposta por estados, entre eles São Paulo, pelo coronavírus. Bolsonaro defendeu a volta do país à "normalidade", ignorando recomendações explícitas de especialistas e do próprio ministro da Saúde, Luiz Mandetta, sobre a necessidade de isolamento social.
Doria disse no encontro que o presidente deveria "dar exemplo ao país, e não dividir a nação em tempos de pandemia". Segundo pessoas que participaram da reunião, Bolsonaro se exaltou com a declaração do governador de São Paulo e chegou a chamá-lo de "leviano" e "demagogo".
Posteriormente, o governador paulista foi ao Twitter se dizer decepcionado com a postura do presidente. "Presidente, no nosso Estado temos 40 mortos por COVID-19 dos 46 em todo o Brasil. São pessoas que tinham RG, CPF, e familiares que continuarão sentindo sua falta. Não são mortos de mentirinha, presidente. E essa não é apenas uma “gripezinha”", escreveu.
Presidente, no nosso Estado temos 40 mortos por COVID-19 dos 46 em todo o Brasil. São pessoas que tinham RG, CPF, e familiares que continuarão sentindo sua falta. Não são mortos de mentirinha, presidente. E essa não é apenas uma “gripezinha”.
— João Doria (@jdoriajr) March 25, 2020
Até a noite desta terça-feira, 24, o Ministério da Saúde contabilizava 2.201 casos confirmados para a doença infecciosa e 46 mortos.
Na reunião desta manhã, a fala de Doria sobre a postura do Bolsonaro durou cerca de 5 minutos. “Sem diálogo não venceremos a pior crise de saúde pública da história de nosso país. Bolsonaro, início na condição de cidadão, de brasileiro, lamentando seu pronunciamento de ontem à noite à nação", começou Doria.
"Nós estamos aqui, os quatro governadores do Sudeste, em respeito ao Brasil e aos brasileiros, e em respeito também ao diálogo e ao entendimento. O senhor, como presidente da República, tinha que dar o exemplo. Tem que ser um mandatário para comandar, para dirigir e para liderar o País e não para dividir”, disse o governador.
Ainda segundo Doria, o objetivo principal do governo seria salvar vidas. “A nossa prioridade é salvar vidas, presidente. Estamos preocupados com as vidas de brasileiros em nossos Estados. Preservando também empregos e o mínimo que a economia possa se manter ativa. Os Estados estão conscientes disso e governadores também”.
Bolsonaro reclamou que o governador teria se apoderado do nome dele nas eleições de 2018 e depois "virou as costas" como fez todo mundo. "Se você não atrapalhar, o Brasil vai decolar e conseguir sair da crise. Saia do palanque", disse Bolsonaro a João Doria.
O governador do Espírito Santo, Renato Casagrande, também cobrou liderança e responsabilidade do presidente da República.
Os governadores do Sudeste pediram, ainda, a suspensão por um ano do pagamento das dívidas dos Estados com a União.
Doria também defendeu ainda que o governo federal atue junto ao Banco Mundial e ao Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) pela suspensão, também por um ano, do pagamento das dívidas dos Estados com esses organismos multilaterais de crédito.
O tucano também pediu que portos e aeroportos sigam abertos para permitir a importação de insumos, a antecipação do pagamento de parcelas da Lei Kandir aos Estados e a alertou que o governo paulista tomará medidas judiciais caso o Ministério da Saúde atue para confiscar equipamentos médicos, como respiradores, adquiridos por São Paulo.