Deputado Cabo Daciolo (PSOL-RJ): ao invés de "Todo o poder emana do povo", Daciolo quer a frase "Todo o poder emana de Deus" na constituição (Reprodução/Câmara dos Deputados)
Da Redação
Publicado em 11 de março de 2015 às 16h36.
Última atualização em 10 de agosto de 2018 às 10h28.
São Paulo - O deputado federal Cabo Daciolo (PSOL-RJ) anunciou na Câmara dos Deputados a apresentação de uma polêmica Proposta de Emenda Constitucional (PEC).
O parlamentar quer trocar a expressão do parágrafo único do Artigo I, item V, da Constituição Federal - "Todo o poder emana do povo"- por outra: "Todo o poder emana de Deus". Bombeiro da reserva (foi líder da greve da corporação de 2011) e evangélico, o parlamentar defendeu a proposição no plenário na terça-feira, 10. Fez um discurso recheado de expressões religiosas, que pode ser visto na página TV Daciolo, no Facebook. O Estado brasileiro é laico (sem religião), segundo a legislação do País, apesar de o texto constitucional invocar "a proteção de Deus".
"Gostaria de deixar bem claro a todos que estamos vivendo uma verdadeira guerra espiritual e que esta guerra espiritual é contra principados e potestados (sic)", discursou na terça. "Alguém pode não entender o que estou falando aqui. Eu queria deixar muito claro a todos e pedir a compreensão e a ajuda de todos os companheiros parlamentares, porque vamos entrar com uma PEC, e essa PEC diz o seguinte: Todo o poder não emana do povo, emana de Deus, que exerce de forma direta e também através do povo. Dessa forma, nós vamos nos tornar uma grande potência. Deus está no controle de todas as coisas, e todos joelhos se dobram a Jesus. Muito obrigado pelo carinho e boa semana a todos. Todo poder emana de Deus!"
Mesmo antes da posse, Daciolo se envolveu em polêmicas. Na cerimônia de diplomação, em dezembro de 2014, posou para fotos com o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), conhecido por posições conservadores, em clima de confraternização que gerou críticas no PSOL. No início do ano, defendeu em vídeo que o ministro da Defesa seja um oficial-general no grau máximo da hierarquia militar - o posto é ocupado por civis desde a criação do órgão, no governo Fernando Henrique Cardoso. Também criticou o tamanho das Forças Armadas brasileiras. Considerou o efetivo, de 300 mil militares, pequeno. Na ocasião, Luiz Araújo, presidente do PSOL, partido de esquerda com posição tradicionalmente antimilitarista, não considerou relevantes as declarações do parlamentar.
Na ocasião, o presidente do PSOL, Luiz Araújo, não considerou relevantes as declarações do parlamentar: foi uma "manifestação pessoal do deputado". Mas as posições do parlamentar começaram a repercutir no PSOL fluminense. Na terça-feira, o vereador Renato Cinco, filiado ao partido, protestou na internet contra o correligionário deputado federal. "Daciolo, pegue seu mandato e saia do PSOL. Seu lugar não é aqui", escreveu.