De Lula a João de Deus, as prisões que sacudiram o Brasil em 2018
Durante o ano, grandes personagens da política e da sociedade brasileira foram parar atrás das grades; relembre
Clara Cerioni
Publicado em 23 de dezembro de 2018 às 08h00.
Última atualização em 23 de dezembro de 2018 às 08h00.
São Paulo— O ano de 2018 ficará marcado na história do Brasil como um dos mais conturbados na arena política após o período pós-redemocratização iniciado em 1985.
Grandes nomes da cena nacional foram detidos , caciques políticos entraram na mira de investigações, como o tucano Aécio Neves, e outros perderam o foro privilegiado após não conseguirem se eleger em outubro.
A investida da Operação Lava Jato para investigar casos de corrupção envolvendo políticos e autoridades, principalmente no estado do Rio de Janeiro, também ganhou destaque. Uma das operações culminou na prisão do atual governador, Luiz Fernando Pezão, em novembro.
Meses antes, em abril, a prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva , na época líder nas pesquisas de intenção de voto para as eleições deste ano, mexeu com a opinião pública.
E agora, no meio de dezembro, a revelação do escândalo sexual envolvendo o médium João de Deus ganhou repercussão nacional. Até agora, esse é considerado o maior caso conhecido de abuso contra mulheres no país.
Veja quais foram os casos mais emblemáticos:
Lula —7 de abril
Condenado por duas instâncias da Justiça brasileira por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex no Guarujá (SP), o ex-presidente está detido na sede da Polícia Federal, em Curitiba, desde 7 de abril.
A ordem de prisão foi decretada por Sérgio Moro, então juiz federal e futuro ministro do governo Bolsonaro.
O petista foi preso em São Bernardo do Campo, na sede do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em meio a grande comoção de seus apoiadores, que tentaram diversas vezes impedir que ele se entregasse à polícia.
Hoje, o ex-presidente cumpriu oito meses do total de 12 anos e 1 mês da pena definida pela 8ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). Além desse caso, o ex-presidente é réu em mais 8 ações penais, que ainda não foram concluídas.
Sua condenação ainda é questionada por sua defesa, que durante esse período entrou no Supremo Tribunal Federal com pedidos de habeas corpus, alegando que Lula é um "preso político" e que "não há provas concretas contra ele". Até agora, todos os pedidos foram negados.
Luiz Fernando Pezão— 29 de novembro
Neste ano, a força-tarefa da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro deflagrou uma série de operações de combate à corrupção no Estado. No fim de novembro, o alvo foi o atual governador, Luiz Fernando Pezão.
Primeiro chefe do executivo do Rio a ser preso exercendo mandato, Pezão foi detido após revelações da delação de Carlos Miranda, que foi operador financeiro do ex-governador Sérgio Cabral.
Cabral está preso desde novembro de 2016 e tem condenações que somam quase 200 anos de prisão. Pezão foi o seu vice por dois mandatos, assumiu o governo quando Cabral renunciou e foi então eleito.
Segundo Miranda, conhecido por ser o “homem da mala” de Cabral, Pezão recebia 150 mil reais de mesada. Ele também chegou a receber dois bônus de 1 milhão de reais cada e um décimo terceiro salário.
Sua defesa entrou com pedido de habeas corpus no STF, questionando a legalidade de sua prisão, mas o ministro Alexandre de Moraes negou a solicitação.
João de Deus— 16 de dezembro
Protagonista do maior escândalo de abuso sexual no Brasil, o médium João Teixeira de Faria, conhecido como João de Deus, foi preso na semana passada, acusado de violentar mais de 330 mulheres — incluindo sua filha.
A onda de denúncias foi disparada após 13 mulheres relatarem os abusos no Programa do Bial no começo do mês, mas sua prisão só foi decretada pela Justiça de Goiás, onde o médium atua, após ele ter movimentado 35 milhões de reais de suas contas bancárias.
Segundo o Ministério Público do estado, que investiga os abusos, o dinheiro poderia ser usado para uma eventual fuga ou para o pagamento de eventuais indenizações às vítimas.
Carlos Ghosn— 19 de novembro
O empresário brasileiro Carlos Ghosn chefiava a Nissan Motors quando foi preso em novembro acusado de ocultação de pagamentos milionários e irregularidades fiscais.
O executo foi detido em Tóquio e ainda não há previsão de que ele seja solto.Ele foi demitido da empresa, que já conduzia uma investigação interna nos últimos meses para investigar sua conduta.
A repercussão de sua detenção derrubou as ações da Renault na bolsa de Paris.Ghosn liderou a aliança Renault-Nissan-Mitsubishi até o topo da indústria automotiva mundial.
