Delcídio Amaral: "Não sou o algoz de Lula, nem de ninguém" (Ueslei Marcelino/ Reuters)
Marcelo Ribeiro
Publicado em 31 de julho de 2016 às 06h00.
Brasília - Responsável pela delação que levou a Justiça Federal a aceitar uma denúncia contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o senador cassado Delcídio Amaral (sem partido-MS) afirmou em entrevista a EXAME.com neste sábado que não pode ser tratado como o carrasco do petista.
Na sexta-feira (29), o juiz Ricardo Leite, da 10ª Vara da Justiça Federal de Brasília, aceitou denúncia apresentada pelo Ministério Público e transformou Lula em réu sob a suspeita de tentativa de barrar as investigações da Operação Lava Jato.
“Não sou o algoz de Lula, nem de ninguém. Eu simplesmente me posicionei e falei a verdade para a Justiça”, afirmou Delcídio em entrevista a EXAME.com.
Além de Lula, o ex-chefe de gabinete de Delcídio Diogo Ferreira, o banqueiro André Esteves, o advogado Édson Ribeiro, o pecuarista José Carlos Bumlai e o filho dele, Maurício Bumlai, além do próprio Delcídio se tornaram réus no caso. Todos são acusados de tentar obstruir a Justiça ao encabeçar esquema de compra do silêncio do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.
Para o senador cassado, o PT é quem mais sai perdendo com a determinação da Justiça. Ele afirma que a legenda está enfraquecida e prestes a perder seu principal articulador. “Pela primeira vez, o presidente Lula se torna réu. Claro que isso cria impactos no processo de impeachment de Dilma [Rousseff] e nas articulações do Congresso."
Veja entrevista completa:
EXAME.com: A decisão da Justiça Federal sobre Lula enterra as chances de Dilma se livrar do impeachment?
Delcídio Amaral: A decisão é de extrema relevância. Pela primeira vez, o presidente Lula se torna réu. Claro que isso cria impactos no processo de impeachment de Dilma e nas articulações do Congresso. Até mesmo porque Lula era o maior articulador do PT e da Dilma. E eles estão prestes a perder isso. Quem sempre teve mais legitimidade era ele.
Com a decisão da Justiça Federal, aumentam as chances de Lula ser preso?
O que vai acontecer com o presidente Lula é a Justiça quem vai decidir. Existem outros processos correndo contra ele, eu não tenho informações e também não sou do Judiciário para fazer qualquer comentário nesse sentido. Mas é evidente que a situação dele se complicou.
O capital político e o poder de influência do ex-presidente serão afetados?
Evidentemente que essa decisão da Justiça de torná-lo réu prejudica muito o projeto político de Lula e do próprio PT.
As eleições de 2018 viraram um sonho distante para ele?
Em 2018, o PT terá muitas dificuldades. Até mesmo porque o principal líder estará respondendo a uma ou mais denúncias. Isso limita o lançamento de uma candidatura própria.
O senhor parece tranquilo. De alguma maneira está preocupado com a decisão da Justiça?
Eu acho que a minha situação é diferenciada pelo fato de ter colaborado. A do Diogo [Ferreira] também. Nós já tivemos a oportunidade de explicar a nossa situação. É claro que uma situação como essas não é confortável para ninguém. Não seria diferente para nós.
Alguns petistas minimizaram os efeitos da decisão da Justiça porque foi baseada em seu depoimento. Como o senhor avalia esse ponto de vista?
Uma reação como essas é do jogo, é mais do que esperada. Respeito a posição deles, mas eu não sou o algoz de Lula, nem de ninguém. Eu simplesmente me posicionei e falei a verdade para a Justiça. Isso é o que importa. É curioso esse tipo de reação em relação a uma pessoa que foi líder do governo e que tinha alto trânsito no PT. Chega a ser contraditório.
Qual é o impacto dessa nova condição de Lula sobre o governo Temer?
Em princípio, o PT, que é a principal força de oposição ao governo Temer, fica enfraquecido. Com isso, o governo Temer cria mais musculatura. A gente não sabe o que vem por aí. Várias investigações acontecem paralelamente. Ninguém pode se considerar imune ao que eventualmente poderá vir. É aquela velha história que meu pai dizia: cautela e canja de galinha não fazem mal a ninguém.