Em carta, PCC ameaça matar promotor caso cúpula seja transferida de SP
Os alvos da facção seriam o promotor Lincoln Gakiya e o coordenador dos presídios na região oeste do Estado, Roberto Medina
Estadão Conteúdo
Publicado em 10 de dezembro de 2018 às 15h03.
Última atualização em 10 de dezembro de 2018 às 15h05.
O Primeiro Comando da Capital (PCC) prepara uma série de atentados contra autoridades em São Paulo, caso a Justiça determine a transferência da cúpula da facção para o sistema prisional federal.
Carta apreendida no domingo (9) pela polícia indica que os alvos seriam o promotor Lincoln Gakiya e o coordenador dos presídios na região oeste do Estado, Roberto Medina.
O documento estava com Maria Elaine de Oliveira e Alessandra Cristina Vieira, mulheres de presos da Penitenciária 2 (P2) de Presidente Venceslau, onde cumprem penas os chefes da facção criminosa, entre eles Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola. A polícia o encontrou na bolsa de Maria Elaine, guardada no carro dirigido por Alessandra.
De acordo com a inteligência da polícia, nele havia a transcrição de dois "salves", comunicados da facção com ordens ou pronunciamentos de sua cúpula e a resposta dos subordinados.
No primeiro, os bandidos afirmam à cúpula que estão com o levantamento completo do primeiro alvo, chamado pelos bandidos de "frango".
"Dá pra fazer ele a hora que quiser. Nóis (sic) já tem o carro e o orário (sic) tudo dele." O alvo seria Medina, que, como coordenador dos presídios da região oeste, tem sob suas ordens a P2.
A comunicação continua afirmando que o outro "frango", o "japonês" (o promotor Lincoln Gakiya, responsável por investigar a atuação da cúpula da facção) "é um pouco mais complicado".
O problema aqui seria a rota de fuga depois do ataque. "A cidade dele é bem maior", diz o documento, que estava criptografado e foi decodificado pelos agentes.
O segundo "salve" codificado mostra que a missão de matar as duas autoridades seria cumprida pelo setor doPCCconhecido como "sintonia restrita", responsável por assassinatos de integrantes do sistema penitenciário federal em 2016 e 2017.
Ele havia sido enviado pela cúpula da facção ao grupo. "Essa missão é de extrema, pois se o amigo aqui for para a federal, essa situação tem que ser colocada no chão de qualquer forma", diz o "salve".
O documento prossegue mostrando a importância que a cúpula dá para a missão. "Os amigos querem informações toda semana para saber se vocês estão chegando com a sintonia com lealdade já demonstrada em outras situações importantes da família. Infelizmente a carona não deu certo. Existe (sic) traidores no meio de nois (sic) mas esses na melhor hora vão ter a resposta à altura".
Pedido
Na semana passada, o Ministério Público Estadual (MPE) apresentou um pedido assinado por uma dezena de promotores em que se solicitava à Justiça a transferência de Marcola e outros 13 integrantes da cúpula da facção.
O Judiciário ainda não decidiu o que fazer. Em novembro, a Justiça havia determinado a ida de seis presos da chamada Sintonia de Outros Estados e Países para o sistema federal, em razão da participação deles nos crimes descobertos durante a Operação Echelon, como a execução de dezenas de rivais em outros Estados e o tráfico de drogas.
A cúpula da facção de imediato começou a planejar uma represália. Seu plano era matar o ex-secretário da Segurança Pública Antonio Ferreira Pinto. Também planejou um resgate da cúpula, por meio do ataque à P2 de Presidente Venceslau.
Para tanto, mercenários foram contratados para explodir a muralha e extrair de suas celas os chefes da facção, que seriam transportados para o exterior em aviões.
Desde que os dois planos foram descobertos, Ferreira foi posto sob segurança e quase uma centena de homens do Comando de Operações Especiais (COE), armados com metralhadoras, e das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), blindados e helicópteros foram levados para Presidente Venceslau, a fim de proteger o perímetro.
A inteligência desconfia que a descoberta desses planos é o que explica a referencia à "carona" feita em um dos "salves" apreendidos. Com as duas havia ainda bilhetes com anotações sobre o "bob geral dos pavilhões".
Segundo a polícia, trata-se de contabilidade de venda de maconha (bob) nos presídios. Ao lado de indicações sobre quilos, havia anotações sobre valores das vendas de até R$ 7,5 mil.
Visita
Com base nos documentos, a Seccional de Presidente Venceslau prendeu em flagrante as duas sob as acusações de colaboração com tráfico e organização criminosa.
Uma das mulheres estava registrada como visita na P2 de um detentos que divide a cela com Marcola, o que seria outro indício de que o líder doPCCestaria por trás dos planos de atentados contra as autoridades. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.