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Difícil justificar estádios da Copa, diz blog de Nate Silver

Artigo publicado no blog do guru norte-americano da estatística Nate Silver mostra que vai ser difícil justificar economicamente a construção dos estádios do mundial


	Torcedores na Arena Amazônia: depois que os turistas se forem, como fica?
 (Bruno Zanardo / Stringer / Getty Images)

Torcedores na Arena Amazônia: depois que os turistas se forem, como fica? (Bruno Zanardo / Stringer / Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 30 de junho de 2014 às 18h41.

São Paulo – Nos próximos quatro anos, cada cidadão que for a um dos estádios brasileiros construídos ou reformados para a Copa do Mundo o fará sob a sombra de 1.088 dólares. Nos Estados Unidos, este valor é de apenas um dólar. Os números foram publicados no blog FiveThirthyEight, do guru norte-americano da estatística, Nate Silver.

Mas o artigo e os cálculos são de Victor Matheson, professor de Economia da College of the Holy Cross e especializado no impacto de megaeventos.

O problema detectado pelo especialista mostra o desafio que o governo e clubes brasileiros terão para tornar as arenas do mundial rentáveis depois de terem colocado mais de 8 bilhões de reais nelas.

“Gastos elevados, combinados com baixo uso criam estádios que são difíceis de justificar do ponto de vista econômico”, afirma o texto publicado no ultimo sábado, em comentário não restrito ao mundial do Brasil.

O especialista fez o seguinte: juntou os números de fãs e torcedores que estádios das Copas receberam - a partir da edição de 1994 - nos quatro anos seguintes ao evento.

Dividiu este número pela capacidade máxima das arenas, criando um Índice de Uso do Estádio (SUI, na sigla em inglês).

E dividiu também o custo de cada uma pelo número de pessoas que passaram por elas, o que deu o Índice do Custo por Fãs (FCI, também em inglês).

Veja os resultados na tabela abaixo, por mundial.

País Custo dos estádios (em milhões) SUI FCI (em dólares)
1994 - Estados Unidos 5 10 1
1998 - França 603 15 95
2002 - Japão 2,9 mil 9 664
2002 - Coreia do Sul 1,6 mil 4 846
2006 - Alemanha 1,9 mil 19 149
2010 - África do Sul 2,1 mil 6 713
2014 - Brasil 3,6 mil 6 1.088

Os números mostram que a Alemanha conseguiu usar bem seus estádios nos anos seguintes (encheu todos eles o equivalente a 19 vezes).

Considerando o custo moderado do mundial francês, o valor por assento nos quatro anos posteriores ficou em apenas 95 dólares.

“A França e a Alemanha também parecem grandes vencedores (ao lado dos EUA) ao minimizar seus gastos em estádios, em primeiro lugar, combinado ao uso intenso das instalações após o evento”, diz o artigo.

A dificuldade do Brasil será exatamente esta: conseguir um uso tão elevado quanto nesses países. Mesmo com concertos de música e outros eventos, esportes é que costumam lotar arenas do tipo com regularidade, defende o economista Matheson no blog.

Em várias cidades-sede isso será um desafio.

Mas o Brasil parte com uma dificuldade extra, que é o alto custo, de 3,6 bilhões de dólares, das 12 arenas. Em valores absolutos, o Mané Garrincha, em Brasília, é o terceiro mais caro do mundo, dentre os espaços construídos depois de 2004.

“Do ponto de vista do desenvolvimento, a única coisa pior do que um estádio caro e com financiamento público, é um estádio vazio, caro e com financiamento público”, alerta o blog.

Esperança
No caso do Brasil, tudo é apenas estimativa, claro, já que ainda estamos em 2014. A conta usou a frequência de ida aos estádios de 2011 ou 2012 e replicou os resultados para quatro anos, mas há vários perigos no método.

Primeiro, as previsões não incluem amistosos internacionais nem concertos de qualquer tipo, estes últimos justamente um dos argumentos das três esferas governamentais quando se trata de defender a parte “multiuso” de cada uma das arenas.

Além disso, há outro fator desconsiderado pela conta apresentada no FiveThirthyEight.

“As novas e brilhantes arenas podem aumentar a participação em partidas de futebol, proporcionando um ambiente mais seguro e mais confortável”, afirma a matéria.

Vale lembrar que nem todos estádios apresentam o mesmo risco.

No Brasil, por exemplo, a situação mais desesperadora é da Amazônia, onde o custo projetado por assento chega a mais de 150 mil dólares. O menor é do Beira-Rio, em Porto Alegre, com 425 dólares, melhor que a média do Japão.

O consolo para o Brasil, ainda de acordo com o texto, é que a Rússia projeta gastar 7 bilhões de dólares em estádios em 2018 e pode, quem sabe, fazer o recorde brasileiro parecer modesto daqui quatro anos.

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