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Eleições mais difíceis, maior assimetria nos mercados

A política internacional e seus respectivos pleitos eleitorais dialogam cada vez mais, e em tempo real, com a prosperidade da sociedade e com isso afetam as expectativas dos mercados

Urna eletrônica: Brasil teve a disputa mais acirrada da história democrática. (Evaristo Sa/AFP/Getty Images)

Urna eletrônica: Brasil teve a disputa mais acirrada da história democrática. (Evaristo Sa/AFP/Getty Images)

Da Redação
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Redação Exame

Publicado em 29 de abril de 2023 às 08h11.

Por Mauricio Moura e Fabio Okumura

“Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles que gostam” é uma célebre frase do pensador grego Platão. Ele foi discípulo de Sócrates e o primeiro teórico idealista ao desenvolver pensamentos em diversas frentes como amor, amizade, justiça, imortalidade e, claro, política. Se Platão vivesse na era moderna da política mundial certamente estaria pensando profundamente sobre as atuais complexas circunstâncias eleitorais.

A política internacional e seus respectivos pleitos eleitorais dialogam cada vez mais, e em tempo real, com a prosperidade da sociedade e com isso afetam as expectativas dos mercados. O roteiro eleitoral composto por disputas extremamente acirradas, polarização política e eleitores decidindo na última hora se repete mundo  afora e, com isso, produz assimetrias de navegação nada triviais para os investidores.

Primeiro, eleições com resultados com margens mínimas de diferença passaram a ser rotina nas Américas e no mundo. No Uruguai, o candidato de centro-direita Luis Lacalle Pou venceu por 50,8% x 49,2 de Daniel Martínez.  Na eleição peruana, Pedro Castillo venceu com a margem mínima (50,12%) a filha do ex-presidente Alberto Fujimori (Keiko Fujimori). Já no Equador, Guillermo Lasso derrotou o grupo político do ex-presidente Rafael Correa por 52,5% a 47,5% dos votos válidos.

No pleito colombiano, o candidato de esquerda Gustavo Petro acabou sendo eleito em uma corrida bastante apertada contra o empresário Rodolfo Hernandez. Nos Estados Unidos, o democrata Joe Biden fechou a disputa contra Donald Trump com uma diferença de aproximadamente 7 milhões de votos em um universo de mais 150 milhões contabilizados em 2020.

Projeção de resultados

No Brasil, em 2022, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito com a menor diferença percentual da história das eleições presidenciais brasileiras. Aqui há uma contradição digna da realidade atual: nunca se teve tanta pesquisa, análise e dados eleitorais e, ao mesmo tempo, nunca foi tão complexo projetar resultados das eleições majoritárias.

Um dos motivos para tal é a polarização excessiva. Em todos os pleitos citados acima (e muitos outros) os eleitores vivem, na prática, uma batalha entre polos políticos (ou eleitorais). Difícil imaginar em termos de políticas públicas, alternativas tão opostas como Trump x Biden, ou Castillo x Fujimori, ou Petro x Hernandez, ou Lula x Bolsonaro, ou até mesmo os franceses Emmanuel Macron x Marine Le Pen.

Não estamos vivendo a era de alternância de poder entre a centro-esquerda e centro-direita. Tempos que as mudanças de rumos de políticas públicas eram essencialmente pontuais e não estruturais. Atualmente, na maioria dos paises, os vencedores de eleições super disputadas e apertadas tem visões extremamente antagônicas dos derrotados. Essa dualidade de caminhos as vésperas de eleições injetam incertezas adicionais aos investidores.

Swing voters

Para complicar, os eleitores críticos para a decisão das disputas, aqueles conhecidos na literatura de Ciência Política como “swing voters”, ou eleitores que constantemente mudam de lado, estão decidindo seus votos cada vez mais próximo do dia da votação (para não dizer na véspera). O acesso a telefonia móvel com sua infinidade de informações amplamente disponíveis fez com que o eleitor, mesmo no dia da votação, possa ter plena condição de avaliar as alternativas.

Por outro lado, os votantes são muito mais expostos a conteúdos falsos e desinformação. Um ambiente muito diferente de décadas anteriores .  Na prática, a reta final das campanhas presidenciais tem nos brindado com alta indecisão de eleitores bombardeados por conteúdo e com isso maior imprevisibilidade em relação aos resultados.

Portanto, a combinação desses fatores político-eleitorais produz muita volatilidade e mais assimetria dos mercados as vésperas e logo depois de eleições importantes. Exemplos não faltam para corroborar essa tese: a enorme desvalorização da libra esterlina logo após a vitória do Brexit no Reino Unido em 2016, ou a do peso mexicano nos dias que sucederam o êxito de Donald Trump no mesmo ano.

No Brasil, as semanas pré e pós turnos presidenciais costumam produzir variações fora do padrão desde 2002. E, vale lembrar, que o calendário global de eleições nacionais trará diversos pleitos com grande dificuldade de leitura e muito potencial de volatilidade, com destaque para Turquia e Argentina em 2023 e Taiwan, África do Sul, Mexico, Estados Unidos e Reino Unido em 2024. Se Platão ainda estivesse entre nós talvez pensasse que não há nada de errado com investidores que não gostam de acompanhar a política eleitoral global, mas certamente esses terão de navegar nas mesmas assimetrias de mercado daqueles gostam e acompanham.

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