EDUARDO PAES: “Jamais apoiaria um espancador de mulher. O Pedro Paulo vai mostrar sua inocência” / Buda Mendes/ Getty Images (Buda Mendes/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 14 de julho de 2016 às 11h51.
Última atualização em 22 de junho de 2017 às 18h00.
O advogado Eduardo Paes assumiu a prefeitura do Rio de Janeiro em 2009 e, desde que a cidade foi escolhida como sede dos Jogos Olímpicos, fez do evento a bandeira de sua gestão. Agora, quando deveria colher os frutos do trabalho, as atenções se voltam para problemas como a epidemia de zika, a violência, a crise no país, a poluição, a calamidade do estado do Rio. A imagem do prefeito ainda ficou arranhada após ofender a cidade de Maricá num telefonema e após o desabamento de uma ciclovia que resultou em duas mortes. O prefeito falou com EXAME Hoje sobre o legado dos Jogos, as contas do Rio, as eleições municipais, e a vaia que prevê levar no Maracanã (uma versão resumida da entrevista foi publicada na atual edição da revista EXAME).
Estamos a menos de um mês dos Jogos Olímpicos. Qual a principal preocupação agora?
Não tem uma principal preocupação. A boa notícia é que está tudo pronto. Todos os equipamentos esportivos. No sábado, entreguei a última obra, a Transolímpica, que liga os parques olímpicos. O metrô vai ser entregue pelo governo do Estado entregando às vésperas da Olimpíada. Todas as obras do legado foram feitas, as arenas testadas e estão funcionando. Estamos no arremate final, tem coisa provisória, estruturas temporárias e a decoração. Copa do Mundo é brincadeirinha perto da Olimpíada.
Algumas obras ainda estão na fase final, como a Linha 4 do metrô, o BRT Transolímpico, o VLT. Vai dar tempo de terminar?
Já está tudo terminado. O VLT está todo pronto. Ele não faz diferença nenhuma para a Olimpíada, é importante para a cidade. A Olimpíada foi uma desculpa para se fazer o VLT. Sempre que se inicia um projeto desse, fazemos um lançamento prévio e vamos ampliando os horários de funcionamento. É um processo normal, mas não faz diferença para a Olimpíada. Em relação ao túnel, o outro sentido será entregue no outro final de semana. Totalmente pronto, está nos detalhes finais.
Barcelona é a grande inspiração do Rio?
O Pasquall Maragall, que foi prefeito de Barcelona, me disse: ‘a gente usou a Olimpíada para transformar a cidade’. Isso virou uma obsessão minha. Por exemplo, demolir a Perimetral. A Olímpiada poderia ser feita com ela, não faria a menor diferença. Mas os Jogos foram um bom argumento para, em um momento em que 85% da população era contra a derrubada, demolir. As pessoas acharam que eu era louco. Hoje, 99% é a favor. Usamos a Olimpíada para fazer muita coisa na cidade.
O senhor tem feito declarações polêmicas ultimamente. O governo do estado e o governo federal não cumpriram suas obrigações?
O que reclamei é que não se pode ficar o tempo todo usando o argumento olímpico para fazer ou deixar de fazer alguma coisa. Foi uma declaração do secretário de Saúde do Estado dizendo que a rede de saúde poderia parar e prejudicaria a Olimpíada. Não é verdade. A rede de referência é a da Prefeitura e ela vai muito bem. Estou protegendo minha cidade e os Jogos. Às vezes, as pessoas usam o nome da Olimpíada em vão. Afirmo e reafirmo: a crise do Estado não tem nenhuma relação com os Jogos. Para a Olimpíada, eles fizeram o metrô. Quem entregou todas as obras, ações de mobilidade e estádios foi a Prefeitura. Se alguém tivesse que estar quebrado por causa de Olimpíada era a prefeitura – e não estamos.
Há risco de segurança para a Olimpíada?
Zero. Tenho dito que um dos lugares mais seguros para ir no mundo a partir do dia 5 de agosto é a cidade do Rio de Janeiro. E é verdade. A segurança é um problema do Rio, mas não da Olimpíada. O desafio é resolver a segurança para o cidadão. A Olimpíada está bem encaminhada.
A Olimpíada foi pensada em outro momento político e econômico. Se os Jogos não forem um sucesso, não corremos o risco de piorar essa percepção mundial?
