Dinheiro público e negócios esportivos são problemas
A fonte de financiamentos públicos dos negócios esportivos está se fechando no Brasil
Da Redação
Publicado em 8 de novembro de 2013 às 16h10.
Rio de Janeiro - A fonte de financiamentos públicos dos negócios esportivos está se fechando no Brasil, onde as autoridades tentam melhorar sua imagem após a revolta social de junho com a aproximação das eleições de 2014, apesar de isso significar descumprir contratos.
A Soccerex, o maior encontro anual do mundo do futebol (clubes, federações, patrocinadores, titulares de direitos de retransmissão) viveu isso na própria carne esta semana.
Seus organizadores tiveram que adiar a convenção mundial, prevista para 30 de novembro, para o dia 5 de dezembro no estádio Maracanã, a poucos meses do Mundial-2014.
O motivo: o governo do estado do Rio de Janeiro já não quer financiar um evento que une esporte e dinheiro, por temer a vingança de seus contribuintes.
Contudo o problema, que indignou na quinta-feira os organizadores da Soccerex, é que, "ao assinar o contrato de cidade anfitriã pelas quatro edições da convenção, o governo do Rio tinha se comprometido a contribuir de forma substancial com o evento".
A organização do evento anunciou que via processar o estado do Rio de Janeiro por perdas e danos.
Há quase um ano, o Soccerex-2012 aconteceu com toda a pompa no Forte de Copacabana, ligado para a ocasião a um hotel de luxo da praia por meio de uma passarela.
Contudo, em junho, veio o tsunami social que derrubou sem distinções os níveis de popularidade de alguns dos grandes atores políticos que tentarão um novo mandato pouco depois da Copa , nas eleições de outubro de 2014.
Os manifestantes brasileiros expressaram sua ira contra os enormes gastos públicos com a Copa do Mundo em um país onde o transporte, os hospitais e as escolas são precários.
A presidente Dilma Rousseff , que buscará a reeleição em 2014, impulsionou um projeto de lei que destina os royalties dos imensos campos de petróleo do pré-sal à educação e à saúde, e lançou um programa para atrair milhares de médicos estrangeiros ao país. Desde então, sua popularidade vem se recuperando.
A redução do financiamento público a eventos esportivos não escapou dessas operações que tentam melhorar a popularidade dos políticos.
Antes da suspensão do Soccerex, o governador do Rio, Sérgio Cabral, transformado no político mais impopular do país e alvo dos manifestantes que acamparam durante meses em frente a sua casa, no Leblon, já tinha recuado.
No final de julho, Cabral voltou atrás em vários aspectos do contrato assinado pouco antes com um consórcio privado pela gestão do Maracanã durante 30 anos.
Ele cancelou a derrubada do parque aquático Julio Delamare e do estádio de atletismo Célio de Barros, situados no entorno do complexo Maracanã, onde atletas brasileiros treinam para os Jogos Olímpicos de 2016 no Rio.
Também retrocedeu nas demolições previstas do antigo Museu do Índio e da Escola Municipal Friedenreich, uma das melhores instituições públicas de ensino do Rio. Ambos ficam no entorno do estádio e deviam ser substituídos por um estacionamento e por zonas comerciais, que seriam administrados pelo consórcio.
A preservação era uma das reivindicações dos opositores à "privatização do Maracanã", aos quais Cabral tinha feito ouvidos de mercador... até as manifestações de junho.
O Rio de Janeiro não é o único estado preocupado com este mal-estar. Os promotores federais de cinco estados brasileiros apresentaram em outubro uma ação na justiça para tentar fazer com que a FIFA pague por algumas instalações temporárias nos estádios da Copa: tendas para receber convidados, salas de transmissão, salas para a venda de produtos oficiais.
O Estado não pode pagar por "produtos e serviços temporários" que não beneficiam de forma alguma os brasileiros, argumentaram os promotores, que querem economizar 550 milhões de dólares dos cofres do Tesouro brasileiro, em uma conta total estimada en 15 bilhões de dólares.
Assim como a Soccerex, a FIFA afirma que este financiamento está previsto em contratos assinados com os governos locais e argumenta que "nenhum estádio do mundo pode receber uma competição como a Copa do Mundo sem adaptações".
Essas tensões ilustram assim o subdesenvolvimento da economia do esporte brasileiro, analisou na quinta-feira em seu blog Erich Beting, fundador da Máquina do Esporte, um portal especializado em marketing esportivo.
"O mercado do esporte brasileiro é totalmente dependente do investimento público para financiar grandes eventos e não consegue captar recursos privados", disse o especialista, que vê como "prova as imensas quantias pagas pelo setor público para a Copa do Mundo e os JO".
