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Documentos revelam elo de cartel com José Dirceu

Foram identificadas pela Polícia Federal 20 transferências bancárias da JD para a empresa de Zaida, entre 16 de janeiro de 2009 e 16 de novembro de 2011


	José Dirceu deixa Brasília: Zaida anota que prestou efetivamente serviços de consultoria para a JD no Peru, mas que a SC Consultoria nunca recebeu valores da empresa de Dirceu
 (Marcello Casal/ Agência Brasil)

José Dirceu deixa Brasília: Zaida anota que prestou efetivamente serviços de consultoria para a JD no Peru, mas que a SC Consultoria nunca recebeu valores da empresa de Dirceu (Marcello Casal/ Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 7 de agosto de 2015 às 13h10.

São Paulo e Curitiba - Os investigadores da Operação Lava Jato têm os contratos, notas e trocas de mensagens da Galvão Engenharia - empreiteira acusada de cartel e corrupção na Petrobras - e a SC Consultoria, empresa de Zaida Sisson de Castro, mulher do ex-ministro da Agricultura do Peru, Rodolfo Beltrán Bravo (governo Alan García). Zaida é suspeita de ser o elo do ex-ministro José Dirceu com o governo peruano.

A Polícia Federal afirma, em relatório da Operação Pixuleco - 17ª fase da Lava Jato, que levou Dirceu e outras sete pessoas à prisão e fez buscas em endereço de Zaida no Brasil, na segunda-feira, dia 3 -, que a mulher do ex-ministro do Peru foi destinatária de valores remetidos pela JD Assessoria e Consultoria, empresa do ex-ministro usada para dar consultorias e palestras, após ele deixar o governo Luiz Inácio Lula da Silva, em 2005.

Foram identificadas pela Polícia Federal 20 transferências bancárias da JD para a empresa de Zaida, entre 16 de janeiro de 2009 e 16 de novembro de 2011, totalizando R$ 364.398,00. Nesse período, Dirceu foi contratado por duas empreiteiras do cartel que atuava na Petrobras, para supostamente prospectar negócios no Peru, entre elas a Galvão Engenharia e a Engevix.

Zaida anota que prestou efetivamente serviços de consultoria para a JD no Peru, mas que a SC Consultoria nunca recebeu valores da empresa de Dirceu.

Diz que iniciou um trabalho conjunto em 2008, dado seu conhecimento com o mercado peruano. "Apresentei meus serviços para identificar possibilidades para empresas do Brasil no Peru, principalmente na área de infraestrutura." O vínculo com a empresa do ex-ministro preso terminou em setembro de 2011, destaca.

"A SC Consultoria nunca faturou para a JD", disse Zaida. "A Blitz de Brasil é que faturou a JD, porque tinha empresas que queriam pagar aqui (no Brasil)." A Blitz está registrada em nome da filha da investigada.

Triangulação

Para investigadores da Lava Jato, os contratos e notas que mostram o vínculo entre empreiteiras do cartel, a JD de Dirceu e a SC da mulher do ex-ministro peruano são indícios claros de uma triangulação entre o ex-ministro e Zaida em um esquema de propina oculto em forma de "consultorias".

"José Dirceu expandiu sua 'consultoria' para Zaida, que, segundo Milton Pascowitch, seria casada com um agente político do Peru, para atuação naquele país", registra o delegado Polícia Federal Márcio Adriano Anselmo, no pedido de prisão do ex-ministro.

Zaida Sisson, mulher de Rodolfo Beltrán Bravo, ex-ministro da Agricultura do Peru (governo Alan García), foi alvo da Operação Pixuleco, 17.º capítulo da Lava Jato. A Polícia Federal vasculhou um apartamento no Centro de São Paulo, endereço da investigada, segundo os investidores.

Brasileira, ela teria sido elo do ex-ministro-chefe da Casa Civil (Governo Lula) José Dirceu em negócios da empreiteira brasileira Engevix e Galvão Engenharia no Peru.

