Datafolha admite imprecisão em pesquisa sobre Temer
"Dados seriam imprecisos sem a informação de que as opções de resposta estavam limitadas a apenas duas" disse Luciana Schong, do Datafolha
Da Redação
Publicado em 20 de julho de 2016 às 19h30.
Depois de questionado pelo site independente de notícias Intercept, sobre os dados de pesquisa do Instituto Datafolha , divulgada pelo jornal Folha de S.Paulo, no último fim de semana, sobre a preferência do brasileiro em relação à permanência de Michel Temer ou a volta de Dilma Rousseff , o Instituto Datafolha admitiu imprecisão na análise dos dados.
O site diz que o jornal cometeu uma “fraude jornalística”.
“Ontem [19], os dados completos e as perguntas complementares [da pequisa] foram divulgados. Tornou-se evidente que, seja por desonestidade ou incompetência extrema, a Folha cometeu uma fraude jornalística.
Apenas 3% dos entrevistados disseram que desejavam a realização de novas eleições, e apenas 4% disseram que não queriam nem Temer nem Dilma como presidentes, porque nenhuma dessas opções de resposta encontrava-se disponível na pesquisa”, diz o texto dos jornalistas.
Em entrevista ao Intercept, Luciana Schong, do Datafolha, disse que "qualquer análise desses dados que alegue que 50% dos brasileiros querem Temer como presidente seriam imprecisos, sem a informação de que as opções de resposta estavam limitadas a apenas duas."
Luciana afirmou à agência de notícias que foi a Folha, e não o instituto de pesquisa, quem estabeleceu as perguntas a serem feitas aos entrevistas e reconheceu "o aspecto enganoso na afirmação de que 3% dos brasileiros querem novas eleições", “já que essa pergunta não foi feita aos entrevistados”.
A pesquisa foi divulgada no sábado (16) na Folha Online e no domingo (17) no jornal Folha de S.Paulo. A agência de notícias Intercept foi lançada em 2014 pelos jornalistas Glenn Greenwald, Laura Poitras and Jeremy Scahill.
Greenwald foi o jornalista que, em parceria com Edward Snowden revelou a existência dos programas secretos de vigilância dos Estados Unidos, executados pela Agência de Segurança Nacional (NSA).
A pesquisa, segundo tabela divulgada pelo jornalista norte-americano Alex Cuadros, fez a seguinte pergunta aos entrevistados: “Na sua opinião, o que seria melhor para o país?
Que Dilma voltasse à presidência ou que Michel Temer continuasse no mandato até 2018”. Pela tabela, as informações dão conta de que 50% dos entrevistados querem que Temer continue na Presidência até 2018. E 32% dos entrevistados preferem que Dilma volte ao Palácio do Planalto. Os 18% restantes não escolheram nenhum dos dois, disseram não saber ou que preferiam novas eleições.
A Intercept observa que a Folha de S.Paulo não divulgou as perguntas realizadas, nem os dados de suporte, impossibilitando, assim, segundo o site, a verificação dos fatos que sustentam as afirmações.
A matéria da Folha afirma que 3% dos entrevistados disseram que desejavam novas eleições, e 4% que não queriam nem Temer nem Dilma como presidentes, porque nenhuma dessas opções de resposta encontrava-se disponível na pesquisa.
Dessa forma, o site avalia como incorreta a afirmação de que 3% dos brasileiros acreditam que “novas eleições são o melhor para o país”, pois a pesquisa não colocou essa pergunta aos entrevistados.
Sendo uma pergunta binária, a Intercept avalia que, ao perguntar se Temer fica quando a única opção restante é Dilma ficar, é “incorreto dizer que 50% dos brasileiros acreditam que a permanência de Temer seja melhor para o país” até o fim do mandato de Dilma. Só é possível afirmar que 50% da população deseja a permanência de Temer se a única outra opção for o retorno de Dilma.”
O site entrevistou a professora de ciência política da Unicamp Andréa Freitas, para quem: “como as novas eleições são uma opção viável, deveriam ter sido incluídas como uma das opções”.
O site lembra ainda que a possibilidade novas eleições foram aventadas tanto em pesquisa anterior do instituto, de 9 de abril, como por várias personalidades políticas, como Marina Silva.
Na pesquisa da Datafolha de abril, feita antes da análise do processo de impeachment pela Câmara dos Deputados, 60% da população apoiavam o impeachment, enquanto 58% eram favoráveis ao impeachment de Temer.
