Exame Logo

Disputa deixará ao próximo presidente uma oposição ferrenha

Novo presidente terá pela frente uma oposição muito mais ferrenha do que os últimos chefes do Executivo tiveram

Aécio Neves cumprimenta a presidente Dilma antes de debate organizado pela Band, em São Paulo (Paulo Whitaker/Reuters)
DR

Da Redação

Publicado em 17 de outubro de 2014 às 20h34.

São Paulo - O presidente da República a partir de janeiro de 2015 - seja Aécio Neves (PSDB) ou Dilma Rousseff (PT) - terá pela frente uma oposição muito mais ferrenha do que os últimos chefes do Executivo tiveram, resultado de uma disputa apertada e de uma campanha feroz no segundo turno.

A agressividade da disputa entre os historicamente antagônicos PT e PSDB ficou exposta no debate realizado pelo SBT, pela rádio Jovem Pan e pelo portal UOL na quinta-feira, quando Dilma e Aécio distribuíram caneladas entre si em um duelo em que as propostas ficaram em segundo plano.

Some-se a isso a indefinição da disputa apontada pelas principais pesquisas eleitorais, que têm mostrado empate técnico com vantagem numérica de 51 a 49 por cento dos votos válidos para o tucano.

Caso o cenário se confirme, como parece que vai ocorrer ao menos na avaliação de analistas, o vencedor será escolhido por uma margem estreita e, portanto, o derrotado sairá com mais força política das urnas do que nas últimas eleições presidenciais.

"Se as pesquisas estiverem certas, nós não vamos ter uma vitória muito clara. Aí sim nós teremos consequência, porque o peso político da oposição, quem quer que seja, vai ser muito importante", disse a socióloga Fátima Pacheco Jordão, especialista em pesquisas eleitorais.

"As vitórias recentes no segundo turno foram vitórias claras", comparou a especialista.

Em 2002, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu José Serra (PSDB) por 61,27 por cento a 38,73; em 2006 o triunfo de Lula sobre o tucano Geraldo Alckmin foi por 60,83 a 39,17 por cento e, em 2010, Dilma bateu Serra por 56,05 a 43,95 por cento.

Na avaliação de Carlos Melo, cientista político do Insper, além de uma vitória eleitoral apertada, outros fatores devem atrapalhar as composições parlamentares tanto de Aécio quanto de Dilma.

Em comum para ambos, a dificuldade de lidar com um Congresso fragmentado entre um número maior de partidos.

Para o especialista, se eleita, Dilma terá dificuldade de atrair mais aliados, uma vez que a maioria dos recursos usados nas negociações políticas, os cargos no governo e em entidades coligadas, já está comprometida.

Do lado de Aécio, pesará o fato de ter pela frente um PT na oposição com muito mais musculatura do que na época dos governos tucanos de Fernando Henrique Cardoso, quando o partido já dava trabalho na oposição.

Na próxima legislatura, os petistas serão a maior bancada da Câmara, com 70 deputados, e a segunda maior do Senado, com 12 representantes.

"Céu de brigadeiro, mar de rosas, nenhum deles deve ter", resumiu Melo.

A boa notícia para o vencedor do pleito do dia 26 é o fato de o sistema de presidencialismo de coalizão vigente no Brasil e a pouca vinculação ideológica da maioria dos partidos permitirem uma composição até mesmo com as siglas que estavam do outro lado da disputa.

"Vai ter uma oposição mais aguerrida, mas minoritária no Congresso", disse o analista político da MCM Consultores Associados Ricardo Ribeiro.

Economia e Petrobras

Para Ribeiro, outros fatores, como as denúncias de corrupção na Petrobras e um cenário econômico desfavorável em 2015, também devem desempenhar um papel na governabilidade da próxima gestão federal.

"Essa questão da Petrobras pode até atuar a favor de quem estiver no poder", disse Ribeiro.

Para ele, as delações premiadas do ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa e do doleiro Alberto Youssef podem afetar figuras importantes do Parlamento, tornando-o, possivelmente, mais subserviente ao Executivo.

Esse cenário, explica, funciona melhor em uma eventual vitória de Aécio, já que no caso de triunfo de Dilma será preciso analisar primeiro qual a distância que a presidente manterá do escândalo e se o PT sairá ou não fortemente chamuscado dele.

Um cenário econômico fraco, com a necessidade de um ajuste diante do cenário atual de inflação no teto da meta e baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), também é um fator a ser observado.

