Datafolha: 66% dos brasileiros são contrários ao PL antiaborto
Urgência da medida foi aprovada na Câmara dos Deputados no último dia 12
Agência de notícias
Publicado em 21 de junho de 2024 às 06h47.
Última atualização em 21 de junho de 2024 às 06h53.
O projeto de lei em tramitação na Câmara dos Deputados queequipara o aborto após a 22ª semana de gestação ao crime de homicídio, inclusive em caso de estupro, é rejeitado por 66% dos brasileiros.É o que aponta pesquisa Datafolha divulgada na quinta-feira, 20. Outros 29% dos entrevistados são favoráveis à proposta, 2% responderam ser indiferentes e 4% não sabem.
A pesquisa aponta que69% das mulheres e 62% dos homens afirmam ser contra o PL 1.904, do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), enquanto34% dos homens e 25% das mulheres apoiaram a iniciativa.A urgência da medida foi aprovada a toque de caixa na quarta-feira passada, 12, na Casa Legislativa.
O Datafolha ouviu 2.021 pessoas de idades a partir de 16 anos em 115 municípios do Brasil nos dias 17, 18 e 19 de junho.A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos.
Em um recorte religioso, 68% dos entrevistados católicos se posicionaram contra o PL, ao mesmo passo que57% dos evangélicos disseram rejeitar o projeto. Por outro lado,aprovam a iniciativa sobre o aborto 37% dos evangélicos e 28% dos católicos.
Acesso à informação
Cerca de um quarto dos brasileiros (24%) responderam estar bem informados sobre o PL, enquanto 27% disseram estar "mais ou menos" a par das notícias e 5% afirmaram estar mal informados.
Os entrevistas pelo Datafolha com 25 a 34 anos (28%) apontaram estar mais bem informados sobre o projeto, enquanto os de 60 anos ou mais (7%), como mais mal informados. Entre os sexos, os homens (25%) dizem estar mais bem informados sobre o PL do que as mulheres (24%).
Católicos e evangélicos, por sua vez, possuem o mesmo percentual quando questionados se estão bem informados em relação à iniciativa (22%). Já entre os que se consideram mal informados, católicos são 6% e evangélicos, 3%.
A pesquisa aponta, entretanto, que menos de 10% dos brasileiros diz que o aborto deve ser permitido em qualquer caso.
Continuar como é hoje - 34%
Ser permitido em mais situações - 17%
Ser permitido em qualquer situação - 7%
Ser totalmente proibido em qualquer situação - 38%
Ser permitido em certas situações (sem especificação) - 1%
Outras respostas - 1%
Não sabe - 2%
O que é a PL 1.904/2024?
O Projeto de Lei nº 1.904/2024fixa em 22 semanas de gestação o prazo máximo para abortos legais. Atualmente, não há no Código Penal um prazo máximo para o aborto legal. No Brasil, oaborto é permitido por lei em casos de estupro; de risco de vida à mulher e de anencefalia fetal (quando não há formação do cérebro do feto). No entanto, a realização do aborto após as 22 semanas de gestação implica a utilização de uma técnica chamada assistolia fetal, que gera grande polêmica no país.
Quem é o autor da PL do aborto?
Autor do PL do Aborto, o deputado federal Sóstenes Cavalcante (PL-RJ)
Qual é o limite máximo para se fazer um aborto?
O método utiliza medicações para interromper os batimentos cardíacos do feto, antes de sua retirada do útero. Ele é recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para os casos de aborto acima de 20 semanas e é considerado essencial para o cuidado adequado ao aborto.
No entanto, em abril, o Conselho Federal de Medicina (CFM) publicou uma resolução proibindo os médicos de realizarem o procedimento. Na prática, isso impedia que a gestação resultante de estupro fosse interrompida nesse período, o que contraria a lei brasileira, que não estabelece limite máximo para o procedimento.
A resolução foi suspensa pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Mas, na mesma data, o projeto que fixa em 22 semanas de gestação o prazo máximo para abortos legais.
Aborto é proibido no Brasil?
Atualmente, o aborto é proibido no Brasil, exceto nos casos de aborto legal citados acima. Para quem comete esse crime, o código penal prevê detenção de um a três anos para a mulher que aborta; reclusão de um a quatro anos para o médico ou outra pessoa que provoque aborto com o consentimento da gestante; e reclusão de três a 10 anos para quem provoque aborto sem o consentimento da gestante.
Caso o projeto seja aprovado pelos parlamentares, o aborto realizado após 22 semanas de gestação será punido com reclusão de seis a 20 anos em todos esses casos e também no caso de gravidez resultante de estupro. A pena é a mesma prevista para o homicídio simples e pode fazer com que a vítima do estupro tenha uma pena maior que a de seu agressor. Quando a vítima é uma adulta, o crime de estupro no Brasil tem uma pena máxima de dez anos.
Avaliação de casos individualmente
De acordo com o projeto de lei, o juiz poderá mitigar a pena, conforme as circunstâncias individuais de cada caso, ou poderá até mesmo deixar de aplicá-la, se as consequências da infração atingirem o próprio agente de forma tão grave que a sanção penal se torne desnecessária.