Adélio Bispo— 6 de setembro
Adélio Bispo foi o responsável pelo ataque a faca no futuro presidente, Jair Bolsonaro, quando ele ainda estava em campanha eleitoral em Juiz de Fora (MG).
Preso no próprio dia do atentado, Bispo alegou, ao prestar depoimento à polícia, que agiu motivado por “questões pessoais”.
Investigação da Polícia Federal concluiu que o agressor agiu sozinho no ataque, sem ajuda de terceiros. Segundo o inquérito, suamotivação foi por discordâncias que tinha em relação às propostas políticas de Bolsonaro.
José Yunes e Coronel Lima— 29 de março
Conhecidos como amigos de Temer, o advogado José Yunes,ex-assessor especial do Planalto,e o Coronel Lima foram presos em março no inquérito dos portos.
Ambos tiveram seus sigilos bancários quebrados pelo ministro do STF Luís Roberto Barroso na mesma decisão em que foi decretada a quebra do sigilo de Temer. Lima foi apontado como operador de propinas do atual presidente.
O mesmo ministro, no entanto, mandou soltá-los alguns dias depois, em primeiro de abril, alegando que a detenção era preventiva.
Nesta quarta-feira (19), a PGR (Procuradoria-Geral da República) denunciou o presidente Michel Temer (MDB) no caso dos portos.
Dr. Bumbum— 19 de julho
O cirurgião plástico Denis Furtado, conhecido como Dr. Bumbum e que tinha na época quase 650 mil seguidores no Instagram, foi preso no Rio de Janeiro, .
A prisão ocorreu após um de suas pacientes, a bancária Lilian Calixto, falecer horas após ter passado por um procedimento estético em um apartamento na Barra da Tijuca.
O profissional, de 45 anos, e sua mãe, Maria de Fátima Barros Furtado, 66, foram indiciados por homicídio doloso e associação criminosa.
Em agosto, a justiça decretou sua prisão preventiva para "evitar que outros crimes fossem cometidos". Sua mãe foi solta.
Marconi Perillo— 10 de outubro
Investigado por pagamento de propina, o ex-governador de Goiás foi detido enquanto prestava depoimento na Superintendência da PF do estado.A detenção do tucano, contudo, durou apenas um dia. Em 11 de outubro, a Justiça mandou soltá-lo.
Ex-governador e ex-senador, Perillo foi denunciado na Operação Cash Delivery por suspeita de envolvimento no pagamento de propina a servidores públicos do estado, lavagem de dinheiro e associação criminosa.
Segundo delações de executivos da construtora Odebrecht, o político recebeu cerca de R$ 12 milhões em recursos ilegais entre 2010 e 2014 para favorecer a empresa em contratos.
Beto Richa— 11 de setembro
O ex-governador do Paraná foi preso no âmbito de uma investigação do Ministério Público do Paraná sobre o programa Patrulha Rural, implantado para ampliar o policiamento em áreas rurais com viaturas 4×4.
As investigações apuraram a existência de um suposto pagamento milionário de vantagem indevida em 2014, quando Richa era o chefe do executivo do Estado, pelo Setor de Operações Estruturadas do Grupo Odebrecht.
O objetivo do dinheiro, segundo o MP, era direcionar o processo licitatório para investimento na duplicação, manutenção e operação da rodovia estadual PR-323 na modalidade parceria público-privada.
Eduardo Azeredo— 23 de maio
Ex-governador de Minas Gerais, Eduardo Azeredo foi o primeiro preso envolvido no esquema do mensalão tucano.
Ele se entregou em maio, para começar o cumprimento de pena de 20 anos e um mês de prisão por peculato (desvio de dinheiro público) e lavagem de dinheiro.
Sua prisão ocorreu20 anos após os fatos que motivaram as acusaçõese 11 anos após a denúncia.
Deputados da Alerj— 8 de novembro
A Operação Lava Jato no Rio de Janeiro prendeu, de uma vez, dez deputados da Assembleia Legislativa do Rio envolvidos em esquemas de corrupção,durante o segundo mandato do ex-governador, Sérgio Cabral.
São eles: André Correa (DEM); Chiquinho da Mangueira (PSC); Coronel Jairo (SD); Edson Albertassi (MDB); Jorge Picciani (MDB); Luiz Martins (PDT); Marcelo Simão (PP); Marcos Abrahão (Avante); Marcus Vinicius “Neskau” (PTB); Paulo Melo (MDB).
De acordo com as investigações, o grupo recebia propinas mensais para favorecer os interesses dos envolvidos.
Eles também são acusados de lavagem de dinheiro, loteamento de cargos públicos e mão de obra terceirizada, principalmente, no Detran-RJ.
A operação, batizada de Operação Furna da Onça, é a mesma que prendeu Pezão. Todos seguem presos.