Documento do Planalto avalia que País vive "caos político"
Texto reservado do Palácio do Planalto admite que o governo tem adotado uma comunicação "errática" desde a reeleição
Da Redação
Publicado em 18 de março de 2015 às 09h52.
Documento reservado do Palácio do Planalto admite que o governo tem adotado uma comunicação "errática" desde a reeleição da presidente Dilma Rousseff , afirma que seus apoiadores estão levando uma "goleada" da oposição nas redes sociais e aponta como saída para reverter o "caos político" e o quadro pós-manifestações o investimento maciço em publicidade oficial em São Paulo, cidade administrada pelo petista Fernando Haddad onde se concentra, atualmente, a maior rejeição ao PT .
Elaborado pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República, comandada pelo ministro Thomas Traumann, o documento não assinado circulou dentro do governo e foi revelado com exclusividade pelo portal estadão.com.br às 17h11 de terça-feira, 17.
O texto cita, em tom de alerta, pesquisa telefônica recente feita pelo Ibope a pedido do Planalto na qual 32% dos entrevistados disseram ter mudado de opinião negativamente sobre o governo nos últimos seis meses - ou seja, da campanha de outubro até agora.
Conclui que o País passa por um "caos político" e admite: "Não será fácil virar o jogo".
O documento é dividido em três partes: "Onde estamos", "Como chegamos até aqui" e "Como virar o jogo". A primeira faz um diagnóstico do momento e admite erros de ação nas redes sociais.
"A comunicação é o mordomo das crises. Em qualquer caos político, há sempre um que aponte 'a culpa é da comunicação'. Desta vez, não há dúvidas de que a comunicação foi errada e errática. Mas a crise é maior do que isso."
Após o mea-culpa, o governo tenta dividir o ônus da crise.
"Ironicamente, hoje são os eleitores de Dilma e Lula que estão acomodados com o celular na mão enquanto a oposição bate panela. Dá para recuperar as redes, mas é preciso, antes, recuperar as ruas."
Erros
No segundo capítulo é feito um inventário dos erros acumulados desde 2010 para explicar o momento atual. "O início do primeiro governo Dilma foi de rompimento com a militância digital", diz um trecho.
Os motivos seriam a política de defesa dos direitos autorais implementada pela ex-ministra da Cultura Ana de Hollanda e o distanciamento com os blogueiros ditos progressistas na gestão de Helena Chagas na Secom.
"O fim do diálogo com os blogs pela Secom gerou um isolamento do governo federal com as redes que só foi plenamente restabelecido durante a campanha eleitoral de 2014", diz o texto.
"Em 2015 o erro de 2011 foi repetido", completa.
O documento aponta a escolha de Joaquim Levy para o Ministério da Economia e as medidas de ajuste fiscal para explicar um "movimento impressionante" de "descolamento entre o governo e sua militância" a partir de novembro.
Esse movimento, segundo a análise, foi intensificado pelo "desastrado" anúncio de corte no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e subida do preço da gasolina e da energia elétrica, além das denúncias de corrupção na Petrobras. E faz uma crítica ao discurso usado até aqui pelo próprio governo e pelo PT.
"Não adianta falar que a inflação está sob controle quando o eleitor vê o preço da gasolina subir 20% de novembro para cá ou sua conta de luz saltar em 33%. O dado oficial IPCA conta menos do que ele sente no bolso. Assim como um senador tucano (Antonio Anastasia, MG) na lista da Lava Jato não altera o fato de que o grosso do escândalo ocorreu na gestão do PT."
O texto cita o "sentimento de abandono e traição" entre os dilmistas e aponta a necessidade de aceitar esta "mágoa" como estratégia de reação.
Isolamento
O texto indica claramente que o isolamento da presidente da eleição até o carnaval contribuiu para a intensificar a crise e cobra ação dos parlamentares do PT que, segundo a análise, deixaram de defender o governo.
"Hoje, a página do deputado Jean Wyllys, do PSOL, tem um peso maior que quase toda a bancada federal", compara.
A avaliação é que a estratégia atual de comunicação atinge apenas o eleitorado de Dilma e não é capaz de chegar ao grosso do eleitorado.
Para "virar o jogo", o texto sugere mais exposição de Dilma, "não importa quantos panelaços eles façam", além de alterações no núcleo de Comunicação Social, concentrando sob a mesma coordenação a Voz do Brasil, as páginas oficiais na internet e a Agência Brasil.
A principal sugestão, no entanto, é concentrar os investimentos de comunicação em São Paulo, em parceria com Haddad, que também sofre com baixos índices de aprovação. "Há uma relação direta entre um e outro."
O texto termina com uma analogia entre a situação atual e o terremoto que destruiu Lisboa em 1755 e deixou 10 mil mortos. Na ocasião, o rei d. José teria pedido sugestão ao marquês de Alorna, que recomendou: "Sepultar os mortos, cuidar dos vivos e fechar os portos".
