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Cristovam Buarque diz que avalia deixar a vida pública

Senador foi preterido como candidato à Presidência pelo PPS por uma aliança do partido com o PSDB

Cristovam Buarque: senador também não descarta concorrer à reeleição (Roque de Sá/Agência Senado/Agência Senado)

Cristovam Buarque: senador também não descarta concorrer à reeleição (Roque de Sá/Agência Senado/Agência Senado)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 26 de março de 2018 às 22h45.

O senador Cristovam Buarque (PPS-DF) avalia deixar a vida pública. O parlamentar tinha intenção de sair candidato ao Planalto nas próximas eleições, mas foi preterido no seu partido por uma aliança com o PSDB, cujo pré-candidato é o governador paulista Geraldo Alckmin.

Em entrevista ao Estadão/Broadcast, Cristovam, que já foi governador do Distrito Federal, ministro da Educação e candidato à Presidência, disse que pode também tentar a reeleição. Ele termina em 2018 seu segundo mandato no Senado, mas adverte que o País caminha para uma eleição "irracional" e que há outras formas de fazer política, fora dos cargos eletivos.

Ele faz críticas a Geraldo Alckmin, com quem o partido começou conversas para uma coligação. "Eu temo que o Alckmin tenha uma visão muito paulista do Brasil", diz. Além disso, o senador afirma que a intenção do presidente Michel Temer em ser candidato à reeleição é uma "irresponsabilidade" com o País. "A partir de agora, o Temer é meio presidente porque a outra metade é candidato."

Para Cristovam, o risco na eleição deste ano é que Ciro Gomes (PDT) e Jair Bolsonaro (PSL), chamados por ele de "extremos", estejam no segundo turno.

Confira os principais trechos da entrevista:

Estadão/Broadcast: Qual é sua definição para as eleições deste ano?

Cristovam Buarque: Eu tentei ser candidato a presidente pelo PPS, mas o presidente Roberto Freire não quer ter candidato próprio. Ontem, no congresso nacional do partido, foi aprovada uma indicação de diálogo com o Alckmin para tentar uma candidatura de centro que evite os extremos chegarem ao segundo turno, no caso o Ciro e o Bolsonaro. Mas o PPS não quer apoiar o Alckmin se ele não demonstrar que o seu programa, além de ser centro, traz esperanças novas para o Brasil. Qual é a proposta dele para a educação nacional? Eu pessoalmente temo que o Alckmin tenha uma visão muito paulista do Brasil.

Estadão/Broadcast: O que significa isso?

Cristovam: A insistência dele que a educação é uma questão municipal, e não nacional, é porque em São Paulo os municípios são ricos. No Brasil, se deixarmos nas mãos dos municípios, a educação vai continuar paupérrima. Nesse diálogo com o Alckmin, precisamos ver até que ponto ele se decide a nacionalizar a questão da educação.

Estadão/Broadcast: O senhor falará com ele?

Cristovam: As conversas do PPS com o Alckmin vão começar, e eu vou participar. Se o PPS não me colocar na conversa diretamente, eu vou participar indiretamente.

Estadão/Broadcast: Quando o partido deixou claro para o senhor que não lançaria sua pré-candidatura?BuarqueCristovam Buarque

Cristovam: O presidente não falou para mim, mas negociou alternativas. Tentou o Luciano Huck, que não deu certo, e aí canalizou-se para o Alckmin. Desde o começo, a ideia era ter uma candidatura própria, e o congresso aprovou a ideia de diálogo com o Alckmin sem ao menos discutir candidatura própria. Seria bom o partido ter um candidato, levar as suas ideias para o povo. Roberto Freire teme que se pulverizem muitas candidaturas e os extremos chegarem ao segundo turno, no caso Ciro e Bolsonaro.

Estadão/Broadcast: Ciro e Bolsonaro são os extremos? E o PT?

Cristovam: Não vejo o PT com chance a não ser o Lula. Eu pessoalmente acho que a chapa será Ciro com o PT. Para mim será uma surpresa o PT sair com candidato próprio não sendo o Lula. Quando o Ciro foi para o PDT, acho que havia um acordo: se o Lula for candidato, o Ciro é o vice; se o Lula não for candidato, o PT indica o vice. O que me preocupa não é que sejam extremos, é que são extremos atrasados. Bolsonaro tem a nostalgia da ditadura. O Ciro e o PT têm a nostalgia da economia dos anos 1950, não perceberam ainda que a globalização limita as possibilidades da economia nacional se não for integrada. Eles não perceberam que a justiça social se faz com aquilo que a economia cria, e por isso a economia precisa ser eficiente.

Estadão/Broadcast: O senhor votou pelo impeachment de Dilma Rousseff. Como avalia a intenção do presidente Michel Temer de concorrer à reeleição?

Cristovam: Eu acho uma inconsequência com o Brasil porque isso vai jogar a economia em uma crise profunda, ainda mais que o Meirelles sai do Ministério da Fazenda para ser candidato também. A economia vai ficar entregue ao deus-dará. Ele vai ser candidato contra o presidente da Câmara [Rodrigo Maia-DEM], que é quem vota os projetos para a economia funcionar bem. E nem falo do ponto de vista que ele [Temer] não tem a menor chance. Ao ser candidato à reeleição, ele já não é tão presidente. A partir de agora, o Temer é meio presidente porque a outra metade é candidato. É uma inconsequência total, uma irresponsabilidade com o País.

Estadão/Broadcast: O senhor então vai tentar o Senado novamente?

Cristovam: Se eu for candidato, é ao Senado. Mas hoje eu estou refletindo se neste quadro que está aí se justifica ou não ser candidato. Por um lado, não ser candidato neste clima, sobretudo nos próximos quatro anos, pode ser entendido como um descuido com o País, que precisa de quadros com experiência. Por outro lado, tenho dúvidas se vamos ser capazes de pôr racionalidade no processo da campanha e no processo político depois. A política ficou muito irracional.

Estadão/Broadcast: O senhor vai deixar de concorrer a cargos públicos?

Cristovam: Tem muitas maneiras de fazer política. Você não cumpre um papel social só no Congresso, tem muitas maneiras, como escritor, como conferencista. Eu estou refletindo ainda.

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