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Com muitos pedidos de resposta e bate-boca, debate em SP é marcado por agressividade

Candidatos à prefeitura de São Paulo se envolvem em ataques e discussões pessoais no debate da TV Gazeta e UOL após "cadeirada" de Datena em Marçal no encontro anterior

Debate: confronto entre os candidatos é marcado por pedidos de direito de resposta  (REDETV/Divulgação)

Debate: confronto entre os candidatos é marcado por pedidos de direito de resposta (REDETV/Divulgação)

Publicado em 17 de setembro de 2024 às 11h23.

Última atualização em 17 de setembro de 2024 às 12h39.

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O sexto debate entre os candidatos à prefeitura da cidade de São Paulo, organizado e transmitido pela TV Gazeta e o UOL nesta terça-feira, 17, começou no mesmo nível em que o anterior terminou: com os participantes trocando acusações, xingamentos e sem nenhuma discussão de proposta. O resultado foi uma "chuva" de pedidos de direitos de resposta no primeiro bloco, com pelo menos nove solicitações, além de bate-boca entre os candidatos.

No primeiro bloco, os candidatos fizeram perguntas uns aos outros. O deputado Guilherme Boulos (PSOL) iniciou a rodada relembrando a agressão de José Luiz Datena (PSDB) ao influenciador Pablo Marçal (PSOL) e disse que o eleitorado não "merecia esse nível de debate".

Outros candidatos também classificaram o episódio como "lamentável", mas reforçaram que as provocações ultrapassaram os limites.

Datena usou seu tempo para afirmar que não estava feliz com o ocorrido no último encontro, mas que foi ensinado desde criança a "defender a honra da minha família", mas que não "bateria em um covarde duas vezes", se referindo a Marçal.

Marçal, em seguida, declarou que sofreu uma "tentativa de homicídio", pediu perdão à deputada Tabata Amaral (PSB) por declarações envolvendo o pai da candidata e iniciou uma discussão com o atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), após afirmar que prenderia o emedebista. Os dois candidatos iniciaram um bate-boca, e a mediadora do debate, a jornalista Amanda Klein, advertiu ambos e ameaçou suspender o programa caso continuassem com o comportamento.

Nunes e Boulos trocaram ataques novamente, assim como no último debate, quando o atual prefeito abordou a opinião do candidato do PSOL sobre políticas de drogas. Tabata e Marina Helena também tiveram um confronto tenso, quando a candidata do Novo acusou a deputada de utilizar jatinhos para visitar seu namorado, o prefeito de Recife, João Campos (PSB). Tabata negou as acusações e afirmou que Marina estava "delirando".

A sequência de ofensas e discussões pessoais ofuscaram completamente qualquer debate relevante de propostas durante o evento.

Segundo bloco: menos tensão, mais propostas

No segundo bloco, os jornalistas direcionaram perguntas aos candidatos sobre temas de interesse da cidade, como mobilidade, assistência social e governabilidade, o que melhorou o nível do embate.

O repórter Willian Kury, da RedeTV!, fez a primeira pergunta para Marina Helena sobre a proposta de tarifa flexível no transporte público, que, segundo especialistas, pode prejudicar os que moram mais longe, que costumam ser os mais pobres.

A candidata do Novo contestou a pergunta, negando que a proposta esteja em seu plano. Segundo ela, a tarifa flexível será aplicada nos horários de pico e reduzida nos horários fora de pico, como ocorre em Santiago, no Chile. O plano principal para a mobilidade, segundo Marina Helena, será o desenvolvimento das periferias.

A jornalista do UOL, Raquel Landim, em seguida, relembrou Datena sobre as conversas para ser vice de Tabata Amaral, que agora está à frente dele nas pesquisas. O apresentador afirmou que não houve traição em se lançar candidato, explicando que as conversas com a campanha do PSB foram feitas por seu partido, e não por ele. “Foi uma honra o convite e, se ela está à frente, é mérito dela”, declarou Datena.

O terceiro a responder foi Guilherme Boulos, questionado por Stella Freitas, da RedeTV!, sobre seu trabalho como relator no Conselho de Ética da Câmara no caso do deputado federal André Janones (Avante-MG). Janones foi investigado por um suposto esquema de "rachadinha", mas o caso foi arquivado pelo colegiado. O deputado do PSOL afirmou que aplicou a mesma jurisprudência que é utilizada pelo Conselho de Ética e que foi usada no caso de parlamentares bolsonaristas acusados pelos eventos de 8 de janeiro.

"Rachadinha para mim é crime, seja do Janones, Flávio Bolsonaro ou do prefeito", disse Boulos. "Qualquer secretário meu que fizer mal feito será demitido", afirmou, prometendo uma controladoria municipal também mais forte.