"Isso pode aumentar a tensão social, o descontentamento com a situação do país, o descontentamento com a classe política, trazendo um pouco de volta o clima das manifestações de julho de 2013", disse Ribeiro, ponderando que "eventos como aqueles são eventos raros e difíceis de prever quando vão acontecer".

São Paulo - Algumas semanas atrás, era improvável que o segundo turno das eleições 2014 acontecesse entre Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB). Marina Silva (PSB) era a candidata em segundo lugar nas pesquisas de intenção de votos. Aécio, no entanto, virou o jogo e será o candidato a concorrer ao cargo nesse segundo turno. A seguir, veja outras viradas importantes da corrida eleitoral brasileira.
  • 2. Collor X Lula (1989)

    2 /8(Lula: Fabio Rodrigues Pozzebom/AGÊNCIA BRASIL; Collor: Orlando Brito/Veja)

  • Veja também

    As eleições presidenciais de 1989 marcaram uma grande virada. Em abril, Collor tinha apenas 17% das intenções de voto para o cargo de presidente. Após um crescimento grande, Collor passou no primeiro turno com 28% dos votos e Lula com 16%. No segundo turno, Collor venceu as eleições.
  • 3. FHC X Lula (1994)

    3 /8(Lula: AGÊNCIA BRASIL; FHC: Germano Lüders/EXAME)

  • Nas eleições presidenciais de 1994, Lula sofreu outra virada. O candidato do PT liderava as pesquisas. Em maio, tinha 42% das intenções de votos. Fernando Henrique Cardoso, candidato do PSDB, por outro lado, tinha 16%. Com a consolidação do Plano Real, FHC ultrapassa Lula no início de agosto. No final das contas, Fernando Henrique vence as eleições ainda em primeiro turno, com 54% dos votos.
  • 4. Dilma X Serra (2010)

    4 /8(Antônio Cruz/AGÊNCIA BRASIL)

    Serra liderava as pesquisas em abril de 2010. O candidato do PSDB tinha 38% das intenções de voto, enquanto Dilma tinha 28%. Em maio, no entanto, após uma subida rápida de Dilma, os dois ficaram empatados com 37% das intenções. Após o primeiro turno, Dilma passa em primeiro lugar, com 46% dos votos e Serra, com 32%.
  • 5. Dilma X Serra (2º turno de 2010)

    5 /8(Wilson Dias/AGÊNCIA BRASIL)

    Antes mesmo que o primeiro turno acontecesse, as pesquisas mostravam que Dilma perderia para Serra. O candidato do PSDB levaria o segundo turno com 50% das intenções, contra 40% para a presidenciável do PT. Dilma vira, eventualmente, o jogo e vence as eleições.
  • 6. Anastasia X Helio Costa (MG - 2010)

    6 /8(Anastasia e Helio Costa: ABr)

    Antonio Anastasia (PSDB) buscava reeleição ao cargo de governador de Minas Gerais em 2010. Seu principal adversário era Helio Costa (PMDB). As pesquisas apontavam Helio Costa à frente nas intenções de voto. Em julho, Costa tinha 44% das intenções de voto, enquanto Anastasia tinha apenas 18%. Em setembro, Anastasia ultrapassou Costa nas pesquisas e foi eleito ainda em primeiro turno, com 62% dos votos.
  • 7. Fernando Haddad (Prefeitura de São Paulo - 2012)

    7 /8(Paulo Fridman/Bloomberg)

    Na campanha para prefeitura de São Paulo de 2012, ora as intenções de voto mostravam José Serra (PSDB) em primeiro, ora o candidato Celso Russomanno (PRB). Lá embaixo, de maneira discreta corria Fernando Haddad, candidato do PT. Até agosto, Haddad sequer pontuava dois dígitos nas intenções. Até a última pesquisa de intenção de votos daquelas eleições, divulgada dias antes do primeiro turno, Russomanno estava em primeiro e Serra em segundo. No final das contas Serra e Haddad passaram para o segundo turno, o qual Haddad venceu com 55% dos votos.
  • 8. Agora, veja políticos votando neste domingo

    8 /8(Reuters)

  • Acompanhe tudo sobre:aecio-nevesDilma RousseffEleiçõesEleições 2014Oposição políticaPersonalidadesPolítica no BrasilPolíticosPolíticos brasileirosPT – Partido dos Trabalhadores

    Mais lidas

    exame no whatsapp

    Receba as noticias da Exame no seu WhatsApp

    Inscreva-se

    Mais de Brasil

    Mais na Exame