Rio de Janeiro - A fonte de financiamentos públicos dos negócios esportivos está se fechando no Brasil, onde as autoridades tentam melhorar sua imagem após a revolta social de junho com a aproximação das eleições de 2014, apesar de isso significar descumprir contratos.
A Soccerex, o maior encontro anual do mundo do futebol (clubes, federações, patrocinadores, titulares de direitos de retransmissão) viveu isso na própria carne esta semana.
Seus organizadores tiveram que adiar a convenção mundial, prevista para 30 de novembro, para o dia 5 de dezembro no estádio Maracanã, a poucos meses do Mundial-2014.
O motivo: o governo do estado do Rio de Janeiro já não quer financiar um evento que une esporte e dinheiro, por temer a vingança de seus contribuintes.
Contudo o problema, que indignou na quinta-feira os organizadores da Soccerex, é que, "ao assinar o contrato de cidade anfitriã pelas quatro edições da convenção, o governo do Rio tinha se comprometido a contribuir de forma substancial com o evento".
A organização do evento anunciou que via processar o estado do Rio de Janeiro por perdas e danos.
Há quase um ano, o Soccerex-2012 aconteceu com toda a pompa no Forte de Copacabana, ligado para a ocasião a um hotel de luxo da praia por meio de uma passarela.
Contudo, em junho, veio o tsunami social que derrubou sem distinções os níveis de popularidade de alguns dos grandes atores políticos que tentarão um novo mandato pouco depois da Copa , nas eleições de outubro de 2014.
Os manifestantes brasileiros expressaram sua ira contra os enormes gastos públicos com a Copa do Mundo em um país onde o transporte, os hospitais e as escolas são precários.
A presidente Dilma Rousseff , que buscará a reeleição em 2014, impulsionou um projeto de lei que destina os royalties dos imensos campos de petróleo do pré-sal à educação e à saúde, e lançou um programa para atrair milhares de médicos estrangeiros ao país. Desde então, sua popularidade vem se recuperando.
A redução do financiamento público a eventos esportivos não escapou dessas operações que tentam melhorar a popularidade dos políticos.
Antes da suspensão do Soccerex, o governador do Rio, Sérgio Cabral, transformado no político mais impopular do país e alvo dos manifestantes que acamparam durante meses em frente a sua casa, no Leblon, já tinha recuado.
No final de julho, Cabral voltou atrás em vários aspectos do contrato assinado pouco antes com um consórcio privado pela gestão do Maracanã durante 30 anos.
Ele cancelou a derrubada do parque aquático Julio Delamare e do estádio de atletismo Célio de Barros, situados no entorno do complexo Maracanã, onde atletas brasileiros treinam para os Jogos Olímpicos de 2016 no Rio.
Também retrocedeu nas demolições previstas do antigo Museu do Índio e da Escola Municipal Friedenreich, uma das melhores instituições públicas de ensino do Rio. Ambos ficam no entorno do estádio e deviam ser substituídos por um estacionamento e por zonas comerciais, que seriam administrados pelo consórcio.
A preservação era uma das reivindicações dos opositores à "privatização do Maracanã", aos quais Cabral tinha feito ouvidos de mercador... até as manifestações de junho.
O Rio de Janeiro não é o único estado preocupado com este mal-estar. Os promotores federais de cinco estados brasileiros apresentaram em outubro uma ação na justiça para tentar fazer com que a FIFA pague por algumas instalações temporárias nos estádios da Copa: tendas para receber convidados, salas de transmissão, salas para a venda de produtos oficiais.
O Estado não pode pagar por "produtos e serviços temporários" que não beneficiam de forma alguma os brasileiros, argumentaram os promotores, que querem economizar 550 milhões de dólares dos cofres do Tesouro brasileiro, em uma conta total estimada en 15 bilhões de dólares.
Assim como a Soccerex, a FIFA afirma que este financiamento está previsto em contratos assinados com os governos locais e argumenta que "nenhum estádio do mundo pode receber uma competição como a Copa do Mundo sem adaptações".
Essas tensões ilustram assim o subdesenvolvimento da economia do esporte brasileiro, analisou na quinta-feira em seu blog Erich Beting, fundador da Máquina do Esporte, um portal especializado em marketing esportivo.
"O mercado do esporte brasileiro é totalmente dependente do investimento público para financiar grandes eventos e não consegue captar recursos privados", disse o especialista, que vê como "prova as imensas quantias pagas pelo setor público para a Copa do Mundo e os JO".