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Eleições: candidatos estaduais 'isentões' se afastam de Lula e Bolsonaro

Pré-candidatos aos governos da Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Piauí e Tocantins adotam neutralidade como estratégia no primeiro turno

 (Foto Lula: Bloomberg / Foto Bolsonaro: Evaristo Sa/Getty Images)

(Foto Lula: Bloomberg / Foto Bolsonaro: Evaristo Sa/Getty Images)

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Agência O Globo

Publicado em 9 de maio de 2022 às 10h02.

Última atualização em 9 de maio de 2022 às 10h03.

Para não correr o risco de perder votos, pré-candidatos aos governos estaduais de Bahia, Minas Gerais, Pernambuco, Piauí e Tocantins têm se esforçado para manter uma postura neutra em relação ao cenário de polarização nacional.

Entre os motivos para não apoiar nomes na disputa — mesmo entre os dois mais bem colocados nas pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) — estão acordos regionais, alto índice de aprovação da gestão e composições extraoficiais feitas pelo próprio eleitorado.

Cortejado pelo presidente Jair Bolsonaro, o governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), tem sido aconselhado por interlocutores a não declarar voto a nenhum dos dois pré-candidatos.

A avaliação, segundo pessoas próximas à direção nacional, é a de que o chefe do Executivo mineiro já desfruta de uma alta aprovação em seu estado, enquanto Bolsonaro tem rejeição de mais da metade do eleitorado. Além disso, um eventual comprometimento com um dos dois cotados preocupa aqueles que veem nascer no estado o voto “LulaZema”.

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Por enquanto, o governador eleito na onda do bolsonarismo em 2018 mal se pronunciou acerca das eleições presidenciais deste ano e, quando questionado, tem declarado apoio ao pré-candidato do Novo, Felipe d’Avila.

— O governador não tem pretensão de tomar lado nessa disputa nacional. Não é do perfil dele, que é mais ameno, mais suave e tenta ficar fora dessa situação de extremar opiniões. Ao mesmo tempo, é um dos poucos governadores que mantiveram relação de respeito com Bolsonaro. Mas, se o Novo lançar candidato, impede qualquer tipo de manifestação — afirma o ex-secretário geral do governo de Minas Gerais Mateus Simões, que deixou o posto no início do mês para preparar a campanha de Zema à reeleição.

Outro que cogita não apoiar nome algum em 22 é ACM Neto (União Brasil) e ex-líder da oposição ao PT. Ele aposta, no entanto, no voto “LulaNeto” para vencer as eleições na Bahia.

Como Lula tem superioridade eleitoral histórica no Nordeste, o ex-prefeito de Salvador não vê outro caminho a não ser adotar a postura de “mergulhar” e se afastar ao máximo de temas nacionais.

Presidente do União Brasil no estado, o deputado Paulo Azi afirma que a neutralidade se impôs em função do arco de alianças construído em torno da candidatura de ACM Neto, que inclui siglas como PDT, Podemos, Republicanos e Solidariedade.

— São diversos partidos com pré-candidatos à Presidência distintos, então a neutralidade acabou sendo uma imposição e também uma atitude em respeito a essas legendas — afirmou o deputado, negando que a atitude possa ser mal interpretada pelo eleitorado ou tenha relação com Lula. — Já estamos procurando transmitir ao eleitor essa posição. Neto tem dito com clareza que vai estar preparado para governar com o presidente escolhido pela população brasileira.

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A situação se repete em outros estados do Nordeste e também do Norte, onde Lula tem vantagem sobre Bolsonaro. Piauí é exemplo disso: lá, Silvio Mendes (União Brasil) é o candidato do ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), mas tem repetido publicamente fará campanha para Bolsonaro.

Em entrevistas, Mendes afirma que a questão nacional está “distante” e irá dedicar seu tempo e energia ao estado do Piauí. No Tocantins, aliados de Wanderlei Barbosa (sem partido) dizem que ele também quer distância das questões nacionais. O político tomou posse como governador em março deste ano, após Mauro Carlesse (PSL), de quem era vice, renunciar para evitar um impeachment.

“Pseudoneutros”

Para cientistas políticos, esse tipo de postura se baseia apenas em cálculo político-eleitoral.

— Os “isentões” são pseudoneutros. Não têm nada de estratégia por princípio. Eles têm lado, mas preferem esconder. Num segundo turno contra um candidato apoiado pelo Lula, muitos teriam dificuldade de bancar de “isentões“ — afirma o professor de ciência política da FGV Cláudio Couto.

Em Pernambuco, o ex-prefeito de Petrolina, Miguel Coelho (União Brasil), filho de Fernando Bezerra Coelho (MDB), que é ex-líder do governo Bolsonaro, também quer se desvincular da polarização nacional. Ao GLOBO, Coelho afirma que está preocupado apenas com os problemas de Pernambuco, seja o presidente de esquerda, direita ou de centro. Ao mesmo tempo, o ex-prefeito diz que poderá apoiar o nome que surgir num acordo da terceira via, caso haja uma candidatura única lançada por PSDB, Cidadania, MDB e União Brasil. A proximidade de Bolsonaro tem sido usada por adversários da esquerda como Marília Arraes (Solidariedade) e Danilo Cabral (PSB) para atacá-lo. Diante disso, para fazer um aceno ao eleitorado de esquerda ele chegou a dizer que "Lula é um patrimônio do povo brasileiro".

— Sou muito pragmático. Nem Lula, nem Bolsonaro são candidatos a governador. Mas os dois fazem parte da história do país. Trazer esse debate é algo que não é benéfico pro estado, que tem alguns dos piores indicadores sociais do país. O governador eleito tem que trabalhar com qualquer presidente, não dá para deixar a ideologia partidária influenciar nas demandas do estado — afirma Coelho, cujo pai foi da base de apoio dos governos petistas e foi ministro da Integração Nacional na gestão de Dilma Rousseff (PT) (2011 a 2013). Depois, porém, ele deixou o governo e votou a favor do impeachment.

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Estudioso de campanhas eleitorais, o cientista político Carlos Melo relembra o contexto da direita popular baiana.

— ACM Neto é um herdeiro da tradição do 'Carlismo', que vem da antiga UDN, depois da Arena e PFL. É um movimento popular, mas é de direita. Embora o carlismo tenha raízes na Bahia, nos últimos anos o PT se tornou quase hegemônico no poder lá — afirma Melo, acrescentando: — Já Zema foi resultado da onda bolsonarista de 2018. Como ele vira as costas para uma base que o elegeu e que representa no eleitorado cerca de 30%? Esse percentual do voto bolsonarista, porém, não o elege num segundo turno e ainda tem o risco da rejeição do Bolsonaro colar e ele quebrar a cara. Então, o melhor é ficar ‘neutro’.

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