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Educação é chave contra crise hídrica no DF, diz especialista

Sistema de racionamento de água, adotado pela primeira vez no DF, vai afetar 1,8 milhão de habitantes

Água: entre as medidas anunciadas pelo governo do Distrito Federal está o aumento da conta (Fred Tanneau/AFP)
AB

Agência Brasil

Publicado em 16 de janeiro de 2017 às 11h20.

O professor da Universidade de Brasília (UnB) Mario Diniz de Araújo Neto, especialista em assuntos hídricos, disse que a educação é a chave para evitar a crise hídrica no Distrito Federal (DF).

"Não adianta multar, aumentar a conta, as pessoas se ajustam. É fundamental começar com a questão da educação na escola, tanto na rede pública quanto privada. A criança tem um poder muito grande de sensibilizar os adultos e será o adulto de amanhã", acrescentou.

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Pela primeira vez no DF, começa hoje (17) um sistema de racionamento de água, que vai afetar 1,8 milhão de habitantes. Para o professor, é necessário também sensibilizar a população de usuários sobre como funciona o ciclo hidrológico na região.

"A mudança no uso, na compreensão da população sobre a ameaça do uso inadequado da água é o que fará, de fato, a diferença no sistema".

Entre as medidas anunciadas pelo governo do Distrito Federal para amenizar e controlar a crise hídrica na região está o aumento da conta, com a tarifa de contingência sobre o consumo.

Além disso, serão estabelecidas restrições de horários para captação de água por caminhões-pipa e a divulgação de orientações para estabelecimentos comerciais, como lava-jato.

De acordo com Neto, organismos internacionais definem a disponibilidade hídrica segura para o ser humano de 5 mil metros cúbicos por ano. No Distrito Federal, o índice chega a 1,5 mil metros cúbicos por ano.

"A própria natureza, o regime das chuvas no DF, já nos coloca esse limite. Essa questão de racionamento está muito ligada à ocupação e ao uso irregular do solo, desmatamento, asfaltamento, degradação de nascentes. Tudo isso aliado a um problema de gestão do governo local", afirmou.

O professor citou o uso excessivo de água nos estabelecimentos comerciais para o agravamento da situação da cidade, aliado ao uso inadequado pelos moradores.

"Os abatedouros de frangos retiram água de poços artesianos. Em média, se produz 60 mil frangos por ano, cada um desses gastando 15 litros de água na limpeza, por baixo", diz. "O Lago Sul tem um gasto médio por habitante de 700 litros/dia, quando o normal é que se gaste cerca de 150 litros. O indivíduo vai encher piscina, lavar calçada, é um uso perdulário da água. Nós não vamos conseguir mudar o regime hídrico da região dessa forma".

Abastecimento

O Distrito Federal é abastecido por dois diferentes sistemas: 85% da população têm água de dois reservatórios, o do Descoberto e o de Santa Maria, e os outros 15% e parte dos produtores agrícolas recebem diretamente de, pelo menos, cinco córregos.

O nível do reservatório da Barragem do Descoberto, abaixo de 20%, e o índice de chuvas menor do que o esperado em dezembro e janeiro levaram a Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico do Distrito Federal (Adasa-DF) e a Companhia de Saneamento Ambiental (Caesb) a adotar o racionamento.

A medida será em ciclo de seis dias: um dia com interrupção completa, dois dias de estabilização e três de fornecimento normal. Na fase de estabilização, a água retorna ao consumidor gradativamente.

Para evitar riscos de rompimentos da tubulação, o fluxo da água é religado de forma gradual, até o completo preenchimento das redes. No sétimo dia, o corte de abastecimento é retomado.

As áreas afetadas serão Águas Claras, Candangolândia, Ceilândia, Gama, Guará, Núcleo Bandeirante, Park Way, Recanto das Emas, Riacho Fundo 1 e 2, Santa Maria, Samambaia, Taguatinga e Vicente Pires.

Além da interrupção do fornecimento de água, moradores do DF terão a pressão da água reduzida, a partir de 30 de janeiro, na região abastecida pelo reservatório de Santa Maria.

De acordo com a Caesb, esse reservatório está com nível de água em torno de 40%. Estão inseridos nessa área o Plano Piloto, Cruzeiro, Sudoeste, Octogonal, Lago Sul, Lago Norte, Paranoá, Varjão, Itapoã e Jardim Botânico.

De acordo com Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), a média do índice pluviométrico no DF em janeiro é de 225 milímetros (mm). Nos dez primeiros dias de 2017, foram registrados 19 mm.

Segundo a Caesb, a captação foi reduzida de 5,1 mil litros por segundo para 4,4 mil litros por segundo com a diminuição da pressão. O rodízio no abastecimento tem o objetivo de diminuir mais 10% dessa captação para preservar a Barragem do Descoberto no período de seca.

População

Para Rayssa Oliveira, moradora de Samambaia, será preciso um preparo para se acostumar com a medida. "É difícil, pois não estamos acostumados com essas medidas que estão sendo tomadas.

O racionamento influenciará, de certa forma, a rotina de todos. Teremos que nos preparar para aprender a lidar com uma quantidade de água mínima durante os nossos dias", disse.

Ricardo Vaz, morador de Taguatinga Sul, considera que o desperdício ao longo do ano é a razão do racionamento. "É difícil imaginar que em uma época de chuva, temos que racionar água. Isso, provavelmente, acontece porque a água é frequentemente desperdiçada ao longo do ano. Sempre tive consciência do uso e reaproveitamento da água, então, é mais fácil estar preparado para isso".

Vaz disse ainda que depende da consciência de outros para que isso não afete sua rotina. "Moro em apartamento, e a água da caixa é compartilhada. O que me preocupa não é o que eu gastarei, mas o que os outros inquilinos gastarão. Isso pode atrapalhar o funcionamento do prédio como um todo. Precisamos de água pelo menos para o básico (beber, cozinhar, tomar banho) e, se der, para lavar roupa".

Aline Melo, moradora de Samambaia Sul, lembrou que é preciso maior controle quando se tem crianças. "Acredito que estou preparada para essa realidade. Sempre fomos conscientes em casa, mas com crianças é mais difícil controlar".

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