Defesa de João de Deus usa "passado" de vítimas para rebater depoimentos
Segundo a defesa, é preciso analisar "o contexto" das denúncias contra seu cliente para saber se o depoimento de algumas dessas mulheres têm "crédito"
Estadão Conteúdo
Publicado em 17 de dezembro de 2018 às 11h21.
Última atualização em 17 de dezembro de 2018 às 11h22.
Goiânia - O criminalista Alberto Toron, que representa o médium João Teixeira de Faria, o João de Deus , deve fazer um "escrutínio" dos depoimentos das vítimas como parte da estratégia para tirar o crédito de denúncias contra o líder religioso. Segundo Toron, é preciso analisar "o contexto" das denúncias contra seu cliente para saber se o depoimento de algumas dessas mulheres têm "crédito ou não".
O argumento do advogado faz referência, por exemplo, ao depoimento de Zahira Leeneke Maus, uma coreógrafa holandesa que falou ao programa "Conversa com Bial", da TV Globo. Segundo Toron, a vítima teria um passado ligado à prostituição e extorsão.
"Há uma holandesa que foi exibida, salvo erro de memória, no programa do Pedro Bial. Porém esta holandesa, estou recebendo informações já com um dossiê, tem um passado nada recomendável, o que pode descredibilizar (sic) (o depoimento). Quero dizer que ela era uma prostituta e tinha um passado de extorsão", disse.
"A comprovação desses e outros fatos, se pessoas querem se aproveitar para pedir dinheiro ou não, se o passado dela a compromete ou não, tudo isso vai ter que ser analisado corretamente a partir da crítica a esses depoimentos", complementou o defensor.
Toron disse que o problema não seria a vítima ter sido prostituta, mas sim ter praticado extorsão, algo que estaria em um "dossiê" recebido pela defesa. "É óbvio que o fato de a pessoa ter sido prostituta não a descredibiliza, mas é preciso ver o contexto da vida dessa mulher para ver se ela tem crédito ou não. Isso nós não fizemos ainda por absoluta ausência de tempo. Mesmo o depoimento dessa holandesa, nós não tivemos acesso a esse depoimento ainda", afirmou.
Outra vítima cujas acusações foram colocadas em xeque é uma das filhas de João de Deus, que disse ter sido abusada pelo médium ainda quando era criança. Depois que o vídeo ganhou as redes sociais, ela gravou um outro depoimento negando o primeiro, mas, recentemente, disse ter sido coagida a fazê-lo. O criminalista afirmou que a filha tem um passado de "internações" e, justificou, que, por isso, João de Deus aceitou fazer um acordo na Justiça.
"A história é muito diferente. Essa moça (filha de João de Deus) foi internada várias vezes, (o acordo) foi até uma forma de ajudar a filha. E aí se celebrou um acordo no processo civil. Ela fez mais de um vídeo retirando e desmentindo essas acusações e depois voltou à carga. Fica muito difícil compreender o que acontece com ela, ela tem um história de internações também. Não quero nem me aprofundar isso em respeito a ela", afirmou.
O advogado negou que fazer esse tipo de avaliação das denúncias seja jogo sujo. "Jogo sujo é alguém acusar falsamente outra pessoa de uma prática tão grave, o que estou querendo dizer, sem jogo sujo, é que nós precisamos fazer um escrutínio calmo para não linchar uma pessoa sem direito de defesa", rebateu. "Soa estranho que uma mulher que se diz violentada volte (atrás) uma duas, três, oito vezes, Isso precisa ser escrutinado, não se trata de fazer jogo sujo", finalizou.