"Significa que não podemos deixar que ocorra um novo tremor enquanto estamos cuidando dos vivos e salvando o que restou", diz o documento.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Documento reservado do Palácio do Planalto admite que o governo tem adotado uma comunicação "errática" desde a reeleição da presidente Dilma Rousseff , afirma que seus apoiadores estão levando uma "goleada" da oposição nas redes sociais e aponta como saída para reverter o "caos político" e o quadro pós-manifestações o investimento maciço em publicidade oficial em São Paulo, cidade administrada pelo petista Fernando Haddad onde se concentra, atualmente, a maior rejeição ao PT .
Elaborado pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República, comandada pelo ministro Thomas Traumann, o documento não assinado circulou dentro do governo e foi revelado com exclusividade pelo portal estadão.com.br às 17h11 de terça-feira, 17.
O texto cita, em tom de alerta, pesquisa telefônica recente feita pelo Ibope a pedido do Planalto na qual 32% dos entrevistados disseram ter mudado de opinião negativamente sobre o governo nos últimos seis meses - ou seja, da campanha de outubro até agora.
Conclui que o País passa por um "caos político" e admite: "Não será fácil virar o jogo".
O documento é dividido em três partes: "Onde estamos", "Como chegamos até aqui" e "Como virar o jogo". A primeira faz um diagnóstico do momento e admite erros de ação nas redes sociais.
"A comunicação é o mordomo das crises. Em qualquer caos político, há sempre um que aponte 'a culpa é da comunicação'. Desta vez, não há dúvidas de que a comunicação foi errada e errática. Mas a crise é maior do que isso."
Após o mea-culpa, o governo tenta dividir o ônus da crise.
"Ironicamente, hoje são os eleitores de Dilma e Lula que estão acomodados com o celular na mão enquanto a oposição bate panela. Dá para recuperar as redes, mas é preciso, antes, recuperar as ruas."
Erros
No segundo capítulo é feito um inventário dos erros acumulados desde 2010 para explicar o momento atual. "O início do primeiro governo Dilma foi de rompimento com a militância digital", diz um trecho.
Os motivos seriam a política de defesa dos direitos autorais implementada pela ex-ministra da Cultura Ana de Hollanda e o distanciamento com os blogueiros ditos progressistas na gestão de Helena Chagas na Secom.
"O fim do diálogo com os blogs pela Secom gerou um isolamento do governo federal com as redes que só foi plenamente restabelecido durante a campanha eleitoral de 2014", diz o texto.
"Em 2015 o erro de 2011 foi repetido", completa.
O documento aponta a escolha de Joaquim Levy para o Ministério da Economia e as medidas de ajuste fiscal para explicar um "movimento impressionante" de "descolamento entre o governo e sua militância" a partir de novembro.
Esse movimento, segundo a análise, foi intensificado pelo "desastrado" anúncio de corte no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e subida do preço da gasolina e da energia elétrica, além das denúncias de corrupção na Petrobras. E faz uma crítica ao discurso usado até aqui pelo próprio governo e pelo PT.
"Não adianta falar que a inflação está sob controle quando o eleitor vê o preço da gasolina subir 20% de novembro para cá ou sua conta de luz saltar em 33%. O dado oficial IPCA conta menos do que ele sente no bolso. Assim como um senador tucano (Antonio Anastasia, MG) na lista da Lava Jato não altera o fato de que o grosso do escândalo ocorreu na gestão do PT."
O texto cita o "sentimento de abandono e traição" entre os dilmistas e aponta a necessidade de aceitar esta "mágoa" como estratégia de reação.
Isolamento
O texto indica claramente que o isolamento da presidente da eleição até o carnaval contribuiu para a intensificar a crise e cobra ação dos parlamentares do PT que, segundo a análise, deixaram de defender o governo.
"Hoje, a página do deputado Jean Wyllys, do PSOL, tem um peso maior que quase toda a bancada federal", compara.
A avaliação é que a estratégia atual de comunicação atinge apenas o eleitorado de Dilma e não é capaz de chegar ao grosso do eleitorado.
Para "virar o jogo", o texto sugere mais exposição de Dilma, "não importa quantos panelaços eles façam", além de alterações no núcleo de Comunicação Social, concentrando sob a mesma coordenação a Voz do Brasil, as páginas oficiais na internet e a Agência Brasil.
A principal sugestão, no entanto, é concentrar os investimentos de comunicação em São Paulo, em parceria com Haddad, que também sofre com baixos índices de aprovação. "Há uma relação direta entre um e outro."
O texto termina com uma analogia entre a situação atual e o terremoto que destruiu Lisboa em 1755 e deixou 10 mil mortos. Na ocasião, o rei d. José teria pedido sugestão ao marquês de Alorna, que recomendou: "Sepultar os mortos, cuidar dos vivos e fechar os portos".
"Significa que não podemos deixar que ocorra um novo tremor enquanto estamos cuidando dos vivos e salvando o que restou", diz o documento.
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.