Publicado em 14 de outubro de 2024 às 23h56.
Última atualização em 15 de outubro de 2024 às 00h27.
O primeiro debate entre o atual prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) teve como tema central o apagão que atingiu a cidade de São Paulo na última sexta-feira, 11, deixando mais de 2 milhões de pessoas sem energia elétrica. A concessão da Enel também foi um ponto-chave no debate. Nesta segunda-feira, cerca de 338 mil imóveis ainda estão sem energia elétrica.
Apesar da troca de acusações, o embate do segundo turno foi mais civilizado em comparação aos encontros do primeiro turno, que tiveram cadeirada e troca de socos entre membros das campanhas.
Na primeira parte do debate, ambos os candidatos responderam à mesma pergunta sobre a atuação da prefeitura na poda de árvores e no combate às enchentes. Boulos iniciou sua fala afirmando que ficou sem luz em casa e prometeu que, a partir de 1º de janeiro, se eleito, irá “tirar a Enel da cidade de São Paulo”.
O deputado também criticou Nunes, alegando que a prefeitura não cumpriu o básico da zeladoria urbana, e que a maior parte das quedas de energia foi causada por árvores que caíram. Ele se comprometeu a trazer inovação e monitoramento via satélite para melhorar o trabalho de poda de árvores e o atendimento da população pelo telefone 156.
Por sua vez, Nunes argumentou que as mudanças climáticas estão impactando o mundo inteiro e que sua gestão criou a Secretaria de Mudanças Climáticas. O prefeito demonstrou solidariedade com os moradores ainda sem energia e afirmou ser “inaceitável o que a Enel está fazendo com a cidade”.
Nunes também destacou que sua gestão já abriu três ações judiciais contra a Enel e que ele foi a Brasília para pedir a suspensão do contrato com a empresa, reunindo-se com o presidente da Aneel para tratar do tema. O prefeito culpou o governo federal pela situação e criticou sua falta de ação.
Durante o confronto direto, que teve 12 minutos de duração, o apagão e a concessão da Enel dominaram as discussões. Boulos responsabilizou Nunes pela crise energética, enquanto o prefeito devolveu as críticas, afirmando que o governo federal, aliado de Boulos, não fez nada para alterar a lei de concessão.
O debate manteve-se acalorado, mas sem incidentes físicos. Nunes reiterou que Boulos não fez o necessário como deputado para mudar a legislação. Boulos, por sua vez, defendeu que a administração municipal falhou em garantir a manutenção adequada da cidade, o que agravou o impacto do apagão.
Boulos tentou colocar Nunes na defensiva em toda oportunidade que teve de fala. O psolista questinou o atual prefeito sobre a poda de árvores e da gestão de semáforo. Nunes respondeu em mais de uma oportunidade que sua gestão fez o que pode para tratar de todas as questões.
No fim do primeiro bloco, Boulos questionou Nunes sobre a investigação da Polícia Federal sobre a chamada "máfia das creches" e perguntou se o atual prefeito recebeu cheques de dinheiro desviado.
Nunes negou as acusações, enquanto Boulos questionou se o atual prefeito abriria o seu sigilo bancário para mostrar que não tem nada a perder.
O segundo bloco, com perguntas dos jornalistas, foi aberto com o tema das pessoas em situação de rua, que somam 80 mil, segundo dados da prefeitura.
Boulos prometeu resolver o problema da população em situação de rua e afirmou que sua atuação no Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST) o qualifica para tratar do tema da moradia. O deputado também defendeu políticas para que as pessoas em situação de rua tenham um salário próprio para sair dessa condição.
Nunes mencionou a criação de 29,4 mil vagas em abrigos e destacou que sua gestão apresenta ações concretas, e não apenas ideias. O prefeito defendeu a continuidade da Vila Reencontro, com casas de 18 metros quadrados, além de hotéis e programas de profissionalização.
Boulos rebateu, afirmando que o maior legado de Nunes será dobrar o número de pessoas em situação de rua na capital: “Ele só agravou o problema. Políticas insuficientes e que não tocaram questões elementares”.
