João Doria: governador de SP tem 1% das intenções de voto na corrida presidencial (Governo de SP/Divulgação)
Gilson Garrett Jr
Publicado em 31 de março de 2022 às 17h23.
Última atualização em 31 de março de 2022 às 17h44.
O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), anunciou que deixa o cargo para concorrer à Presidência da República pelo partido. O vice, Rodrigo Garcia, do mesmo partido, assume no dia 2 de abril. A decisão foi um recuo ao que ele havia dito a aliados no começo da noite de quarta-feira, 30, quando avisou que cumpriria seu mandato até o fim.
"A partir do próximo dia 2 de abril, Rodrigo Garcia será governador do estado de São Paulo e será reeleito. A partir do dia 2 quero mostrar que o país tem sim uma alternativa", disse Doria durante 4º Seminário Municipalista, na tarde desta quinta-feira, 31. "Sim, serei candidato à Presidência pelo PSDB", confirmou.
Desde a manhã desta quinta-feira, 31, todas as atenções se voltaram ao Palácio dos Bandeirantes, após Doria ter dito ao seu vice que ficaria no cargo e não se candidataria mais à Presidência da República. A intenção seria cumprir o mandato até o fim, não concorrer a reeleição e sair da vida pública em janeiro de 2023. A informação estremeceu todo o ninho tucano e aliados.
O xeque-mate que Doria deu no PSDB veio muito do descontentamento com o partido porque muitos líderes questionam a escolha dele nas prévias, feitas em novembro do ano passado. Apesar da eleição interna, a confirmação, de fato, só sai depois da convenção, que será realizada no meio do ano. Até lá, o que ele queria era uma garantia do partido de que seria candidato ao Palácio do Planalto.
Em uma carta divulgada nesta quinta-feira, 31, o presidente do partido, Bruno Araújo, disse que as prévias serão respeitadas e que o governador paulista teria a garantia da candidatura à Presidência. A atitude foi decisiva para que Doria saísse do governo de São Paulo. Araújo voo de Brasília até São Paulo, no fim da manhã, para falar pessoalmente com Doria.
O "tudo ou nada" do governador paulista estremeceu o cenário nacional, e também o local, ameaçando implodir todos os acordos já firmados até então. O principal deles envolvendo a eleição do seu vice ao governo. Doria já tinha prometido a Rodrigo Garcia o comando da máquina pública paulista a partir do dia 1º de abril.
Os dois tiveram um almoço juntos, no começo da tarde, para alinhar os ponteiros. Garcia chegou a dizer, inclusive, que se Doria ficasse no cargo, o vice renunciaria o posto de secretário de Governo. No comando da pasta mais importante do estado de São Paulo, ele era tratado como CEO do governo. No ano passado, Garcia trocou o DEM pelo PSDB justamente para disputar o Palácio dos Bandeirantes.
Durante o 4º Seminário Municipalista, evento que marcou o fim do governo de Doria, o clima com Garcia já era outro. O vice teceu vários elogios. "Ninguém está aqui para te dizer um adeus. Estamos aqui para te dizer um 'até breve', porque sabemos da importância para o Brasil aquilo que você fez em São Paulo e fará para o Brasil", disse.
Nos bastidores, fala-se muito que Doria se sente magoado no PSDB. Mesmo após ter vencido as prévias em novembro do ano passado, não há muito apoio de grandes nomes do partido em torno da sua candidatura.
Na segunda-feira, 29, Eduardo Leite, que perdeu para Doria, decidiu renunciar ao cargo de governador do Rio Grande do Sul e se colocar “à disposição”, inclusive para ser cabeça de chapa em uma disputa pelo Palácio do Planalto. O movimento de Leite foi muito incentivado por caciques do partido, com o senador Tasso Jereissati (CE) e o deputado federal Aécio Neves (MG), desafeto conhecido do governador paulista.
Leite disse que vai respeitar as prévias, mas ao mesmo tempo falou que elas “não perdem a exclusividade” de outros nomes se apresentarem mais competitivos para concorrer ao Palácio do Planalto em 2022. Também deixou claro que a escolha de Doria foi algo interno do partido, mas que em uma coligação mais ampla, a decisão caberia ao grupo, e não somente ao PSDB.
Procurado por EXAME, o secretário de Desenvolvimento Regional do estado de São Paulo, e presidente do PSDB paulista, Marco Vinholi, disse que não se pode admitir "manobras". “No PSDB, houve um processo democrático que sagrou João Doria vencedor. Não dá para jogar as prévias nacionais na lata do lixo — seria uma afronta ao partido, à democracia e ao Brasil", afirmou.
O cientista político André César, da Hold Assessoria, avalia que o PSDB não estava preparado para as prévias. “Pode ser que os dois saiam perdedores deste processo. O movimento coloca sobre o partido uma pressão que não existia. Fora isso, há um impacto no mundo político, com mais uma figura para fazer uma composição”, diz.
Os tucanos já anunciaram que vão formar uma federação com o Cidadania. O partido está em conversas ainda para fazer uma aliança a nível nacional com o União Brasil, além do MDB. A ideia é ter como vice de Doria a senadora Simone Tebet (MDB-MS).
Internamente no PSDB, pesa contra Doria o fato dele não ter decolado nas pesquisas, mesmo após anunciar a intenção de disputar a eleição. Na mais recente pesquisa EXAME/IDEIA, o gaúcho tem 2% das intenções de voto e o paulista 1%. Mesmo que seja dentro da margem de erro da sondagem, que é de 3 pontos percentuais para mais ou para menos, a corrente do partido que defende a candidatura de Leite se apoia nos números de rejeição.
Na pergunta sobre em quem o eleitor não votaria “de jeito nenhum”, o governador paulista aparece com 18%, e Eduardo Leite tem 11% das menções. Vale lembrar que Doria é mais conhecido que o governador do Rio Grande do Sul, o que naturalmente faz ele também ser mais lembrado em uma questão de rejeição.
A sondagem ouviu 1,5 mil pessoas entre os dias 18 e 23 de março. As entrevistas foram feitas por telefone, com ligações tanto para fixos residenciais quanto para celulares. A pesquisa foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral com o número BR-04244/2022. A pesquisa EXAME/IDEIA é um projeto que une EXAME e o IDEIA, instituto de pesquisa especializado em opinião pública. Confira o relatório completo aqui.