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Eleição mais pobre, cidade mais limpa

Com menos dinheiro para campanhas eleitorais, cavaletes e santinhos sumiram das ruas de São Paulo

Vale do Anhangabaú: com campanhas mais pobres, população quase não se lembra que as eleições estão próximas (Wikimedia Commons)
DR

Da Redação

Publicado em 23 de setembro de 2016 às 07h56.

São Paulo - Se eleição é mesmo a festa da democracia, essa, por enquanto, anda meio esvaziada. Quem estava acostumado com campanhas barulhentas, cheias de bandeirinhas, santinhos e agitação em ruas e praças, já notou a diferença.

A reportagem do jornal O Estado de S. Paulo visitou alguns endereços que, nas eleições de 2012, eram repletos de "vida eleitoral" - mas que hoje não guardam vestígios de nenhuma disputa.

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A nova legislação e a falta de recursos e de interesse são as explicações mais plausíveis para esse fenômeno.

Em 2012, o Vale do Anhangabaú, no centro de São Paulo , estava enfeitado com bandeirinhas do então candidato do PMDB Gabriel Chalita.

Não era difícil encontrar militantes panfletando ou pisar em algum santinho. Hoje, só moradores de rua, eventuais turistas e testemunhas de Jeová ocupam a área.

"Na época (2012), ganhei um dinheiro distribuindo papelzinho de vereador. Dessa vez, não apareceu ninguém oferecendo nada", afirmou o morador de rua Antônio Jesus, de 45 anos.

Outra praça que respirava eleição há 4 anos era a José Boemer Roschel, na Cidade Dutra, zona sul. Nessa praça concentrava-se a propaganda política de diversos vereadores que mantinham (e ainda mantêm) escritórios políticos na região, como Goulart, Milton Leite e Tatto.

Ao circular pelo local, o cidadão era afogado por bandeiras e cavaletes de Haddad, Russomanno e Serra (candidatos na época) e muito material dos já citados vereadores.

"Nem parece que vai ter eleição neste ano, né? Moro aqui perto e vivia reclamando da bagunça. Dessa vez, quase não se encontra nada. De vez em quando, aparece um gato pingado com uma bandeira", comenta a dona de casa Fátima Loureço Dias, 52 anos.

Avenidas como a Teotônio Vilela, na zona sul, e a Guilherme Cotching, na zona norte, tinham suas calçadas e canteiros centrais totalmente dominados por cavaletes (com a cara de candidatos sorridentes).

Os pedestres sofriam e a paisagem urbana era totalmente comprometida. E hoje?

"Se você não me falasse dos cavaletes, eu nem ia lembrar que eles existiram. Era impossível andar nas calçadas por causa deles", lembrou o comerciante da Avenida Guilherme Cotching Mauro Térsio Silva, 41 anos.

Regras

Não foi por consciência urbanística que nossos candidatos diminuíram suas ações de rua. A lei eleitoral sofreu alterações significativas.

Foi vedada pichação, inscrição a tinta, colocação de placas, faixas, estandartes, cavaletes, bonecos e peças afins em locais em que o uso dependa de permissão do poder público, ou que a ele pertençam.

Também foi proibido ao candidato ou comitê distribuir na campanha brindes, camisetas, chaveiros, bonés e etc. Soma-se a tudo isso o mais importante: o dinheiro diminuiu.

As doações de pessoas jurídicas foram proibidas e os recursos para gastar com propaganda ficaram mais modestos.

Em 2012, os dois candidatos que hoje também estão na disputa (Russomanno e Haddad) fizeram campanhas onerosas. Russomanno, segundo dados do TSE, gastou R$ 4,4 milhões (valores da época); e Haddad, R$ 64, 2 milhões (também valores da época).

No caso de Haddad, os gastos com gráfica ultrapassavam, em 2012, os R$ 2 milhões. Hoje, a campanha declara ter gasto menos da metade disso, R$ 933.392 (gastos por materiais impressos).

Já Russomanno declara ter gasto nesta campanha com material impresso R$ 169.800. Em 2012, os gastos com gráfica e produtos de comunicação visual foram praticamente o dobro dos declarados nesta eleição.

O coordenador do curso de Ciência Política da FESPSP, Humberto Dantas, diz que uma eleição "quase secreta" pode ter um efeito positivo. "Uma eleição assim vai obrigar o eleitor a pesquisar mais, prestar mais atenção e tentar se informar melhor", afirma.

Para o também cientista político Cláudio Couto, professor da FGV, a frieza da eleição municipal tem suas raízes na superexposição das questões nacionais, como impeachment, Lava Jato e até Olimpíada.

"A atenção está diluída. Talvez o quadro mude na última semana. Esta é uma eleição diferente", diz.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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