Marçal foi questionado por Thais Bilenk do UOL sobre sua declaração de que o Bolsa Família seria "Bolsa Miséria". "Ninguém prospera com um Bolsa Família", disse ele, acusando a esquerda de "limitar a mentalidade de um povo" e prometer que fará as famílias "prosperarem" sem detalhar como.

O atual prefeito também precisou responder sobre a denúncia de que sua gestão negligenciou o acesso das pessoas mais pobres ao Cadastro Único, que não puderam acessar a programas sociais, como o Bolsa Família. Nunes afirmou que o governo está promovendo mutirões aos domingos, quando ocorre a taifa zero no transporte público, e defendeu a criação de postos de atendimento para o cadastramento, como os Descomplicas. Segundo ele, há 32 na cidade.

Última a responder, Tabata foi questionada por Thiago Herdy sobre o porquê o campo progressista deveria escolher sua candidatura em uma eleição polarizada. A deputada federal justificou com base na pesquisa AtlasIntel que aponta que ela derrotaria todos os adversários no segundo turno.

Tabata também afirmou que tem um time de centro-esquerda a centro-direita e cultuou os oponentes, ao apontar que conseguirá dialogar com o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e "sem redes sociais", em referência ao trio que lidera as pesquisas formado por Nunes, Boulos e Marçal.

Clima de confronto retorna com foco em propostas

O novo bloco de perguntas entre candidatos retomou o clima bélico, mas com um tom mais voltado para as propostas. Pelo menos mais quatro pedidos de direito de resposta foram solicitados pelos participantes.

Ricardo Nunes iniciou o bloco perguntando a José Luiz Datena o que ele achava sobre os programas de seu governo. Datena respondeu que o que é bom “será mantido”, mas questionou o prefeito sobre as investigações de envolvimento do PCC com empresas de ônibus. Nunes afirmou que sua gestão investiga e pune o crime organizado.

Na sua vez de perguntar, Pablo Marçal questionou Guilherme Boulos sobre a depredação ao prédio da Fiesp, ocorrida em 2016. O deputado disse que o influenciador mente e preferiu focar na apresentação de propostas ao invés de discutir com Marçal.

Em seguida, Boulos questionou Nunes sobre a liberação de um terreno da prefeitura para a construção de um centro oncológico, cuja verba foi liberada pelo governo federal. O deputado afirmou que o atual prefeito não dialoga com a gestão Lula por questões ideológicas. Nunes respondeu que a informação não é verdadeira e que a prefeitura já liberou o terreno.

O bloco, apesar das acusações, mostrou um avanço em relação à apresentação de propostas importantes para a cidade de São Paulo.

Quarto bloco: promessas sem profundidade

O quarto bloco abriu com mais um direito de resposta, desta vez para Ricardo Nunes, contestando a acusação de Pablo Marçal de que sua esposa teria dito ser casada com um bandido. “O que ele cita é uma matéria de uma situação que aconteceu há, sei lá, 10 anos, sobre uma vaga em condomínio. Não foi a fala dela, mas de uma pessoa da garagem”, afirmou o candidato à reeleição.

Logo em seguida, Nunes foi questionado sobre o uso de obras emergenciais sem licitação. Uma reportagem do UOL revelou que, em sua gestão, essas obras custaram R$ 5 bilhões, sendo que 87% desse valor foi gasto em 223 contratos com indícios de combinação de preços, envolvendo até um compadre do prefeito.

O emedebista rebateu as acusações, afirmando que a matéria aponta uma combinação de preços entre as empresas e que o município está investigando a denúncia. Nunes também defendeu que, por parte de sua gestão, “o que tem é a entrega de 8,4 mil obras”.

Tabata Amaral foi questionada sobre o motivo de sua candidatura não ter decolado e de não ter conseguido formar grandes alianças. A deputada do PSB defendeu que sua trajetória política é marcada pela coerência e que ela é penalizada pelos dois extremos por essa postura. “Eu tenho uma visão de mundo que concilia uma visão social forte e uma visão fiscal de responsabilidade, e se isso vai render críticas na Faria Lima e na esquerda sectária, eu vou seguir adiante”, afirmou.

A candidata do PSB voltou a afirmar que conseguirá trabalhar tanto com Lula quanto com Tarcísio de Freitas, e que pretende trazer as boas ideias de ambos os lados do espectro político. Já Guilherme Boulos foi provocado sobre estar atrás nas intenções de voto na periferia paulistana. Segundo o último Datafolha, o candidato do PSOL tem 21% das intenções de voto, contra 27% de Nunes, e está atrás de Lula, que venceu na capital em 2022.

Sem responder diretamente sobre o porquê de o eleitorado de baixa renda não estar com ele, o deputado afirmou que sua candidatura tem crescido nas periferias, destacando sua trajetória no movimento social. “No movimento, eu entreguei mais de 15 mil moradias sem caneta, e com a caneta vamos fazer muito mais pelas periferias”, afirmou Boulos.

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