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Ditadura, eleições e mágoas: as idas e vindas entre Lula e FHC

Os dois ex-presidentes possuem uma relação de mais de 40 anos, intercalada por períodos de proximidade e de embate

 (Ricardo Stuckert/PR/Divulgação)

(Ricardo Stuckert/PR/Divulgação)

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Agência O Globo

Publicado em 21 de maio de 2021 às 17h16.

Última atualização em 21 de maio de 2021 às 17h38.

Ao longo de mais de 40 anos, Lula e Fernando Henrique Cardoso mantêm uma relação permeada por momentos de proximidade, intercalada por embates. Em 1978, ainda durante a ditadura militar, o então presidente dos Metalúrgicos do ABC fez campanha para o professor universitário que tentava uma vaga de senador pelo MDB e chegou a levá-lo às portas das montadoras para pedir votos dos operários.

A proximidade política que o gesto sugeria foi desfeita dois anos depois quando Fernando Henrique, ao contrário do que fizeram outros intelectuais, optou por não ingressar no PT, quando o partido foi fundado por Lula.

Fernando Henrique permaneceu no MDB, já rebatizado então de PMDB, até 1988, quando encabeçou o grupo dissidente que fundaria o PSDB, legenda com viés de centro-esquerda mas longe do radicalismo que o PT representava naquele momento.

Apesar das diferenças, no segundo turno da eleição presidencial de 1989, o PSDB apoiou Lula contra Fernando Collor e Fernando Henrique chegou a subir no palanque do petista em um comício em São Paulo.

Eleito presidente em 1994, o tucano enfrentaria no poder uma dura oposição do PT com setores do partido empunhando até a bandeira do “fora FHC”. Os petistas classificavam o governo de “neoliberal”, rótulo que o tucano rejeita. Em 1998, Lula, assim como havia acontecido quatro anos antes, perdeu a eleição no primeiro turno para Fernando Henrique.

Quatro anos depois, Lula seria finalmente eleito. O petista costuma dizer que Fernando Henrique queria a sua vitória naquela disputa e não a do tucano José Serra. Na visão do petista, o então presidente apostava num fracasso de seu governo para voltar ao poder em 2006.

Durante a transição de governo no final de 2002, Lula, Fernando Henrique e as equipes de ambos mostraram um profundo entrosamento e respeito, o que indicava um possível realinhamento político dos dois partidos. Mas, uma vez no poder, os petistas começaram a falar sobre a “herança maldita” do governo FH, o que reacendeu os ânimos entre as duas siglas. Na crise do mensalão, o primeiro grande escândalo da era petista, o PSDB descartou, porém, defender o impeachment de Lula.

O clima de tensão entre tucanos e petistas permaneceria alto e atingiria o seu auge na eleição de 2014. Derrotado por Dilma Rousseff no segundo turno, Aécio Neves (PSDB) foi ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pedir auditoria para verificar a lisura da votação. Em 2016, os tucanos apoiaram o impeachment.

Quando passou a ser investigado pela Lava-Jato, Lula ficou magoado por nunca ter recebido uma declaração de solidariedade de Fernando Henrique, principalmente quando a força-tarefa voltou os olhos para as doações de empreiteiras para o instituto do petista. A fundação do tucano também recebeu recursos das mesmas empresas.

– O Fernando Henrique sabe que não sou corrupto – chegou a dizer.

O tucano votou nulo no segundo turno da eleição de 2018 entre Fernando Haddad (PT) e Bolsonaro. No ano passado, Fernando Henrique também criticou as falas de Lula após deixar a prisão e disse que ele tinha ilusão de voltar à Presidência sozinho.

Na mesma época, o petista criticou um manifesto em favor da democracia assinado por Fernando Henrique dizendo que ele havia “ajudado a derrubar Dilma porque se acovardou”. O almoço da semana passada aparentemente sela, mesmo que momentaneamente, a paz.

Nos últimos dias, os ataques deram lugar a gentilezas e até a declarações de voto. Lula publicou um tuíte para dizer que votaria em FH se ele estivesse disputando a presidência contra Jair Bolsonaro. O tucano também afirmou que votaria em Lula caso a disputa fique entre ele e Bolsonaro.

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