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Diretor da OMS alerta que crise na Venezuela pode causar surtos no Brasil

Para a entidade, risco é de que o fluxo de pessoas possa provocar nova onda de transmissão de certas doenças que, no Brasi, estavam sob controle

Venezuelanos: desde meados de 2016, a Venezuela também vive um surto de difteria, com mais de 1,6 mil casos (Cesar Muñoz Acebes/Divulgação)

Venezuelanos: desde meados de 2016, a Venezuela também vive um surto de difteria, com mais de 1,6 mil casos (Cesar Muñoz Acebes/Divulgação)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 18 de maio de 2018 às 16h51.

Genebra - A crise na Venezuela pode ter uma repercussão imediata nas fronteiras com o Brasil e fazer com que surtos de doenças atinjam áreas do território brasileiro.

O alerta é do diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS), Tedros Adhanom Ghebreyesus, que nesta sexta-feira, 18, se pronunciou pela primeira vez em relação à situação em Caracas.

De acordo com ele, o país voltou a registrar surtos de malária e sarampo. Desde meados de 2016, a Venezuela também vive um surto de difteria, com mais de 1,6 mil casos. Segundo a OMS, a importação da doença para o Brasil já é uma realidade.

"Há uma migração e, como sabem, os surtos podem se espalhar pelos demais países", disse Tedros. "Já tratei desse tema com as autoridades brasileiras e estamos ajudando tanto as regiões do Brasil como dentro da Venezuela. Mas é muito preocupante. São três surtos juntos", afirmou.

Para a entidade, o risco é de que o fluxo de pessoas possa provocar uma nova onda de transmissão de certas doenças que, no Brasil ou na Colômbia, estavam sob controle ou mesmo eliminada, como no caso da malária.

"Há uma elevada inflação na Venezuela e isso tem afetado de forma importante o país", disse. "Há falta de remédios e de abastecimento. Estamos dando apoio e tentando aumentar o fornecimento de vacinas e intensificar campanhas", explicou Tedros.

Internamente, porém, a OMS já não confia mais nos dados oficiais da Venezuela. Um dos casos se refere ao sistema de saúde, mortalidade e o número de casos de malária.

A Venezuela, por exemplo, informou à OMS que registrou apenas uma morte pela malária em 2016. Mas a entidade estima que ocorreram até 280 mortes.

A agência da ONU estima que, em 2017, mais de 400 mil casos foram registrados no país, quase dez vezes mais que no início da década. Em 2010, o país havia registrado 45 mil casos de malária. Em 2016, a taxa já era de 240 mil.

Contudo, nem a OMS acreditou nos dados oficiais fornecidos por Caracas e estima que havia 300 mil casos. Agora, para 2017, os dados preliminares apontam para 406 mil.

Suspensão

Às vésperas da Assembleia Mundial da Saúde, que começa na segunda-feira, a OMS ainda recomendou a suspensão do direito ao voto da Venezuela na entidade a partir do ano que vem e o impedimento da participação do governo de Nicolás Maduro nas decisões que afetam a agenda da saúde internacional. A medida isolará ainda mais o país e amplia o temor de que questões de saúde não estejam recebendo um tratamento adequado por Caracas.

Documentos obtidos pelo jornal O Estado de S. Paulo apontam que o motivo da proposta de afastamento é financeiro. Cabe agora aos ministros dos 193 países presentes na Assembleia Mundial da Saúde decidir o destino da Venezuela.

O governo venezuelano não paga suas contribuições obrigatórias à agência de saúde da ONU desde 2014. O total da dívida chega a US$ 8 milhões, valor considerado pequeno em um orçamento de US$ 1 bilhão da entidade.

Mas, pelas regras, atrasos consecutivos nos pagamentos e a falta de um plano para quitar a dívida resultam na suspensão de voto.

De acordo com o documento da OMS, "se até a abertura da 72.a Assembleia Mundial da Saúde" Caracas estiver em "atraso com seus pagamentos, os privilégios de votos devem ser suspensos desde seu início".

Na prática, a agência está dando até 2019 para que a dívida seja quitada. Caso contrário, a suspensão entrará em vigorar.

Se esse cenário se confirmar, a Venezuela entra em um grupo de países afastados que conta ainda com República Centro-Africana, Gâmbia, Guine-Bissau e Sudão do Sul.

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