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Crise política é sobre dinheiro, diz presidente do Ipea

Na avaliação de Souza, uma elite econômica formada por poucas famílias deseja se valer de mecanismos oficiais


	Jessé Souza: na avaliação de Souza, uma elite econômica formada por poucas famílias deseja se valer de mecanismos oficiais
 (Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil)

Jessé Souza: na avaliação de Souza, uma elite econômica formada por poucas famílias deseja se valer de mecanismos oficiais (Fabio Rodrigues Pozzebom / Agência Brasil)

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Da Redação

Publicado em 6 de abril de 2016 às 12h00.

Brasília - A crise política enfrentada no momento pelo Brasil é induzida por uma seleta elite econômica que busca – por meio da compra de outras elites, de parte dos políticos e da mídia – demonizar a política e o Estado, com o objetivo de tornar invisível sua própria corrupção, segundo análise feita pelo presidente do Instituto de Pesquisa Econômicas e Aplicadas (Ipea), Jessé Souza, em entrevista ao programa Espaço Público, da TV Brasil.

“Por que se demoniza o Estado? Porque tem os únicos cargos que em alguns momentos da história do Brasil se revelaram não compráveis”, disse o sociólogo. "A crise política que estamos vivenciando agora é uma crise sobre dinheiro", afirmou. 

Para Souza, autor de A Tolice da Inteligência Brasileira (Casa da Palavra, 2015), entre outras dezenas de livros, tal padrão de comportamento remonta ao passado escravocrata brasileiro, mas com o advento recente de “uma tropa de choque, para dar uma aparência de apoio popular, que é a extrema direita da classe média”. 

Levada por um preconceito classista oriundo do medo de uma competição vinda de baixo, essa fração mais conservadora da classe média encontraria vazão para seus temores em discursos de combate à corrupção aparentemente racionais, contudo seletivos: tal bandeira seria acionada sempre que surgisse, por meio do voto, alguma liderança capaz de conferir representação política às classes mais populares, que foram categorizadas na obra de Souza como a “ralé”, diferenciada dos “batalhadores” e da “elite”.  

“O tema da corrupção é posto de modo muito vago e impreciso para que possa ser usado quando for preciso”, disse Souza. Se a pauta principal da atual crise política “fosse o combate à corrupção, a gente não estaria fulanizando pessoas nem partidos, a gente estaria montando racionalmente uma nova estrutura para repensar o Estado e as relações do Estado com a economia. A grande ameaça a uma sociedade democrática é ela ser comprada pelo dinheiro, esse é o ponto, nenhum outro.”

Jogo do dinheiro

Na avaliação de Souza, uma elite econômica formada por poucas famílias deseja se valer de mecanismos oficiais e de mercado para se apropriar do orçamento do Estado e drenar para seus bolsos os recursos de toda a sociedade, visando o lucro selvagem imediato e desprezando as reflexões sobre como garantir a reprodução de tais riquezas a médio e longo prazo.

Para cumprir tal programa, essa elite exerceu seu poder econômico sobre as ciências sociais, para a construção de uma ideologia que demoniza o Estado, e também sobre a mídia, responsável por convencer a classe média através do discurso vago sobre a corrupção. 

“A gente precisa saber que a ciência social brasileira montou um esquema liberal, de ataque ao Estado, um Estado que seria patrimonialista, que existiria uma elite dentro do Estado, que iria vampirizá-lo. Por quê? Porque se você diz que o mau está dentro do Estado, você torna invisível a real elite, a do dinheiro, que está fora do Estado”, disse o sociólogo.

"Ninguém sabe o que é corrupção. Será que não são as taxas de juros que temos no Brasil, que são as maiores do mundo e representam uma drenagem gigantesca do produto do trabalho das pessoas para o bolso de meia dúzia? Isso é corrupção?", indagou.

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