Zaida Sisson foi citada na delação premiada do lobista Milton Pascowitch, que denunciou propinas para o ex-ministro José Dirceu. "Zaida foi mencionada por Milton como esposa do Ministro da Agricultura do Peru e indicada por Dirceu a atuar na obtenção de contratos para a Engevix naquele país. Aliás, Zaida também foi citada em informações prestadas por outra empreiteira cartelizada, a Galvão Engenharia, como responsável pela SC Consultoria S.A.C., indicada por Dirceu para prestar assessoria à Galvão no Peru", aponta documento do Ministério Público Federal no pedido de prisão de Dirceu.

Documentos

Os contratos em poder da PF foram entregues pela própria Galvão Engenharia, a pedido do delegado Eduardo da Silva Mauat. Eles foram apresentados junto com os contratos e notas de pagamentos para a JD Assessoria e Consultoria, do ex-ministro. Para a empreiteira, os serviços são legais e foram executados.

Nos argumentos que apresentou à Polícia Federal, a Galvão explicou que contratou em 2009 a JD para buscar negócios na América Latina. O contrato foi mantido até 2011 prevendo pagamentos mensais de R$ 25 mil.

A Galvão informou que contratou a SC Consultoria por intermédio da JD. "Dentro do escopo contratado, a JD Assessoria e Consultoria Ltda, por meio de parceria internacional, disponibilizou os serviços da empresa SC Consultoria para proceder o apoio necessário à expansão do negócio da Galvão Engenharia S.A em solo peruano", informou a empreiteira à Lava Jato.

Em nota enviada ao jornal "O Estado de S. Paulo", a mulher do ex-ministro informou que "no caso da Construtora Galvão e Engevix não participou em nenhum projeto concluído ou em curso a estas empresas".

A PF tem um contrato com a SC de 15 de julho de 2010. Pela Galvão, quem assina é Marcos de Mora Wanderley. O contrato previa o pagamento mensal de US$ 5 mil. O contrato foi reincidido pela Galvão em 25 de junho de 2012 de forma amigável entre as partes.

O contrato da SC Consultoria com a Galvão teria servido para buscar negócios em dois projetos: Projeto Especial Binacional Puyango-Tumbes, para irrigação das áreas de cultivo no Peru e no Equador, e o Projeto Especial de Irrigação da Marge Direita do Rio Tubes.

Segundo a Galvão, a "SC Consultoria ainda auxiliou a Galvão em projeto de saneamento contratado junto à estatal peruana Sedapal (Empresa de Servicios de Agua Potable Y Alcantarillado de Lima), intermediando as demandas da empresa junto ao cliente", em 2010.

Zaida informou na quarta-feira, 5, que jamais recebeu pagamentos ilícitos da JD, empresa do ex-ministro José Dirceu. Zaida é taxativa. "Não é certo como mencionam alguns meios que fui o braço direito ou operadora do sr. Dirceu em Peru. Meu rol foi sempre laboral e de orientação com o devido cumprimento e ética."

"Rechaço categoricamente haver recebido pelas consultorias neste período comissão ou pagamento com algum propósito ilícito", ela afirma. "Meus honorários foram em torno de R$ 15 mil durante 35 meses devidamente justificados e declarados ante as autoridades tributárias de ambos países."

"Por quase três anos, a SC Consultoria deu suporte a alguns projetos da Galvão Engenharia, realizou reuniões periódicas com representantes da peticionária com ministros da Agricultura, com o presidente regional de Tumbes no Peru, prospectou possíveis projetos de interesses nas áreas de infraestrutura, saneamento, rodovias, etc., sendo que em ao menos uma dessas reuniões José Dirceu esteve presente", declarou a Galvão, em documento entregue à PF, datado de 16 de abril.

Defesa de Zaida

Zaida informou nesta quinta-feira, 6, que seus serviços para a Galvão Engenharia não foram feitos via JD. "A consultoria que dei à Galvão Engenharia no Peru não foi pela JD, porque o diretor local tinha total autonomia e nunca chegou a conhecer o JD."

"Tenho todas as notas fiscais e impostos pagos e eu fazia informes do meu trabalho de 3 em 3 meses. A empresa tem todos os documentos."

Segundo Zaida, "a SC Consultoria nunca faturou para a JD". "A SC é minha empresa peruana. A Blitz de Brasil é que faturou a JD, porque tinha empresas que queriam pagar aqui."

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