A imagem está ruim. Os Jogos não podem ser só o evento. Houve uma jornada de lá para cá, que mostrou que, no Brasil, nem tudo termina acima do preço que foi pactuado, mostrou que o setor privado brasileiro é pujante e forte. Em Londres, o percentual de dinheiro privado era de 18%. Aqui, foi de 60% nos estádios e, se considerarmos a organização dos Jogos mais estádios, chega a 80%. Isso serviu para mostrar que as coisas podem ser feitas com planejamento, no prazo e no custo. Nenhuma obra olímpica explodiu o preço, não teve escândalo e as coisas estão caminhando bem. Então, a Olimpíada serve para ajudar na imagem.
O Rio não cumpriu nenhum dos compromissos ambientais que assumiu. Por quê?
É preciso perguntar para o governo do estado. A prefeitura tinha que tirar o lixão de Gramacho, o que foi feito há quatro anos. Tinha que fazer o saneamento da Zona Oeste, da Bacia do Marangá, onde está o Parque Olímpico de Deodoro, e chegou a 100% de esgoto tratado naquela região. Entregamos a drenagem de Jacarepaguá no ano passado. Dois compromissos não foram atendidos, que eram do governo do Estado: chegar a 80% de esgoto tratado na Baía de Guanabara e (recuperação das) Lagoas de Jacarepaguá. Então, tem que perguntar para eles. A prefeitura do Rio cumpriu com todos os seus compromissos, sem exceção.
Em 2016, o Rio fecha um ciclo de grandes eventos. Depois dos jogos, é possível manter o interesse dos investidores vivo?
Em primeiro lugar, o Brasil precisa voltar a crescer. O Rio não é uma ilha. A Olimpíada fortaleceu muito uma vocação da cidade ao dobrar a rede hoteleira, melhorou a infraestrutura de convenções e de encontros e sofisticou o setor de serviços. De certa maneira, com todas as dificuldades e críticas ao momento do Brasil, o Rio se torna uma cidade mais global do que já era. Mas, novamente, é fundamental que o setor de petróleo se recupere, a Petrobras volte a andar com as próprias pernas e que a economia brasileira avance para que a gente possa avançar também.
O senhor vê uma situação de constrangimento de a presidente afastada Dilma Rousseff participar da abertura dos jogos com o presidente interino Michel Temer?
Juntos? Seria esquisito. Tem que perguntar para eles. Eu vou ficar na minha. A abertura é feita pelo presidente e o encerramento pelo prefeito. A única coisa que garanto é que vou estar lá no encerramento. Acho que vou tomar uma vaia. No Maracanã, ninguém resiste. Até minuto de silêncio leva vaia.
No Rio, teremos uma eleição muito pulverizada em 2016. A entrada do senador Romário enfraquece Pedro Paulo, seu candidato?
O que enfraquece uma candidatura de governo é o governo. Se estiver bem, a candidatura é forte. Se estiver mal, a candidatura vai mal. Tivemos um governo de muitas realizações e temos tudo para chegar à vitória. Tenho muita certeza da vitória do Pedro Paulo. Gerenciar em época de abundância já é difícil. Em época de crise, é mais importante ainda. O Pedro é o gestor mais preparado para estar nessa cadeira, especialmente no momento de crise que o Brasil está atravessando.
Pedro Paulo não fica enfraquecido com as denúncias de violência contra a ex-mulher? Ou com o fato de o governo do estado, que também é PMDB, não estar pagando os salários em dia?
A confusão (entre prefeitura e governo estadual) é muito ruim. Acho que está mais clara agora em razão de algumas colocações que fiz recentemente. A prefeitura está muito bem e vamos mostrar isso. Em relação às questões de ordem pessoal do Pedro, ele está sendo julgado e investigado pela Polícia Federal. Como conheço bem a história, tenho certeza de que ele é um sujeito absolutamente correto que jamais tocou o dedo em nenhuma mulher. Jamais apoiaria um espancador de mulher. Ele tem todas as condições de mostrar sua inocência e não é isso que vai tirar a boa imagem dele.
Qual o futuro do senhor? Pensa em se candidatar à presidência ou ao governo do estado?
Vacaciones! Vou para Nova York e tirar um ano sabático. Estou merecendo. Nunca pensei em concorrer à presidência. Me esqueçam.
(Luciano Pádua)