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Vaza Jato: Deltan recusou prêmio para não se vincular a Bolsonaro

Em 2016, um assessor de imprensa do MPF convenceu o procurador da Lava Jato a não se vincular ao atual presidente da República

Deltan: o prêmio recusado pelo procurador foi o "Liberdade 2016", do Fórum Liberdade e Democracia (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

Deltan: o prêmio recusado pelo procurador foi o "Liberdade 2016", do Fórum Liberdade e Democracia (Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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Clara Cerioni

Publicado em 14 de agosto de 2019 às 12h28.

São Paulo — O procurador da República Deltan Dallagnol recusou receber um prêmio em nome da Lava Jato ao lado do hoje presidente Jair Bolsonaro e "outros radicais de direita", segundo revelam novas mensagens divulgadas nesta quarta-feira (14) pelo UOL, com base em conversas obtidas pelo site The Intercept.

O prêmio foi o "Liberdade 2016", do Fórum Liberdade e Democracia, organizado pelo Instituto de Formação de Líderes de São Paulo, em 22 de outubro daquele ano.

Segundo a reportagem, o objetivo da força-tarefa da operação era evitar se vincular a bandeiras político-ideológicas. O alerta para recusar a participação veio de um assessor de imprensa do Ministério Público Federal, não identificado, no dia 19 de outubro.

"Vc vai mesmo no evento deles neste sábado? com Bolsonaro como palestrante? por favor, repense...", diz o jornalista. Em seguida acrescenta: "tudo o que vc e a FT não precisam é serem 'associados' ao Bolsonaro. é a mesma coisa que receber prêmio do Foro de BSB. estou quase implorando...".

No dia seguinte à conversa, o procurador escreve no grupo "Filhos do Januário 1", que iria cancelar participação no evento "por recomendação da ASCOM após sair a programação do evento, que tem perfil mto de direita, com Jair Bolsonaro como um dos vários palestrantes e com homenagem a um vereador de SP [Fernando Holiday] que foi um dos líderes do impeachment".

Crise com Deltan

As revelações mostram que a Lava Jato resistia a se associar com a extrema direita no Brasil muitos anos antes de Sergio Moro, juiz símbolo da operação, aceitar ser ministro da Justiça do governo Bolsonaro.

Elas também vêm à público em uma semana complicada para Deltan. No fim de semana, a página oficial do presidente Jair Bolsonaro compartilhou um post que chama o procurador de "esquerdista tipo PSOL".

É possível que as novas mensagens aprofundem a tensão entre o governo e a força-tarefa da operação Lava Jato em Curitiba.

Além disso, o procurador está na mira do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP). Na volta do recesso, nesta terça-feira (13), o órgão iniciou uma análise de três ações envolvendo processos disciplinares contra a atuação de Deltan.

Na sessão de ontem, os corregedores decidiram desarquivar uma reclamação disciplinar contra Deltan em razão das mensagens trocadas.

Também negaram um recurso movido por ele mesmo que pedia a suspensão de um processo disciplinar em razão de declarações feitas à rádio CBN no ano passado críticas ao Supremo Tribunal Federal (STF).

Outra decisão envolvendo o procurador determinou o adiamento de um processo movido pelo senador Renan Calheiros (MDB-AL) no CNMP contra a atuação do procurador durante a disputa eleitoral de 2018.

Entenda os vazamentos

Desde o dia 09 de junho, o Intercept vem revelando uma série de conversas privadas que mostram Moro e procuradores, principalmente Deltan Dallagnol, combinando estratégias de investigação e de comunicação com a imprensa no âmbito da Operação Lava Jato.

Segundo as revelações, o ex-juiz sugeriu mudanças nas ordens das operações, antecipou ao menos uma decisão e deu pistas informais de investigações nos casos envolvendo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O site é de Glenn Greenwald, um jornalista americano vencedor do prêmio Pulitzer por ter revelado, em 2013, um sistema de espionagem em massa dos EUA com base em dados vazados por Edward Snowden.

Como as revelações vieram a público por uma reportagem, ainda está em curso uma extensa investigação, conduzida pela Polícia Federal, para confirmar as implicações jurídicas.

O vazamento de informações sigilosas no âmbito da Lava Jato tem sido comum desde o início da operação em 2014.

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