PSDB pressiona Doria a desistir do Planalto
Cúpula tucana quer se reunir hoje com o ex-governador com o objetivo de demovê-lo do projeto presidencial
Agência O Globo
Publicado em 18 de maio de 2022 às 08h24.
Última atualização em 18 de maio de 2022 às 09h29.
Em reunião realizada ontem em Brasília, a maioria da Executiva Nacional do PSDB decidiu fazer uma investida para tentar convencer o ex-governador de São Paulo João Doria a abrir mão de sua pré-candidatura à Presidência da República pelo partido. A cúpula da sigla vai chamar o correligionário para um encontro ainda hoje com o objetivo de demovê-lo do projeto de disputar o Palácio do Planalto.
O plano uniu o presidente da legenda, Bruno Araújo, e o deputado mineiro Aécio Neves. Embora sejam contrários à candidatura de Doria, ambos vinham trocando farpas públicas recentemente.
O nó que amarra Doria e grande parte do PSDB passa pelo caminho a ser trilhado pelos partidos da chamada terceira via — PSDB, MDB e Cidadania. As três siglas marcaram para hoje o anúncio do nome que encabeçaria a chapa presidencial apoiada pelo grupo. Doria, porém, dá sinais de que não está disposto a deixar o páreo para apoiar quem quer que seja, mesmo que essa fosse a decisão da maioria do bloco. O ex-governador se fia no fato de o PSDB ter aprovado em prévias o nome dele para representar o partido na corrida pela Presidência.
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Diante do impasse, então, a Executiva do partido resolveu agir. Para Bruno Araújo, não é possível “dar nenhum passo” em relação ao candidato único da terceira via sem um “diálogo interno” com Doria.
— Isso passa por um processo de diálogo e construção em que ele (Doria) tenha também a percepção das dificuldade políticas, mas também o poder político que ele tem como pré-candidato — disse Araújo.
Em contraste ao tom cauteloso adotado pelo presidente do partido, Aécio foi mais incisivo nas reais intenções da “convocação” de amanhã. O deputado mineiro é inimigo político declarado de Doria, que já trabalhou, sem sucesso, para expulsá-lo do PSDB.
— (Será) Uma convocação, mais do que um convite, para ouvirmos o governador João Doria. E darmos a oportunidade a ele de ouvir a realidade, que a sua candidatura traz prejuízos aos estados. Dar a ele a oportunidade de sair desse processo. Eu tenho a expectativa ainda de um gesto de desprendimento e grandeza do próprio governador — disse Aécio.
Anúncio adiado
Em outra frente de ação, os tucanos vão trabalhar junto aos caciques de MDB e Cidadania para adiar o anúncio do candidato único da terceira via.
— Não estamos na fase de avaliar qual candidatura deve seguir. A percepção nossa é primeiro ter um diálogo com Doria. E, com a participação dele, chegarmos a um entendimento definitivo que possa unir parceiros como o MDB — justificou Bruno Araújo.
O GLOBO apurou que, ao saber do resultado da reunião ocorrida em Brasília, Doria indicou a aliados que aceitaria se sentar a portas fechadas com um quórum reduzido a dez correligionários: cinco indicados por ele e outros cinco escalados por Araújo.
Antes de deliberar sobre o chamado ao ex-governador para uma reunião, tanto o grupo de Araújo quanto o de Aécio repudiaram a carta, divulgada nesta semana, em que Doria ameaça recorrer à Justiça se não for lançado como candidato do PSDB após ganhar as primárias no ano passado.
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Mesmo apoiadores de Doria concordaram que a referida carta, na qual ele se colocava como vítima de um “golpe” foi um “equívoco”.
— Não se discute eleições juridicamente, mas no diálogo, na política — disse o líder do PSDB no Senado, Izalci Lucas (DF).
Na reunião, o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), que chefia o jurídico da sigla, também se posicionou contrário ao teor da carta. Tanto Sampaio como Izalci apoiaram a candidatura de Doria nas prévias do PSDB.
Aliados de Araújo acreditam, porém, que Doria tende a conseguir decisões favoráveis na Justiça, visto que o estatuto tucano prevê que o vencedor das prévias deve ter sua candidatura homologada na convenção nacional. Nesse cenário, a resposta seria uma asfixia financeira —na prática, um boicote ao ex-governador. Cabe a cada legenda estabelecer os critérios para a distribuição interna dos recursos do fundo eleitoral, desde que cumpridos todos os requisitos definidos pela legislação, como, por exemplo, a cota de gênero de 30%.
— Se a maioria da Executiva decidir não transferir recurso algum para Doria, está decidido, o partido tem essa liberdade — explica o advogado Michel Bertoni, especialista em direito eleitoral , que complementa: — Um eventual “boicote” financeiro só poderia ser verificado a partir do final de julho, quando os partidos devem começar a enviar as regras de distribuição do fundo eleitoral ao TSE. Até que isso ocorra, a sigla fica sem o dinheiro do fundo para campanha.