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Diferença na carga de trabalho doméstico entre homens e mulheres aumenta

Desde 2016, quando o IBGE começou a investigar o tema, tempo dedicado por homens à casa se mantém em 11h, mas diferença para as mulheres aumentou

Mulheres: no Brasil, 82,3 milhões de mulheres realizam afazeres domésticos, o que representa 92% da população feminina de 14 anos ou mais. (Germano Lüders/Exame)
AO

Agência O Globo

Publicado em 4 de junho de 2020 às 16h11.

Última atualização em 4 de junho de 2020 às 16h18.

A desigualdade na divisão sexual do trabalho doméstico no Brasil não cai há anos. A jornada da mulher nos serviços feitos em casa é 10h24m superior à do homem por semana, revela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), divulgada nesta quinta-feira pelo IBGE, praticamente o dobro da dos homens.

Desde 2016, quando o IBGE começou a investigar o tema pela nova Pnad, o tempo dedicado pelos homens ao trabalho doméstico se mantém em 11h, mas a diferença para as mulheres aumentou. Era de 9h54m em 2016 e subiu para 10h24m em 2019, último dado disponível.

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A soma do trabalho remunerado com o da casa feminino é maior em três horas à jornada masculina.

No momento em que parte da população está confinada em casa, e o trabalho doméstico e de cuidados com a famiília ganha visibilidade, a tendência é que a desigualdade se agrave. As escolas estão fechadas, o apoio familiar ficou mais raro - já que avós e avôs estão isolados - assim como o profissional, pois muitas babás e empregadas domésticas foram dispensadas.

A coordenadora do curso de graduação de Fisioterapia da UFRJ, Ana Paula Fontana viu o trabalho dobrar ou até triplicar, com dois filhos, um de 9 anos e outra de 6 anos, mais o trabalho doméstico e na universidade:

"A minha carga de trabalho dobrou, triplicou. Fico com o computador ligado, de olho no computador dela, o meu marido acompanha o mais velho, para não sair da atividade. Surge roupa não sabe de onde, numa hora estou passando o aspirador e na outra numa live com os alunos."

Na divisão de trabalho com o marido, a maior parte fica com Ana Paula. Ela faz a faxina e cozinha, e ele faz as compras:

"Mas a limpeza das compras é comigo. Não consegui uma equidade muito boa. Fico mais sobrecarregada."

Segundo a pesquisadora responsável pela pesquisa do IBGE Alessandra Scalloni Brito, a “taxa de realização de serviços domésticos e o tempo dispendido estão estagnados”:

"Não tem mudado ao longo do tempo."

No Brasil, 82,3 milhões de mulheres realizam afazeres domésticos, o que representa 92% da população feminina de 14 anos ou mais. Entre os homens, esse número cai para 63,7 milhões, ou 78,5% deles

"Há muita diferença também entre as tarefas, principalmente em cozinhar, lavar e cuidar das roupas", afirma Alessandra.

Enquanto somente 62% dos homens cozinham e lavam louça, 93,5% das mulheres fazem o serviço. Quem cuida das roupas são elas, 91,2%. Entre eles, a parcela cai para 54,6%. Somente em pequenos reparos, como conserto de eletrodomésticos, carro e casa, os homens são mais presentes.

Outra constatação da pesquisa é que a desigual divisão prevalece mesmo entre os filhos, o que acaba reproduzindo o padrão: 84,8% das filhas e enteadas trabalham em casa, contra 66,5% dos filhos e enteados.

"Essa diferença entre filhos e filhas vai perpetuando esse padrão que se observa inclusive entre os mais jovens", afirma Alessandra.

A socióloga Bila Sorj, da UFRJ, diz que na pandemia essa desigualdade vai crescer. Ela cita pesquisa no Reino Unido indicando aumento do trabalho doméstico para todos, porém mais intensamente para as mulheres:

"Constatou-se que a mulher que trabalha em casa é interrompida a cada uma hora, mas o homem trabalha três horas seguidas sem interrupção."

Segundo a socióloga, os homens têm mais oportunidade de teletrabalho. A mulher está em ocupações presenciais, no setor de serviços, mais precárias e estão sendo demitidas, voltando para casa, enquanto o homem continua no lugar de provedor.

"É um dos espaços sociais mais difíceis de mudar nas relações de gênero. Há uma identificação da casa com o feminino. Os homens demarcam sua diferença se recusando a fazer esse trabalho e se associando ao mundo do trabalho remunerado. Esse lugar muito formador da identidade, da cultura, é muito difícil de mudar."

Para ela, só uma reconfiguração do mercado de trabalho pode mudar essa situação de forma significativa.

"Como fazer que assumam mais tarefas se não se reestrutura o mercado de trabalho que supõe uma mulher na retaguarda, mantendo o homem livre para o mercado."

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