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Dilma ganha nota 7 por primeiro ano de governo

Para analistas, presidente teve sucesso ao lidar com crise política, mas ainda precisa fazer a lição de casa na área das reformas fiscais

Dilma dá adeus a 2011 com saldo positivo e imagem de firmeza no combate à corrupção (Getty Images)
DR

Da Redação

Publicado em 18 de julho de 2012 às 18h35.

São Paulo – Dilma Rousseff começou 2011 em Brasília, tomando posse da Presidência da República. Já o fim do ano, a presidente passará em uma praia em Salvador, cidade escolhida para a semana de férias. Entre um momento e outro, um ano movimentado: seis ministros substituídos por denúncias de irregularidades, novos rumos na política internacional, o enfrentamento de uma séria crise econômica mundial, dentre outros acontecimentos. No fim das contas, segundo a avaliação de cientistas políticos, a atuação de Dilma Rousseff ao longo do ano mereceu nota sete.

“Sempre tem o que melhorar. Dilma só não ganha um 10 porque ainda tem cobertor político curto. Ajustes de um lado descobrem outros locais, e ela vai ter que se virar com isso de agora em diante”, diz Antônio Carlos Santos, professor de Ciência Política da PUC São Paulo. Veja abaixo a avaliação feita pelo professor e por Rafael Cortez, cientista político da Tendências Consultoria, dos fatos marcantes no primeiro ano do governo Dilma.

O ano do "malfeito"

Antônio Pallocci (Casa Civil), Alfredo Nascimento (Transportes), Wagner Rossi (Agricultura), Pedro Novais (Turismo), Orlando Silva (Esportes) e Carlos Lupi (Trabalho). Os nomes são de ministros que têm em comum o fato de terem deixado seus cargos ao longo de 2011 por causa de denúncias de irregularidades em suas pastas.

Houve ainda o caso do ministro Nelson Jobim, da Defesa, que pediu demissão em um momento de grande desgaste de sua relação com o governo. Para Rafael Cortez, da Tendências, esta série de “malfeitos” - uma das expressões favoritas de Dilma – e o tratamento que a presidente deu a cada caso tiveram um efeito dúbio.

“Por um lado, ajudou a construir em torno de Dilma um imaginário de baixa tolerância à corrupção, com todo aquele ideal de limpeza, faxina. A história vai mostrar se isto é verdade ou não”, afirmou. O lado negativo da história, na opinião do analista, foi a demora da presidente, em alguns casos, para substituir os ministros.


Ele explica que as trocas prejudicam o bom andamento da máquina gerencial, sobretudo em pastas que recebem muitos recursos do PAC, como é o caso dos Transportes. Quando ocorrem as trocas, os investimentos são congelados, prejudicando o avanço de obras importantes de infraestrutura.

Antônio Carlos Santos, da PUC, lembra que a maioria dos ministros que foram substituídos são heranças que Dilma recebeu do governo Lula. “A presidente, por não ter longa experiência política, herdou pessoas no governo que ela não escolheria.” O problema da corrupção, segundo o professor, é resultado do sistema político de presidencialismo de coalizão. “Este sistema obriga o presidente a se alinhar com partidos de diferentes linhas ideológicas e políticas e o resultado é a corrupção em maior ou menor escala”, afirma.

Surpresas na economia

Em 2011 a União Europeia andou na corda bamba e os efeitos da crise se espalharam pelo mundo. No Brasil, o ano começou na trilha do aperto monetário e do fim dos incentivos ao consumo. Entretanto, no meio do caminho, por causa da depressão na economia mundial, o governo se viu obrigado a mudar o rumo.

“A equipe econômica apostou em políticas que geraram alguma incerteza e surpreenderam os analistas. O governo, muito ancorado no complicado cenário econômico internacional, adotou como ambição reduzir os juros. Esta postura tem efeito na política fiscal. É uma agenda muito difícil”, diz Cortez.

Na opinião do cientista político, entretanto, o governo foi bem sucedido ao adotar uma postura de afrouxamento monetário que poderia sugerir certa politização da autoridade monetária. Entretanto, ele lembra que, para que o governo consiga levar adiante suas metas de redução de juros, é preciso que ele aumente a responsabilidade fiscal.


“Dilma mostrou disposição, visão de mundo, mas resta saber agora o quanto das necessidades fiscais ela vai conseguir atender. Ela se mostrou um pouco mais fiscalista que o Lula, mas não o suficiente para reduzir os juros e garantir um crescimento sustentado acima da média. O governo ainda não consegue enxergar a relação de troca que há entre cortes de gastos e a queda do juro real.”

Política externa

Discrição foi a principal característica que distinguiu a condução da política externa no governo Dilma em comparação com a de seu antecessor. “A figura que Lula criou tinha um forte capital político internacional. Muitos assuntos deram repercussão internacional ao Brasil, e tudo era centrado no Lula. Foi uma era de megalomania na política externa brasileira”, avalia Cortez.

Dilma, por sua vez, optou por uma postura mais desenvolvimentista, atrelando a política econômica à política externa. O que se viu foi uma maior rigidez na defesa dos interesses comerciais do país, principalmente nas discussões envolvendo a Organização Mundial do Comércio (OMC) e a guerra cambial.

A vantagem, segundo Cortez, é que o país vai conciliar melhor os interesses econômicos locais com os da política externa. Entretanto, Antônio Santos, da PUC, diz que o protecionismo traz algumas preocupações. “Em um momento de crise, a proteção excessiva se torna uma tendência, uma tentação para os países. O Brasil tem boa economia, deveria ter dado um exemplo melhor ao longo do ano”, diz.

