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Doria tenta esconder moradores de rua com tela em viaduto

Os moradores de rua estão abrigados em uma quadra embaixo do viaduto, que agora foi "envelopada"

João Doria: a gestão Doria afirma que a medida é para proteção deles (Rovena Rosa/Agência Brasil)

João Doria: a gestão Doria afirma que a medida é para proteção deles (Rovena Rosa/Agência Brasil)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 6 de janeiro de 2017 às 08h24.

São Paulo - A gestão João Doria (PSDB) instalou telas em volta do Viaduto Doutor Plínio de Queirós, na Avenida 9 de Julho, no centro da capital. Elas ocultam moradores de rua que estão no local desde segunda-feira, quando a Prefeitura executou a primeira ação do programa Cidade Linda, de mutirões de zeladoria.

Os moradores de rua estão abrigados em uma quadra embaixo do viaduto, que agora foi "envelopada". A gestão Doria afirma que a medida é para proteção deles.

Com as telas, é possível ver apenas vultos das pessoas e suas barracas. Funcionários a serviço da Prefeitura Regional da Sé disseram que as telas serviriam para impedir que as pessoas da rua pudessem ver o que se passava no local. "Mas isso aqui vai durar dois dias. Logo eles (moradores de rua) tiram", disse um dos empregados.

Há cerca de 50 moradores de rua abrigados no espaço. Eles disseram não saber o motivo da instalação das telas e reclamam da concentração de tanta gente naquele lugar.

"Eu já estava aqui antes de vir todo mundo para cá. Agora, já começou a ter briga, sumir coisas. Não vou ficar mais aqui", contou, enquanto carregava sacos e mochilas, a moradora de rua Simone Santos, de 36 anos.

Já os moradores dos prédios do entorno do abrigo improvisado também reclamam da situação. "Primeiro que, à noite, muitos deles saem de lá (da quadra) e voltam para onde estavam, na praça. E deixam toda a sujeira de manhã. Outra coisa é o barulho. Ontem à noite, chegou uma mulher com vários cachorros e eles ficaram latindo a noite toda", conta a aposentada Neyde Andrade, de 59 anos.

Na 9 de Julho, após a operação da Prefeitura, ainda há barracas e carroças de gente que não quis ir para a quadra. Também há novos grafites nas paredes pintadas na segunda-feira.

O padre Julio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua da Arquidiocese de São Paulo, esteve na quadra nesta quinta-feira, 5, e diz que "a situação é dramática". "Há mulheres que estão fazendo xixi em latas", disse.

"Criou-se uma série de expectativas que precisam ser concretizadas com urgência", afirmou o padre. "Aos moradores de rua, foram ditas informações desencontradas para convencê-los a ir para a quadra, promessas de trabalho, encaminhamento, acolhimento, e eles estão agitados." O padre continua: "E entre os moradores dos prédios, foi criada a expectativa de que os moradores de rua iriam sair. Há muita tensão".

Segundo Lancellotti, os moradores de rua se queixam de serem filmados e fotografados pelos moradores dos prédios durante a noite. "Os carros passam xingando eles, fazendo ameaças. Tenho medo de uma tragédia", disse. Há risco ainda de acidentes, uma vez que os próprios moradores fazem fogo no local para cozinhar.

Proteção.

Por meio de nota, a gestão Doria informou que "a Prefeitura instalou telas no local para proteção dos moradores" e que a ação só foi executada "após diálogo entre agentes da Secretaria de Assistência Social e as pessoas em situação de rua".

No texto, a administração diz que a ocupação do espaço é provisória e que a Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimento Social está atuando para que os moradores "aceitem os encaminhamentos da rede".

"A expectativa é de que as pessoas que se encontram no local sejam encaminhadas para vagas de acolhimento, moradia e emprego o mais breve possível", diz o texto, sem esclarecer a quais os riscos aquelas pessoas estariam expostas. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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