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Dallagnol é punido com advertência após críticas a ministros do STF

Procurador da República ainda responde a outros dois procedimentos disciplinares que constam na pauta de julgamentos do CNMP desta terça-feira (26)

Deltan Dallagnol: Conselho Nacional do Ministério Público decidiu, hoje (26), por 8 votos a 3, punir o procurador da República (Ueslei Marcelino/Reuters)

Deltan Dallagnol: Conselho Nacional do Ministério Público decidiu, hoje (26), por 8 votos a 3, punir o procurador da República (Ueslei Marcelino/Reuters)

AB

Agência Brasil

Publicado em 26 de novembro de 2019 às 11h40.

Última atualização em 26 de novembro de 2019 às 16h57.

Brasília e São Paulo - O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) decidiu nesta terça-feira (26), por 8 votos a 3, punir o procurador da República e coordenador da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, Deltan Dallagnol, com uma advertência.

O processo é relativo a uma entrevista à rádio CBN na qual ele criticou o Supremo Tribunal Federal (STF), ao afirmar que três ministros do Supremo formam "uma panelinha" e passam para a sociedade uma mensagem de leniência com a corrupção.

Trata-se da primeira punição disciplinar da carreira de Dallagnol. A advertência é a pena mais branda entre as sanções que o CNMP, responsável por fiscalizar a conduta de membros do MP, pode aplicar.

Ela fica registrada na ficha funcional do procurador, servindo como uma espécie de mancha no currículo e prejudicando a promoção.

Dallagnol ainda responde a outros dois procedimentos disciplinares que constam na pauta de julgamentos do CNMP desta terça-feira (26), um aberto por iniciativa do senador Renan Calheiros (MDB-AL) e outro pela senadora Kátia Abreu (PDT-TO).

Se Deltan for punido com advertência em outros casos, isso pode levar a uma punição maior no futuro - a censura.

Julgamento

Dallagnol foi punido no processo administrativo disciplinar (PAD) aberto em abril a pedido do presidente do STF, ministro Dias Toffolli.

O procurador fez uma crítica à decisão em que a Segunda Turma do STF retirou trechos da delação da Odebrecht das mãos do então juiz federal e hoje ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.

"Agora o que é triste ver (...) é o fato de que o Supremo, mesmo já conhecendo o sistema e lembrar que a decisão foi 3 a 1, os três mesmos de sempre do Supremo Tribunal Federal que tiram tudo de Curitiba e que mandam tudo para a Justiça Eleitoral e que dão sempre os habeas corpus, que estão sempre formando uma panelinha assim que manda uma mensagem muito forte de leniência a favor da corrupção", disse Deltan na ocasião, em referência aos ministros Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowski e Toffoli.

Para o relator do caso, conselheiro Luiz Fernando Bandeira de Mello, a fala do procurador configura ataque deliberado e gratuito a integrantes do Poder Judiciário, constituindo violação a direito relativo à integridade moral.

"A alusão de que os ministros da panelinha mandam uma mensagem muito forte de leniência a favor da corrupção demonstra ausência de zelo pelo prestígio de suas funções, pois deixou de tratar com urbanidade Ministros da Suprema Corte, deixando de guardar decoro pessoal e praticando conduta incompatível com o exercício do cargo ocupado", afirmou o relator.

"É um excelente procurador da República, e é bem verdade que o trabalho que ele faz revolucionou o Judiciário, revolucionou a sociedade, revolucionou a quadratura atual em que nós vivemos, mas é necessário registrar que esta atuação não pode servir como um salvo conduto para ele manifestar o que desejar, do modo como desejar, como vinha fazendo de modo excessivo", disse Bandeira.

O relator foi acompanhado pelos conselheiros Otávio Rodrigues, Sandra Krieger, Fernanda Marinella, Valter Shuenquener, Luciano Maia, Sebastião Caixeta e Rinaldo Reis, que é o corregedor nacional do MP. Divergiram o vice-procurador-geral da República, José Bonifácio de Andrada, e os conselheiros Silvio Amorim e Oswaldo D'Albuquerque.

Defesa

Sua defesa alega que ele apenas exerceu sua liberdade de expressão e não incorreu em nenhuma falta disciplinar. O advogado Francisco Rezek, ex-ministro do STF, disse durante o julgamento que os termos utilizados por Dallagnol foram de fato "inadequados, deselegantes", mas que de forma alguma ele havia violado seu decoro funcional.

Rezek pediu aos conselheiros que observassem o princípio da proporcionalidade no caso, pois embora as palavras de Dallagnol tenham sido "infelizes", elas parecem brandas quando confrontadas com as manifestações de outras autoridades.

"Dos três lados da Praça dos Três Poderes, tudo o que temos ouvido é o desregramento verbal, é a falta de padrões de continência", disse Rezek, afirmando que o Brasil se tornou "uma República de boquirrotos".

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