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São Paulo – Dilma Rousseff começou 2011 em Brasília, tomando posse da Presidência da República. Já o fim do ano, a presidente passará em uma praia em Salvador, cidade escolhida para a semana de férias. Entre um momento e outro, um ano movimentado: seis ministros substituídos por denúncias de irregularidades, novos rumos na política internacional, o enfrentamento de uma séria crise econômica mundial, dentre outros acontecimentos. No fim das contas, segundo a avaliação de cientistas políticos, a atuação de Dilma Rousseff ao longo do ano mereceu nota sete.

“Sempre tem o que melhorar. Dilma só não ganha um 10 porque ainda tem cobertor político curto. Ajustes de um lado descobrem outros locais, e ela vai ter que se virar com isso de agora em diante”, diz Antônio Carlos Santos, professor de Ciência Política da PUC São Paulo. Veja abaixo a avaliação feita pelo professor e por Rafael Cortez, cientista político da Tendências Consultoria, dos fatos marcantes no primeiro ano do governo Dilma.

O ano do "malfeito"

Antônio Pallocci (Casa Civil), Alfredo Nascimento (Transportes), Wagner Rossi (Agricultura), Pedro Novais (Turismo), Orlando Silva (Esportes) e Carlos Lupi (Trabalho). Os nomes são de ministros que têm em comum o fato de terem deixado seus cargos ao longo de 2011 por causa de denúncias de irregularidades em suas pastas.

Houve ainda o caso do ministro Nelson Jobim, da Defesa, que pediu demissão em um momento de grande desgaste de sua relação com o governo. Para Rafael Cortez, da Tendências, esta série de “malfeitos” - uma das expressões favoritas de Dilma – e o tratamento que a presidente deu a cada caso tiveram um efeito dúbio.

“Por um lado, ajudou a construir em torno de Dilma um imaginário de baixa tolerância à corrupção, com todo aquele ideal de limpeza, faxina. A história vai mostrar se isto é verdade ou não”, afirmou. O lado negativo da história, na opinião do analista, foi a demora da presidente, em alguns casos, para substituir os ministros.


Ele explica que as trocas prejudicam o bom andamento da máquina gerencial, sobretudo em pastas que recebem muitos recursos do PAC, como é o caso dos Transportes. Quando ocorrem as trocas, os investimentos são congelados, prejudicando o avanço de obras importantes de infraestrutura.

Antônio Carlos Santos, da PUC, lembra que a maioria dos ministros que foram substituídos são heranças que Dilma recebeu do governo Lula. “A presidente, por não ter longa experiência política, herdou pessoas no governo que ela não escolheria.” O problema da corrupção, segundo o professor, é resultado do sistema político de presidencialismo de coalizão. “Este sistema obriga o presidente a se alinhar com partidos de diferentes linhas ideológicas e políticas e o resultado é a corrupção em maior ou menor escala”, afirma.

Surpresas na economia

Em 2011 a União Europeia andou na corda bamba e os efeitos da crise se espalharam pelo mundo. No Brasil, o ano começou na trilha do aperto monetário e do fim dos incentivos ao consumo. Entretanto, no meio do caminho, por causa da depressão na economia mundial, o governo se viu obrigado a mudar o rumo.

“A equipe econômica apostou em políticas que geraram alguma incerteza e surpreenderam os analistas. O governo, muito ancorado no complicado cenário econômico internacional, adotou como ambição reduzir os juros. Esta postura tem efeito na política fiscal. É uma agenda muito difícil”, diz Cortez.

Na opinião do cientista político, entretanto, o governo foi bem sucedido ao adotar uma postura de afrouxamento monetário que poderia sugerir certa politização da autoridade monetária. Entretanto, ele lembra que, para que o governo consiga levar adiante suas metas de redução de juros, é preciso que ele aumente a responsabilidade fiscal.


“Dilma mostrou disposição, visão de mundo, mas resta saber agora o quanto das necessidades fiscais ela vai conseguir atender. Ela se mostrou um pouco mais fiscalista que o Lula, mas não o suficiente para reduzir os juros e garantir um crescimento sustentado acima da média. O governo ainda não consegue enxergar a relação de troca que há entre cortes de gastos e a queda do juro real.”

Política externa

Discrição foi a principal característica que distinguiu a condução da política externa no governo Dilma em comparação com a de seu antecessor. “A figura que Lula criou tinha um forte capital político internacional. Muitos assuntos deram repercussão internacional ao Brasil, e tudo era centrado no Lula. Foi uma era de megalomania na política externa brasileira”, avalia Cortez.

Dilma, por sua vez, optou por uma postura mais desenvolvimentista, atrelando a política econômica à política externa. O que se viu foi uma maior rigidez na defesa dos interesses comerciais do país, principalmente nas discussões envolvendo a Organização Mundial do Comércio (OMC) e a guerra cambial.

A vantagem, segundo Cortez, é que o país vai conciliar melhor os interesses econômicos locais com os da política externa. Entretanto, Antônio Santos, da PUC, diz que o protecionismo traz algumas preocupações. “Em um momento de crise, a proteção excessiva se torna uma tendência, uma tentação para os países. O Brasil tem boa economia, deveria ter dado um exemplo melhor ao longo do ano”, diz.

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