Deltan Dallagnol: procurador afirma que mensagens foram obtidas de forma ilegal e questiona, mais uma vez, a veracidade dos conteúdos (Reprodução/Agência Câmara)
Da Redação
Publicado em 8 de julho de 2019 às 18h59.
Última atualização em 8 de julho de 2019 às 19h25.
Chefe da força-tarefa da Lava-Jato, Deltan Dallagnol, enviou comunicado ao Senado e à Câmara nesta segunda-feira, 8, informando que não irá ao Congresso amanhã para falar sobre as mensagens vazadas do seu aplicativo Telegram. Após a primeira publicação das mensagens pelo site The Intercept Brasil no dia 9 de junho, o procurador foi convidado pelo deputado Rogério Correa (PT-MG) a comparecer na Comissão de Direitos Humanos da Câmara para explicar o teor das supostas conversas que teve com o ex-juiz Sergio Moro durante o andamento da operação.
Em ofício enviado aos deputados, o procurador avisa que não irá à audiência por preferir manter suas manifestações políticas “na esfera técnica”. “Embora tenha sincero respeito e profundo apreço pelo papel do Congresso Nacional nos debates de natureza política que realiza e agradeça o convite para neles participar, acredito ser importante concentrar na esfera técnica minhas manifestações”, escreve o procurador.
No texto, Deltan reafirma seu posicionamento sobre as mensagens publicadas pela imprensa terem sido obtidas de forma ilegal e questiona, mais uma vez, a veracidade e autenticidade dos conteúdos. Por fim, ele afirma que o conteúdo vem sendo usado “para atacar a Operação Lava Jato”.
O presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara, Helder Salomão (PT-ES), disse ser “lamentável” a decisão de Dallagnol de recusar o convite para se pronunciar sobre a suposta troca de mensagens com Moro, atual ministro da Justiça. “É um sinal muito ruim. Estranhamos esse argumento de que ele responde por questões técnicas apenas. Foi uma decisão política dele. É um servidor público e deve explicações à sociedade”, disse Helder a VEJA.
O posicionamento de Dallagnol destoa do de Moro, que foi ao Congresso duas vezes prestar esclarecimentos. No dia 19 de junho, dez dias após a primeira publicação, o ministro da Justiça foi à audiência na Comissão de Cidadania e Justiça do Senado responder a questionamentos dos senadores. Na data, ele criticou o site Intercept pela divulgação das conversas e alegou não se lembrar se mandou ou não as mensagens, já que teria desinstalado o aplicativo em 2017.
Na semana passada, no dia 2 de julho, em ambiente menos amigável, Moro foi à Câmara dos Deputados, onde ficou por oito horas, saindo somente no final da noite, aos gritos de “fujão”, após o deputado Glauber Braga (PSOL-RJ) ter dito que “a história não absolverá” e que ele será lembrado “pelos livros de história como o juiz que se corrompeu, como um juiz ladrão”.
Na outra ponta do escândalo, o jornalista norte-americano Glenn Greenwald, editor do Intercept Brasil, também foi à Câmara no dia 25 de junho, sob convite dos deputados Camilo Capiberibe (PSB-AP), Carlos Veras (PT-PE), Márcio Jerry (PCdoB-MA) e Túlio Gadelha (PDT-PE). Na ocasião, ele criticou a reação do ministro. “Moro não está defendendo o comportamento que ele teve, porque é impossível ele defender. Ele está fazendo algo diferente, uma tática muito cínica, ele está tentando enganar o público, dizendo que o material é falso”, afirmou.
Na próxima quinta-feira, 11, Greenwald será ouvido pela CCJ do Senado.