Outro tema abordado foi a segurança pública e a Cracolândia. Nunes comentou sobre a operação que fechou hotéis na região por tráfico de drogas. O prefeito defendeu a ação conjunta da prefeitura, do Ministério Público e do governo do Estado como uma medida de tolerância zero contra o crime.
Boulos acusou Nunes de viver em uma “cidade de fantasia” e criticou a redução do efetivo da Guarda Civil Metropolitana (GCM). Também questionou o adversário sobre a segurança de andar com celular pelas ruas. Nunes afirmou que Boulos não tinha propriedade para tratar do tema.
Na discussão sobre motoristas de aplicativo, Boulos prometeu acabar com o rodízio para esses profissionais, mas admitiu não ter estudos sobre o impacto da medida, afirmando que sua gestão produziria tais levantamentos após a liberação. O deputado também mencionou a criação de bases de apoio para taxistas e motoristas de aplicativos.
Nunes respondeu que a proposta de Boulos demonstrava “desespero” diante das pesquisas eleitorais, que colocam o atual prefeito na frente. Boulos rebateu, classificando a resposta do prefeito como “arrogante” e o questionou sobre uma suposta ligação com Marcola, chefe da organização criminosa PCC. Nunes pediu direito de resposta, mas foi negado.
Nunes foi questionado sobre a não entrega dos 40 quilômetros de corredores de ônibus prometidos. Em resposta, defendeu-se destacando as obras realizadas por sua gestão. Boulos classificou essas obras como eleitoreiras e prometeu novos projetos na zona Sul (M’Boi Mirim e Grajaú) e na zona Leste.
O bloco foi marcado por trocas de acusações: Boulos citou reportagens que acusam a atual gestão de entregar dinheiro a um cunhado de Marcola, enquanto Nunes acusou o adversário de ter fugido do oficial de Justiça por seis anos.
O encerramento trouxe um momento inusitado: os dois adversários se abraçaram em meio às acusações. Boulos se aproximou do prefeito, desconcertando-o. “Estamos bem?”, perguntaram um ao outro. Ao final, Nunes declarou que não se deixaria intimidar pelo adversário.
Nos bastidores, durante o intervalo, a equipe de Nunes questionou a organização do debate sobre a aproximação de Boulos, alegando que o candidato do PSOL teria violado as regras do evento.
No terceiro bloco, os candidatos voltaram a ter um embate direto, com um banco de tempo de 12 minutos para cada um. O tema central no início desse bloco foi a saúde.
Boulos questionou Nunes sobre a oferta de medicamentos nos postos de saúde. O atual prefeito afirmou que a população pode encontrar os remédios em todos os postos. No entanto, Boulos contestou essa afirmação, dizendo que “a cidade que o emedebista pinta não existe”. O deputado também voltou a sugerir que Nunes abra seu sigilo bancário para provar que não deve nada.
Quando Boulos questionou o prefeito sobre o atendimento a pacientes com câncer, Nunes chamou o deputado de “desinformado”. O prefeito explicou que, embora o tratamento de câncer não seja uma responsabilidade direta do município, a prefeitura possui convênios para garantir o atendimento da população. Nunes ainda perguntou se Boulos era a favor ou contra a manutenção desses convênios.
O debate seguiu com troca de acusações e provocações entre os candidatos. Nunes afirmou que o PSOL, partido de Boulos, defende o aumento de impostos e votou contra um projeto de redução tributária. O prefeito fez referência a Marta Suplicy, candidata a vice na chapa de Boulos, mencionando que o entorno do deputado é associado a um apelido relacionado a taxa.
Boulos rebateu, afirmando que, se o assunto fosse partido, ele poderia apontar diversos problemas no MDB, partido de Nunes, que estaria envolvido em escândalos de corrupção em outras cidades e também na capital, mencionando a máfia das creches.
O deputado se mostrou incisivo nos ataques, enquanto Nunes se defendeu repetidamente, classificando Boulos como um extremista.