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Eleição de Bolsonaro seria uma "tragédia", diz The Economist

Desafio agora é "garantir que um presidente com impulsos autocráticos não subverta a democracia brasileira", diz revista

Revista: a publicação aponta que quase todos os partidos tomaram parte em corrupção (The Economist/Reprodução)

Revista: a publicação aponta que quase todos os partidos tomaram parte em corrupção (The Economist/Reprodução)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 26 de outubro de 2018 às 12h41.

Última atualização em 26 de outubro de 2018 às 17h25.

São Paulo - "Os brasileiros estão diante de uma escolha terrível": é assim que começa o editorial da edição da revista britânica The Economist publicada nesta quinta-feira (25).

De um lado, Fernando Haddad (PT) concorrendo por um partido responsável por uma "depressão econômica auto-infligida" e por encorajar propinas em escala "sem precedentes e em parte para prolongar seu controle do poder".

Do outro, Jair Bolsonaro (PSL), um "populista com instintos autoritários" cuja provável vitória é classificada como uma "tragédia" cuja raiz por ser vista na decepção com o resto da classe política.

A revista aponta que quase todos os partidos tomaram parte em corrupção e tem sua parcela de culpa pelo crime e pela estagnação econômica, que por sua vez estão relacionados a um Estado ao mesmo tempo grande e fraco demais na provisão de serviços.

Agora, surge um novo desafio: "garantir que um presidente com impulsos autocráticos não subverta a democracia brasileira", classificada como "relativamente jovem mas não fraca", diante das demonstrações de independência do Congresso, do Judiciário e da imprensa nos últimos anos.

A recomendação da Economist é que eventuais esforços de Bolsonaro para melhorar a economia tenham ajuda do campo político pois nem "nem todas as ideias de Bolsonaro são ruins", citando a sugestão de uma reforma da Previdência como exemplo.

Em outras questões, a revista sugere resistência - seja das polícias militares dos estados, em relação à promessa de dar carta branca para policiais matarem suspeitos, seja do Congresso, em relação à ideia de permitir um maior desmatamento da floresta amazônica, por exemplo.

De qualquer forma, a Economist conclui que Bolsonaro já prejudicou a nossa "cultura democrática" e que apesar de "provavelmente" não ter intenção de ser um ditador, terá de ser contido:

"No seu desespero, os brasileiros estão prestes a rejeitar um partido desacreditado em favor de um aventureiro político com ideias repelentes. Isso tem pouca chance de dar certo. Congressistas, juízes, jornalistas e servidores públicos terão que trabalhar duro para conter o dano".

Liberalismo

A mesma edição também traz um texto longo sobre Bolsonaro e sua "perversão do liberalismo", conceito que sempre norteou a revista desde sua fundação em 1843.

O texto lembra que o liberalismo é pouco enraizado na América Latina, em parte pela herança escravagista e em parte pela influência do positivismo de Auguste Comte, eternizada na mensagem "ordem e progresso" da bandeira brasileira.

Na ilustração da matéria, Bolsonaro puxa o lema em detrimento das palavras "liberdade e igualdade". A revista lembra que sua conversão ao liberalismo é muito recente e ironiza o "power point que passa como seu programa de governo".

São lembradas as experiências do Chile com Augusto Pinochet e do Peru com Alberto Fujimori em que combinações de autoritarismo na política e liberalismo na economia deram frutos, mas com um alto custo humano e consequências nefastas no longo prazo.

"Separar a liberdade econômica da política pode parecer um atalho para o desenvolvimento. Mas na América Latina ele raramente é: a demanda por governo forte compete com um anseio persistente por liberdade", conclui o texto.

Há cerca de um mês, a revista deu uma reportagem de capa sobre Bolsonaro o classificando como uma ameaça para a democracia.

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