A sondagem também mostrou que 60% dos entrevistados queriam a renúncia de Temer após o impeachment de Dilma, e 79% defendiam novas eleições após a saída de ambos. CNI/Ibope
Pesquisa CNI/Ibope, publicada pela Agência Brasil no dia 1º de julho, indicou que o governo Michel Temer foi considerado ruim ou péssimo por 39% da população.
O percentual de pessoas que consideravam o governo de Michel Temer ótimo ou bom foi então de 13%, contra 10% de Dilma. Já os que avaliaram o governo Temer como regular foram 36%.
Em março, 19% disseram que o governo de Dilma era regular. Na última pesquisa CNI/Ibope que avaliou o governo de Dilma, em março deste ano, 69% dos entrevistados consideraram o governo da petista ruim ou péssimo.
A Agência Brasil fez contato com o Instituto Datafolha e o jornal Folha de S.Paulo, mas ainda não obteve resposta.
O que diz o pedido?
Dilma cometeu crime de responsabilidade ao permitir as chamadas pedaladas fiscais. A equipe do governo teria atrasado repasses a bancos públicos, que tiveram que usar recursos próprios para o pagamento de benefícios sociais como o Bolsa Família. A ação, de acordo com os juristas responsáveis pelo pedido, configura uma violação da Lei de Responsabilidade Fiscal, que não permite que o governo tome “empréstimos” para financiar suas atividades. "Pedaladas foram um expediente malicioso, em que foi escondido o déficit fiscal, tranformando despesa em superávit primário. Isso é crime”, disse Miguel Reale Jr. em apresentação na Comissão Especial. "Pedaladas podem ter ocorrido em outros governos, mas foi neste que atingiram patamares exorbitantes." Outro ponto apontado pelos autores do pedido é que Dilma errou ao não registrar os passivos decorrentes das operações de crédito realizadas. “Quando se fazem os empréstimos proibidos e, além disso, não se contabiliza [as operações de crédito] se impede que um investidor, alguma autoridade aponte isso. A não contabilização das pedaladas fiscais é um plus, um algo a mais, que torna o quadro mais grave”, disse Janaina.O que diz a defesa?
As chamadas pedaladas fiscais são subvenções econômicas -- permitidas por lei -- e não operações de crédito. “Não há transferência de dinheiro do Banco do Brasil para a União”, diz o documento. De acordo com a defesa, o que houve foi um atraso nos pagamentos, sendo que as dívidas decorreram do acúmulo de saldos devidos. “Basta pensar no absurdo que seria dizer que a União celebrou uma operação de crédito com o fornecedor de material de papelaria porque não honrou o seu dever de pagar determinada quantia em dinheiro pela aquisição de borrachas, canetas e resmas de papel”.O que diz o pedido?
O governo editou decretos não numerados abrindo créditos suplementares depois de notar que a meta de superávit primária prevista na na Lei de Diretrizes Orçamentária não seria cumprida. A edição dos decretos foi feita sem a autorização do Congresso Nacional e não poderia acontecer se fossem incompatíveis com as metas estabelecidas. A prática, de acordo com os autores do pedido, ocorreu não apenas em 2014, mas continuou em 2015. "Foram alardeados superávits e metas fiscais e, quando se percebe que a situação não ia se configurar, tenta alterar. Nesse período, os projetos foram aprovados na calada da noite para corrigir a situação”, disse Janaína Pascoal, em apresentação na Comissão Especial.O que diz a defesa?
Os decretos para a abertura de créditos suplementares não implicaram em gastos excessivos e não provocaram o desequilíbrio financeiro do país. Os créditos suplementares são permitidos por lei e são “apenas espécies de ‘freios de rearranjo ou de rearrumação’" para adaptar o planejamento à realidade, ou seja, não modificam o orçamento. Na metáfora usada por Cardozo, é como mudar a lista de compras da feira sem modificar o valor que deve ser gasto ali. Sobre a forma como os créditos foram abertos — sem o envio de um projeto de lei — , a defesa alega que houve “expressa autorização legal”. Para a defesa, mesmo que a abertura dos créditos fosse ilegal, não houve dolo de Dilma (necessário para caracterizar um crime de responsabilidade), uma vez que mais de 20 técnicos participam do circuito de análise de um decreto de crédito.Pedido de Impeachment Hélio Bicudo/Reale Júnior by Rita Azevedo Defesa
Defesa Dilma Rousseff by Valéria Bretas window.onload = function(){window.parent.CKEDITOR._["contentDomReadypicture_body"]( window );}window.onload = function(){window.parent.CKEDITOR._["contentDomReadypicture_body"]( window );}