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Crianças ajudam Chapecó a retomar a vida após tragédia

A volta das crianças às aulas em Chapecó deve ajudar a normalizar o ritmo de vida na cidade, paralisada pela morte de grande parte da equipe de futebol

Crianças: levar os filhos para a escola tem ajudado os pais a superar o luto e retomar as atividades (Paulo Whitaker)

Crianças: levar os filhos para a escola tem ajudado os pais a superar o luto e retomar as atividades (Paulo Whitaker)

EC

Estadão Conteúdo

Publicado em 2 de dezembro de 2016 às 13h32.

Chapecó - Na manhã desta quinta-feira, já era possível ver crianças andando pelas ruas de Chapecó com mochilas nas costas ou cadernos debaixo do braço.

Na maioria das vezes, acompanhadas pelos pais. Mas também não era raro ver um ou outro estudante caminhando sozinho - e vestindo uniforme que não era o escolar, e sim a camisa da Chapecoense.

Com a volta às aulas, imagina-se que a cidade comece a recuperar o seu ritmo habitual. O esforço parece ter se iniciado, justamente, pelas crianças.

"Não foi fácil tirá-lo da cama. Explicar que apesar de tudo era preciso ir para a escola. Tentei falar que seria legal encontrar os amigos, conversar com eles... Acho que a convivência escolar vai ter um papel importante na recuperação da alegria das nossas crianças", disse a dona de casa Izelda Bonassi, 42 anos, mãe de Bernardo, 6 anos.

O movimento de "normalização" da vida começou com esse ritual de levar as crianças para a escola. Extraoficialmente, diretores de colégios da região falam em uma retomada de 50% dos alunos.

"Acho que ainda é cedo. Não é preciso forçar nada. Na próxima semana, as crianças vão voltar, vão se sentir mais animadas para retomar a rotina", diz a assessora de direção do colégio Bom Pastor, Janis Fátima de Giachin.

"Na terça da tragédia, a gente deu o sinal e quase nenhum aluno entrou nas salas de aula. Muitos se abraçavam e choravam."

Janis conta que as escolas da região já estão preparadas e contando com o apoio de psicólogos para acompanhar as crianças que estiverem mais abaladas.

"A Chapecoense era um time muito jovem. Nossas crianças se identificavam muito com eles. Muitos tinham algum contato. Ou eram vizinhos ou já tinham visto algum dos atletas pela cidade. Também não é difícil ver crianças com camisas autografadas pelos atletas que morreram no acidente", comenta.

Na volta às aulas do colégio Bom Pastor, a direção organizou um pequeno evento de boas-vindas. Na parte da manhã, alunos se reuniram no saguão para cantar algumas músicas (como o hino da Chapecoense) e fazer uma oração silenciosa. Muitos estudantes estavam vestidos com o uniforme do time.

No período da tarde, a ação aconteceu nas salas de aula. As crianças também fizeram oração e puderam contar o que estavam sentindo em relação a tudo o que estava acontecendo na cidade.

"Fui em um dos últimos jogos e sai do estádio comemorando. Quando soube do avião, comecei a chorar", conta Hugo, 10 anos.

"Meu irmão mora do lado da casa do goleiro Danilo. Ele era um amigo da família", revelou Katlin, de 10 anos. Os relatos mostram como os jogadores da Chape eram parte do cotidiano dessas crianças.

"O Kempes (atacante) mora no prédio da minha tia", fala Letícia, também de 10 anos. "Eu já entrei com o Kempes em campo. Também conheço os filhos do Neto e do Anderson Paixão", afirma Gabriel, de 10 anos. "Meu pai viajava para ver vários jogos. Quando soube do acidente, vi meu pai chorando", relata Ana, que tem nove anos.

Um dos alunos chegou a emocionar a professora a contar que conhecia o atacante Bruno Rangel, antes de ele chegar a Chapecoense.

Ao ser questionado sobre como conhecia o jogador, Felipe, de 9 anos, explicou: "Minha mãe conta que quando estava grávida de mim, encontrou o Bruno Rangel em um restaurante. Ela disse que ele passou a mão na barriga dela. Eu não lembro, mas ela me contou que a gente se conheceu".

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